Lisboa -   Adolosi Mango Paulo  Alicerces foi um dos mais categorizados dirigentes da UNITA, a quem Jonas Savimbi  incumbiu, em 1991,  a  missão de transformar o partido em maquina militar das matas  para aparelho partidário na cidade. Era a data, o novo Secretário Geral que substituiria o poderoso Miguel  Nzau Puna mas  também era o jovem  general que desaparecia  nas mãos das forças de  Segurança do regime, nos confrontos de 92, cujo episódio, até agora inédito,  o Club-K, revela  ao pormenor.

Fonte: Club-k.net 

Origem e trajetória militar

Embora seja de uma família originaria  do bailundo, Mango Alicerces, nasceu a 24 de Abril de 1953,  em  Benguela, cidade onde fez os seus estudos académicos e terminou  o liceu.  Ingressou no exercito português, quando frequentava o 7o ano do liceu   mas  a   16 de Setembro de 1974,  ele desertaria para aderir   à UNITA.  Juntou-se aos guerrilheiros deste movimento concentrados na região de Sakalemba, sendo um dos participantes do primeiro curso de formação de quadros no Massivi. No final do curso foi  nomeado Instrutor Geral da UNITA.

Mango Alicerces  foi  nomeado, Em Janeiro de 1975,  Comandante Militar de Benguela, passando a exercer   a mesma função no Luena  em Março desse ano, regressando depois para a Base da Úria. Porém, desde  final de 1975 a 1977  passaria a desempenhar  as  funções de chefia militar na Frente do Moxico e Bié.

Em fevereiro de 1976, integrou a conhecida  “longa marcha”, uma coluna de civis e militares  encabeçada pelo trio (Jonas Savimbi, Samuel Chiwale e Ernesto Mulato) que  abandonou  as cidades com destino as matas.

Há conhecimento de que  neste mesmo ano,  ele fez uma febrite da perna direita, o que o impediu de continuar e seguir   a marcha da coluna.  O problema teria sido em consequência de um ferimento que teve em combate em Abril de 1975, levando com que fosse enviado para Kinshasa, em Outubro de 1977 para receber tratamento médico adequado. Mango Alicerces encerraria então a sua carreira como militar das frentes de combate.  

 

Trajetória diplomática


Mango deixou as frentes as militares, em 1978,  passando a exercer funções administrativas a nível do partido até ser nomeado cinco anos depois como Secretário dos Quadros da UNITA e posteriormente Chefe do Gabinete da Presidência. A está altura Jonas Savimbi, já o teria feito brigadeiro aos 33 anos de idade.

Deixou  o gabinete presidencial, um ano depois, para ser nomeado como um dos mais importantes representantes da UNITA  no exterior  baseando-se na cidade de Bona, Alemanha. Teria substituído um veterano, o general Carlos Candanda. mango se tornaria no contra-poder de um outro influente representante de Savimbi  em Washington, Pedro “Tito”  Chingunji.

Em finais de Agosto de 1986, ele é chamado para a Jamba a fim de participar no VI congresso Ordinário da UNITA, ao qual lhe  foi  dada a missão de gerir a tesouraria do movimento (feita a partir do exterior), nas vestes de representante na Europa.

Dois anos depois, o  brigadeiro Mango ascenderia então,   a Secretário dos Negócios Estrangeiros da UNITA,  operando a partir do exterior e  coordenando os outros diplomatas colocados em diferentes capitais europeias.  Contudo seria em Abril de 1990 que é indicado para  substituir Alcides Sakala como Representante  em Portugal,  onde se torna  o iniciador, como chefe da delegação negocial da UNITA, dos primeiros encontros que levarão aos Acordos de Bicesse.

 

Há um de Maio desde mesmo ano,  são feitas promoções no exercito e Mango Alicerces  seria então promovido a general. É  também neste momento que   ele é orientado pela direção do seu partido a deslocar-se a Alemanha na primeira semana de Junho, a fim de reforçar a  equipa  da preparação de uma visita (com cunho de estado) do líder do "Galo Negro",  visto dominar suficientemente o dossiê Alemanha. O então representante da UNITA naquele país, Ernesto Mulato era recém chegado á cidade de  Bona  pelo que era ainda um desconhecido junto das instituições alemães.

 

A ascensão a Secretário Geral

 
Em Março de 1991, Mango Alicerces esteve no interior do país,  para participar no VII Congresso Ordinário da UNITA, realizado na  primeira semana daquele mês.  Era um período de véspera dos acordos de paz na qual surgia  a árdua tarefa de transformar a UNITA num Partido Político pronto a participar na campanha eleitoral.

Certa noite de terça-feira, do dia 19 de Março,  Jonas Savimbi recebeu  jornalistas portugueses no seu «bunker», uma enorme habitação subterrânea na base Kwame Nkrumah, onde também reúnia  a direcção da UNITA. Acompanhavam-no alguns membros do então  Bureau Político: Nzau Puna, Jeremias Chitunda, Mango Alicerces, António Dembo, Tony Dacosta Fernandes, entre outros.

Ali os jornalistas ficaram a saber que Alicerces Mango - representante em Lisboa -  oriundo  do Bailundo, era  o novo secretário-geral da UNITA. N’Zau Puna, anterior secretário-geral, passou  a ministro do Interior e da Ordem Pública.  Entretanto,  Mango   transfere-se para Luanda, para a batalha eleitoral.

 O período pós eleitoral


Realizadas que foram as primeiras  eleições gerais de 1992, vencidas pelo o MPLA,  a UNITA, entretanto,  contestou os seus resultados.  No dia 14 de Outubro daquele ano, Mango Alicerces na qualidade de SG do  partido enviou uma carta ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a solicitar a “Total revisão comparativa das actas e consequente revisão dos resultados dos escrutínios provinciais” e a “Contabilização de todos os cadernos eleitorais registados no acto do voto e comparação com o número de votos considerados validamente expressos”.

Não tendo resposta adequada, o numero três da UNITA preparava-se para realizar uma manifestação em Luanda em repúdio do impasse eleitoral e ao mesmo tempo apresentar provas da percentagem superior a 30% de irregularidade das eleições. A manifestação foi comunicada as autoridades angolanos embora estas tivessem  desaconselhado a UNITA a faze-lo.

 

O inicio dos confrontos militar

 

Há 30 de Outubro decorriam entre o governo e a UNITA conversações para as segundas voltas das eleições presidenciais de 1992. Pela parte do “Galo Negro” estava um grupo de negociadores encabeçados pelo então Vice-Presidente Gereminas Chitunda. Mango Alicerces não fez parte desta reunião e encontrava-se a trabalhar na sede nacional do partido.

Na hora do almoço quando as duas partes que negociavam saem para o intervalo, a  viatura de um general da UNITA, Renato Mateus seria alvo de disparos em frente a sede da Comissão Conjunta Político ou Militar (CPPM), dando assim inicio aos confrontos militares entre as duas parte (Governo e UNITA).

Adolosi Mango Alicerces  que  se encontrava neste dia reunido no Gabinete dos Negócios Estrangeiros da UNITA,   na então sede nacional, viu-se obrigado  a ficar  ai retido, uma vez que  os seus homens haviam inicialmente interceptado comunicações de um general das forças governamentais, Higino Carneiro e do ex- ministro do Interior Fernando da Piedade Dias dos Santos  dando instruções militares aos seus soldados.  Luanda estava sob fogo.

 

Preparativos para fuga de Luanda

No terceiro dia dos tiroteios, o general Mango  e um outro alto dirigente, Lukamba Paulo “Gato” programaram deixar a cidade capital rumo a Viana levando consigo uma coluna integrada de civis e  comandos trajados a civis da sua escolta. Fazia também parte da coluna, um  responsável  das comunicações, o coronel Félix Miranda (Hoje jornalista e dirigente da CASA-CE).

Na noite deste dia, a coluna tentou, sem sucesso,  seguir  o  seu destino caminhando a pé até Viana.  Porém, nos arredores na Maianga,  foram confrontados com disparos de fogo que saiam do edifício do prédio do Livro. Para contrapor aos tiroteios,  os comandos que os acompanhavam lançaram algumas granadas de ondem vinham  os tiros.

Mango Alicerces que padecia de problemas respiratórios  e não podia andar muito devido ao antecedente do problema de  flebite na perna direita viu-se impedido de caminhar. Fez um repouso tendo  lamentando com os seguintes dizeres “se aqui,  esta assim acho que não vamos conseguir chegar até Viana”.

Em consenso com Lukamba “Gato”, decidiu-se  que ele iria ficar na cidade  e orientaram um guarda-costa   a leva-lo até a  casa  que na altura ficava no bairro Maculusso, em Luanda, a poucos metros da SISTEC.  Mango foi  levado as costas pelo guarda, porem posto na  residência telefonou para um oficial general do governo, António José Maria que fora seu colega nos tempos em que estudou em   Benguela. Solicitou apoio ao seu ex-colega e este o acolheu em sua casa, também no bairro Maculusso, por detrás da conhecida geladaria da “ARDEP”.

 

O momento do assassinato

 

O general António José Maria teria entretanto comunicado aos seus superiores que tinha consigo o SG da UNITA, Mango Alicerces de forma a não ter problemas.  Depois disto, elementos apresentados como “guardas do Nandó”, foram buscar  o  alto dirigente do maior partido da oposição, em  casa de Zé Maria levando-o para  nunca mais ser visto.

Anos mais tarde, um sobrevivente dos “massacres de 1992”  cujo o nome é ocultado por razões de segurança,  revelaria  que os apelidados “guardas do Nandó”, o teriam levado numa zona inabitada,  atrás do actual projeto Nova-Vida, onde havia uma vala comum para os militantes e simpatizantes da UNITA. Segundo a testemunha, Mango Alicerces foi  fuzilado e deitado na vala comum, razão pela qual até aos dias de hoje o governo angolano nunca conseguiu explicar o destino que deu ao cadáver do  então SG da UNITA que foi lhes pedir proteção.

 

Traços sobre a sua pessoa

De acordo com discrição, Adolosi Mango Paulo  Alicerces era  frio na tomada de posições, fino no comportamento e muito corajoso. também arrogante quando o momento assim impunha.  Dentro do regime, era bastante admirado pelas suas particularidades e os seus traços de finória (tal como bem falante e apresentar-se com fatos caros e com uma mascote dourada no punho).

Foi dos poucos generais da UNITA que não aderiu a poligamia.  Teve um filho com uma senhora identificada por  Sapassa (irmã de Eunice Sapasa, uma das primeiras combatentes na primeira guerra) mas depois, em 1977  apaixonou-se por   Gloria Lutukuta, com quem viveu e teve todos os seus filhos.