Caros angolanos
Minhas senhoras e meus senhores

Chamo-me Fernando d. Camuaso Segundo, sou jornalista angolano baseado no Brasil. Natural de Luanda, e pai de um filho brasileiro, ceguei aos 4 anos de idade em decorrência do sarampo. Nada vejo e de nada me lembro antes dos 4 anos. Jovem batalhador, proveniente de uma família humilde, venho conquistado, com o apoio de instituições especializadas no Brasil minha independência como ser humano.

Camuaso Segundo.jpg - 18.03 KBEnfrento todos os revezes em meio aos grandes desafios que almejo em minha vida profissional, entre eles o preconceito, desprezo e discriminação por ser cego, mas nada disso conseguiu destruir meu carisma e bom humor.

Caros angolanos

Sirvo-me ao presente para manifestar minha preocupação e deveras indignação no que concerne ao fato da instituição de estudos INABE ter dado por terminado o subsídio financeiro injustamente, no valor mensal de 500 dólares, sobretudo sem prévia comunicação e aviso antecipado.

Pasmem, meus senhores.

Dentro de um padrão digno e aceitável, 500 dólares configura pouco valor para emigrante proveniente de um país detentor da economia do segundo maior produtor de petróleo na África Subsariana, o sector petrolífero angolano, como um dos motores do crescimento e como fonte geradora de receitas para o Governo Angolano, seguido do diamante. São 2 milhões de barris por dia!

500 dólares por mês para um jovem cego natural de um país onde o PIB sobe consideravelmente, ainda mais quando pagam sempre com muitos atrasos e iregularidades.

Informações apuradas dão conta de que o fim do repasse deve-se ao fato de Camuaso Segundo já ter finalizado a licenciatura, o que portanto corresponde a verdade. Ora muito bem.

De fato já é por demais consabido pelo INABE a conclusão da minha licenciatura em comunicação social, habilitação em jornalismo, através do Chefe do Sector de Apoio aos estudantes junto do Consulado Geral de Angola no Rio de Janeiro Mateus ferreira Almeida Junior, e do então vice-cônsul no Rio de Janeiro, Francisco Leandro Almeida, os quais foram avisados. Aliás, o país assistiu a minha formatura pela televisão pública de angola.

Leandro e Mateus dizem até ao presente que estão a providenciar meu retorno à Angola. Por outro lado, alego categoricamente não regressar ao país sem garantia de condições por parte do governo! Nomeadamente minha reintegração na sociedade angolana pela minha deficiência visual, ou seja, a minha inclusão social, cedência de casa e emprego condigno.

Porém, Não há qualquer tipo de resposta plausível. No que tange a impregabilidade, eu sozinho venho "batendo várias portas"! quer seja conversando por telefone ou pessoalmente com diretores de empresas de comunicação em Angola: nomeadamente Gonçalves Ynhanjika (dr de informação da TPA), Casimiro Puabo (dr adjunto do CEFOJOR), Adalberto Lourenço (dr de informação da RNA), Afonso Quintas (dr da Rádio Luanda), Ernesto Bartolomeu... etc! em síntese, todos só dize-me: "não temos verba para contratar quadros"!

Até para trabalhar como correspondente voluntariamente já ofereci-me. Se fosse parente deles, naturalmente que não precisava nem pedir. Então, se o governo intervisse, talvez a resposta sería diferente. Então, enquanto isto não acontece, prefiro continuar na diáspora a prosseguir os estudos. Em verdade sinto um fraco apoio moral e material do Estado angolano. Sempre foi assim!

Minhas senhoras e meus senhores

Se durante décadas tem havido uma penetração da finança angolana na finança portuguesa em quantidades tremendas, participações muito significativas em bancos, em empresas estratégicas, numa série de atividades com centro em Portugal, de maneira alguma devem cortar bolsa de nenhum estudante que precise, sem que este tenha primeiro regressado à Angola! Se o país está com nível de crescimento elevado como se diz, cortaram-me a bolsa por quê? Ademais, ainda estou no Brasil e dependo da bolsa!

Doravante, se há afinal tanta capacidade de investir em Portugal, por que não investe em Angola e nos quadros angolanos, sobretudo nos mais carenciados? Se há este dinheiro todo, sem que entretanto haja transparência na sua origem, ainda sentem-se no direito de cortar o subsídio de quem muito precisa fora do país, longe da família?

Se angola orgulha-se de ter a mulher mais rica de África e uma das mais ricas do mundo, (dados da revista forbes), devia também sentir-se orgulho de ter patriotas que, apesar das adversidades, não vejam as dificuldades como obstáculos para se alcançar a felicidade! Pelo contrário, façam da dificuldade um novo desafio. apesar da deficiência visual, física, auditiva, etc, não cançam de mostrar seus exemplos e determinação e esforço na superação das limitações. Cego é aquele que não quer ver!

Meus senhores

É inconcebível. Ainda estou no Brasil, mas cortaram-me a bolsa sem aviso prévio. Como caracterizar uma atitude destas? Ao menos que eu não estivesse mais em solo brasileiro, é inaceitável tal procedimento. Isto constitui-se anomalia! afronta! Descaso! Desrespeito!

Sou o único estudante que me foi cortado a bolsa. Eu sou o único estudante cego que nunca precisou do dinheiro do governo angolano para patrocinar a graduação ao longo dos 5 anos, excepto o valor de 500 dólares para despesas pessoais. INABE nunca pagou a faculdade para eu estudar! Estudei gratuitamente graças ao processo celetivo, baseado no excelente histórico escolar que tive. Mas, para despesas cotidianas, infelizmente ainda dependo em grande do dinheiro para vivência e sobrevivência como emigrante no Brasil, assim como sempre foi. Qualquer cidadão comum paga contas, necessito comer, vistir... apoio financeiramente meu filho que é brasileiro e depende da minha presença e assistência.

Nestas circunstância, acreditam mesmo ser prudente cortarem-me o subisídio, entendendo que necessito do mesmo para comer e viver; se preciso do dinheiro para vivência e sobrevivência? (Ninguém vive sem comer! Será que os senhores sabem mesmo disso? De que forma continuo a manter-me e apoiar meu filho? E o bom senso por vossa parte, não existe? Nunca existiu? Por outro lado, nem sequer conversam comigo antes a respeito. Parece que fazem e desfazem na hora e momento em que bem entenderem sem sequer importar-se com o próximo. Isto configura falta de sensibilidade!!! Desafortunadamente. De salientar que este dinheiro não sai de bolso de ninguém!

É caso para dizer que, enquanto o governo angolano não honrar o compromisso de oferecer-me condições dignas e condignas para estar em Angola com residência e trabalho satisfatório por formas a responder as minhas necessidades, como locomoção independente e não só, não irei regredir em Angola! Afirmo e reafirmo: não regresso à Angola nestas condições.

Já que para se ter um excelente emprego em Angola muitas vezes tem que ser filho de gente influente, ter padrinho e indicação de algum nome forte na sociedade, então por isso é que sozinho não consigo nada até hoje! Só mbora filho de pobre. Não sou ninguém. Nasci pobre, morrerei pobre! não faz mal. Mas também não vou bajular ninguém. Antes, preciso estar pelo Brasil a prosseguir pelos estudos!

Naturalmente que não irei à Angola para depender mais dos meus pais para viver. Implica isto dizer que o governo precisa continuar a apoiar financeiramente e custear os estudos! Afinal, se têm dinheiro para investir nas misses e patrocinar casas, carros às gajas, o mínimo que podem fazer e respeitar e prestarem mais atenção na classe dos deficientes fora e dentro do país que rogam por uma oportunidade para dar o seu melhor contributo para o florescimento da nação.

Como se não bastasse, procuro persistentemente conversar com o senhor Mateus Ferreira de Almeida, diretor do Sector de Apoio aos estudantes junto do INABE no Rio de Janeiro, simplesmente não atende as ligações, como se já estivesse inteirado do caso e foge a responsabilidade.

Assim, como conclusão da minha forte indignação, venho chamar a atenção do governo de Angola para ativação da concessão da bolsa mensal com urgência! por favor. Quer seja via INABE, SONANGOL, ou outra instituição. Preciso continuar os estudos.

Enquanto isto não acontece, gostava muito sinceramente contar com a sociedade angolana, se possível, no sentido de contribuir financeiramente para esta causa. Basta transferir qualquer valor via western union para Fernando Domingos Camuaso Segundo, através dos dados:

Agência: 5201-9
Conta Corrente: 1616016-9
Banco do Brasil

Depois é só mandar o código de transferência por sms, whatsapp ou e-mail.

Sinceros agradecimentos à ti pelo apoio.

Telefone & whatsapp: 00554899052909

Correio electrónico: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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Skype: camuaso

Endereço residencial: Rua Flávio Silva número 98, bairro Nossa Senhora do Rosário, apt 06.
São José, Florianópolis - Santa Catarina - Brasil.

Por favor, ajuda a enviar esta missiva a quem de direito. Contribua também para a divulgação e partilha desta missiva por favor!

Muito obrigado pela vossa atenção dispensada

Camuaso Segundo