Lisboa - A Rússia olha para Angola como uma das formas de compensar as sanções aplicadas pelo Ocidente devido à intervenção na Ucrânia, e Angola pretende capitalizar a liquidez russa para equilibrar o orçamento deficitário, escreve a Economist Intelligence Unit (EIU).

Fonte: Lusa

De acordo com a unidade de análise económica da revista britânica The Economist, o empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares feito pelo banco russo VTB Capital, "um dos maiores créditos isolados que Angola recebeu nos últimos anos, é um indicador não só da solidez das relações entre os dois países, mas também do impacto que as receitas petrolíferas abaixo do previsto estão a ter nas contas de Angola".

Na nota de análise distribuída aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, os peritos da EIU lembram que este valor é maior que a totalidade do acordo assinado com o Fundo Monetário Internacional em 2009 para fazer face à falta de liquidez que se seguiu à queda dos preços do petróleo nessa altura, e sublinham que, por exemplo no campo do armamento, "a Rússia ficará feliz por vender a um país como Angola".

O executivo angolano aprovou a 18 de agosto, através de despacho presidencial, um acordo de financiamento no valor de 1.500 milhões de dólares (1.129 milhões de euros), junto do banco russo, sendo a decisão explicada pelo objetivo de "executar os Projetos de Investimento Público identificados no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND 2013-2017)", inscritos no Orçamento Geral do Estado, nomeadamente na área das infraestruturas.

"Havendo necessidade de se recorrer a financiamento para aqueles programas, orientados numa ótica de diversificação das fontes de financiamento", lê-se ainda no mesmo despacho, assinado pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e que autoriza o ministro das Finanças, Armando Manuel, a assinar o acordo.

Para os analistas da EIU, o facto de Angola recorrer a um empréstimo tão elevado e sem a divulgação das taxas de juro aplicáveis, "indica o tamanho das dificuldades financeiras, mas também o desejo da Rússia de potenciar as ligações [com Angola] numa altura de tensões com o Ocidente".

O executivo angolano tem vindo a assinar nos últimos meses vários contratos de financiamento para a realização de obras e investimentos no país. Estes financiamentos coincidem com as quebras nas receitas fiscais da exportação de petróleo, que por si só valem cerca de dois terços da receita total.

A exportação de petróleo, segundo dados do Ministério das Finanças consultados pela Lusa, rendeu a Angola, entre janeiro e julho, cerca de 13,4 mil milhões de euros, o que representa uma diminuição de 3,3 mil milhões face ao mesmo período de 2013.

O petróleo representa a quase totalidade das exportações de Angola, o segundo maior produtor da África subsaariana, atrás da Nigéria.