Luanda - Os familiares do cidadão Francisco Miguel ‘Kalauenda’, de 28 anos de idade, encontrado morto no interior de um reservatório de água, no município do Cazenga, no passado dia 28 de Julho, acusam a Polícia Nacional de tentar “abafar” o caso. A acusação surge pelo facto de o principal suspeito do crime, um oficial superior de investigação criminal, destacado na província do Bengo, estar a ser encoberto

Fonte: O País
Efectivos da policia.jpg - 64.23 KBFaz dois meses que o caso daquele cidadão foi entregue às autoridades policiais mas, segundo Morais Miguel, um dos familiares da vítima, não tem merecido a devida atenção, já que nem sequer estão disponíveis quaisquer informações precisas sobre o andamento do processo registado com o nº 2743/14-SZ, na divisão de Polícia da 3ª Esquadra do Sambizanga.

Apesar das várias solicitações ao departamento de investigação criminal daquele município, onde terá sido feita a instrução preparatória do processo, não têm sido atendidos. A família do malogrado alega que tem constatado que “a Polícia está a proteger o seu colega e arranjar formas de abafar o processo”.

O nosso entrevistado assegurou que não existem dúvidas em relação aos autores do crime, uma vez que a autópsia feita pela Polícia apontou como sendo “morte por asfixias”, lê-se no documento que a foi apresentado aos familiares.

Declarações dadas pelas testemunhas, no local, tomam conta de que tudo ocorreu quando a vítima entendeu fazer uma visita a casa de sua irmã, Catarina João Miguel, esposa do acusado, Domingos João Hilário, de 42 anos. Posto no local, a sua presença não foi bem encarada pelo cunhado e mais duas pessoas não identificadas, que na ocasião encontravam- se a descontrair, fazendo o uso de bebidas alcoólicas.

Por motivos não explicados, passados poucos minutos, gerou-se um mau-clima que resultou em agressão entre a vítima e o seu cunhado – tendo este último saído com ferimentos ligeiros no braço esquerdo, provocados com arma branca.

De acordo a nossa fonte, as desavenças entre ambos já vêm desde há muito tempo, mas nunca tinham chegado àquele ponto.

Domingos Hilário desencadeou vários telefonemas a família da mulher, fazendo ameaças de morte, porque considerava acção perpetuada pelo cunhado uma “autêntica” falta de respeito. “Fiquem alertados que o vosso irmão vai pagar pelo que fez. Eu sou Polícia, ele vai morrer, só estou mesmo a vos avisar” referiu o suspeita segundo os familiares da vítima.

Encontrado morto no tanque do cunhado

Contam que após ter feito as ameaças, na manhã do dia seguinte, Francisco Miguel ‘Kalauenda’ foi encontrado sem vida, dentro de um reservatório de água, no quintal do cunhado.

O corpo foi descoberto pela vizinha, Helena Pereira, que também é esposa de um dos familiares, quando acarretava água do tanque como era de apraz.

O facto gerou o pânico no seio da vizinhança e, segundo aquela cidadã, que assegurou não ter registado na madrugada qualquer movimento estranho na zona, a suspeita manifestou-se bastante apreensiva, quando indagado sobre o sucedido.

“O Kalauenda veio aqui em casa para me trazer azar, ele já tinha os seus problemas e atirou-se ali só para me arranjar problema”, saiu em sua defesa, Domingos Hilário, segundo a vizinha.

O corpo foi removido horas mais tarde pela polícia de investigação, que no local, para além do proprietário da residência, não ouvi mais ninguém. Na sequência disso, após os exames de autópsia, a polícia concluiu que a vítima morreu asfixiada e presume-se que o corpo terá sido atirado no reservatório já sem vida.

Familiares sem dúvidas do homicida

“É muito estranha que seja outra pessoa quem mandou matar o meu irmão. O Hilário disse que lhe iria matar, por várias vezes, ao telefone.

Agora está a dizer que não sabe de nada e que o caso não vai dar em nada porque ele é oficial da polícia”, sublinhou Isabel Miguel. A irmã da vítima também não tem dúvida quanto ao facto de que a polícia esteja a mostrar pouco interesse em esclarecer o caso, já que não se constata sinais de andamento do processo.

“O Hilário é o principal responsável pela morte, até porque ameaçou o meu irmão, dias antes de ser encontrado morto no seu quintal”, enfatizou.

Nada mais quer a família do malogrado, senão a responsabilização criminal do causador daquele crime que considera “descabido” e lamenta o facto de a suspeita estar ainda imune.

Acusado volta a ameaçar

Já o Oficial da Polícia, Hilário Domingos, principal suspeita, quando solicitado pelo OPAÍS, vezes sem conta, por via telefónica, para fazer passar os seus argumentos das acusações que pesam sobre si, não nos atendeu.

Tivemos conhecimento de que aquele cidadão proferiu recentemente, diante de alguns familiares, outras ameaças contra as pessoas que estão em frente do processo em que é acusado, uma vez que ele nega qualquer envolvimento no cometimento daquele crime.

Esta situação está a gerar um clima de revolta e insegurança no seio dos familiares que temem pelas suas vidas. Fontes deste jornal ligadas ao Departamento Provincial de Investigação Criminal adiantam que o processo está a seguir o seu curso normal, mas advertem que a suposta morosidade reside no facto dos processos serem muitos.

Acrescentam ainda que o processo já foi recebido pela DPIC, vindo da 3ª divisão de Polícia do Sambizanga, e que, tão logo se conclua a averiguação, será encaminhado para o Ministério Público.

Questionado o nosso informador sobre o facto de o principal suspeito andara a solta, o mesmo esclareceu que não se podia prender o mesmo sem provas concretas.