Benguela - Prazeres Germano Monteiro, um quadro da polícia económica, que dirigiu várias operações que resultaram na prisão de alguns dirigentes benguelenses, foi há dias transferido para Luanda, aparentemente, por se ter revelado num obstáculo aos «apetites» de um sector da governação local, que, há já algum tempo, vinha-se revelando incomodado com a actuação do policial. Com a sua transferência, teme-se que os processos judiciais por si desencadeados venham a ser arquivado por quem o substituir.

Fonte: SA

O Sub-inspector Prazeres Germano Monteiro, responsável por diversas investigações a esquemas de corrupção e delapidação do erário público em Benguela, foi recentemente afastado da chefia do Departamento de Fiscalização e Delitos Financeiros da Direcção Provincial da Polícia Económica.

Competente e descrito como um homem discreto, ele foi o principal rosto da investigação que levou à prisão vários governantes benguelenses, entre os quais o antigo director provincial da Saúde, António Bento, o ex-administrador municipal de Benguela, Manuel Francisco, e o antigo director do Urbanismo e Habitação, Zacarias Camwenho, só para citar estes.

Segundo uma fonte do Semanário Angolense, o futuro deste «super-polícia» é incógnito, sabendo-se apenas que ele foi colocado provisoriamente no sector alfandegário (polícia fiscal) do Comando Geral da corporação em Luanda, havendo informações de que poderá vir a chefiar o departamento de finanças da Direcção Nacional da chamada Polícia Económica.

Durante a sua estada em Benguela, o sub-inspector Prazeres Monteiro chefiou varias operações policiais que desarticularam diversos esquemas de sobrefacturação e descaminhos de dinheiros públicos.

Uma das mais produtivas foi a que desmantelou um esquema tenebroso na direcção provincial da Saúde, com oito suspeitos. Entre eles estavam o titular da pasta, António Bento, o director dos Recursos Humanos, Mateus Quessongo, e o chefe da repartição municipal do Lobito, José Borges. Os três viriam a ser postos em liberdade provisória por ordem do Tribunal Supremo, que diferiu um recurso (habeas corpus) interposto pelos advogados da antiga direcção provincial da Saúde. Estranhamente (e sem qualquer entendimento jurídico plausível), o processo seria arquivado pelo Tribunal Provincial de Benguela.

Em 2013, Prazeres Monteiro desmantelou uma rede composta por «gente graúda» afecta à Direcção Provincial da Educação, que tinha como principal tarefa aumentar de forma ilícita os salários de centenas de professores, assim como a introdução de funcionários fantasmas no sistema de processamento dos saldos, com benefícios para os integrantes do esquema.

A descoberta do esquema resultara na detenção de quase uma dezena de dirigentes da Educação, entre eles o então chefe de Secção de Processamento de Salários da sede do Governo Provincial de Benguela, Samuel Zacarias Gomes, mais conhecido por «Samy».

O secretário do Governo de Benguela, Fernando Dias Cangato, estaria indiciado no referido processo como declarante, mas correndo sérios riscos de vir a transitar para arguido, em função dos dados a seu desfavor que foram surgindo à medida que a investigação avançava.

O sub-inspector Prazeres Monteiro conduziu, ainda em 2013, um inquérito que levou, em Abril deste ano, à detenção de um dos homens mais «endinheirados» de Benguela. O antigo director provincial do Urbanismo e Habitação, o arquitecto Zacarias Camwenho, indiciado no crime de peculato, traduzido em sobrefacturações dos custos de serviços na área do saneamento básico. Neste processo, Zacarias Camwenho era o rosto mais visível de uma rede que serviu interesses de figuras de peso na governação do general Armando da Cruz Neto.

No princípio deste ano, o actual porta-voz do Comité Provincial do MPLA, David Luciano Nahenda, foi indiciado num processo-crime, instaurado pelo ministério público, sob a acusação de peculato, ao cabo de uma investigação também dirigida pelo nosso «super-polícia», para não variar.

Num recuo ao ano de 2010, em colaboração com os serviços de inteligência locais e a Inspecção das Finanças, o sub-inspector Prazeres Monteiro teria também as suas decisivas «impressões digitais» na operação que levou ao desmantelamento de uma das maiores rede de desvio de fundos públicos, que açambarcou, impiedosamente, os cofres da Empresa de Aguas e Saneamento de Benguela e Lobito (EASBL). O ex-coordenador da comissão de gestão desta empresa, Francisco Vieira Paulo, o «Chiquinho», é para as autoridades judiciais o cérebro da operação fraudulenta que lesou o Estado em vários milhões de dólares.

Curiosamente, tal como no caso da Educação, o secretario do Governo, Dias Cangato, aparece igualmente neste processo como um dos implicados. José Manuel Lucombo, antigo administrador do município de Benguela, foi também arrolado no processo.

Se recuarmos ainda mais, pelo menos até 2009, a história obrigar-nos-ia a uma passagem pelo mediatizado «Caso Jardim Milionário». Aqui, numa acção conjunta com técnicos do Tribunal de Contas, o então responsável do Departamento de Fiscalização e Delitos Financeiros da Polícia Económica descobriu como o antigo administrador municipal de Benguela, Manuel Francisco, aplicara mais de um milhão de dólares para reabilitar num jardim de cinquenta metros quadrados. A investigação detectou graves irregularidades na gestão dos recursos da municipalidade, o que resultaria na prisão do então edil benguelense.

Estes são alguns dos crimes de «colarinho branco» esclarecidos pelo sub-inspector Prazeres Monteiro, agora transferido para exercer funções meramente administrativas em Luanda, o que não deixa de ser algo incompreensível. E estranho. Muito estranho mesmo.