Luanda - "Traz cá para fora do homem toda a sua santidade, mete para dentro do escravo toda a parafernália da guerra" – Proverbio Popular
Fonte: Club-k.net
Durante a minha estadia na ‘banda’, visitei muitas vezes o recinto onde funciona uma das mais prestigiadas instituições de ensino de Angola, o INSTITUTO MĖDIO INDUSTRIAL DE BENGUELA, onde o meu amigão Artur Mapuna, ė o digno director da instituição...
Numa das minhas quase diárias visitas, ouvi um adolescente gritar para outro em pleno ensolarado dia (no pátio bem concorrido);
“Fulano vai para o C...”
Trovejando uma pavorosa obscenidade a vivo & a cores, o que me fez estancar estarrecido e horrorizado (por um instante pensei que me encontrava na praça da caponte), olhei na direcção de onde trovoou
a escabrosidade e posteriormente ‘passei o olhar para o concorrido pátio, “tudo continuou na mesma como que se não tivesse acontecido nadinha”...
O indecente comportamento era intrínseco a cada um dos presentes, docentes e discentes... “Meu Deus!.. O que fazem estes bárbaros no ensino médio? ”- Murmurei assombrado.
Tal comportamento ė quase intrínseco, da ‘população’ estudantil de Angola, quase que se chega a conclusão que; “quando mais instruído, mais ordinário e velhaco!” A geração dos nossos dias difere da minha, há nos dias de hoje milhares de indivíduos a frequentarem a universidade, diferentemente dos meus tempos de adolescência e juventude, porem a
sociedade nos “meus tempos” era mais SADIA, mais educada, solidaria e confiável, naqueles tempos, “quanto mais instruído MAIS educado”...
Hoje, ė literalmente o oposto, quase que não se distingue o ARRUACEIRO/RUSQUEIRO, delinquente do (por exemplo) universitário, nos dias de hoje desconfia-se mais do universitário do que do analfabeto ou individuo de pouca instrução.
Hoje frequenta-se as instituições escolares, por uma questão de vaidade (dos pais e filhos), não para melhor servir a sociedade e a nação.
Matei-me a rir a farta, quando vi um bom número de almas (quase penadas), que se dizem ter licenciado por cima de uma plataforma de um camião, a fazerem uma passeata pela cidade de Benguela, a exibirem uma “vaidade imbecil”.
Creio estar mais do que na hora, de quem de direito iniciar para o bem da nação e do progresso, uma discussão nacional sobre o tema; “Ensinar, Instruir, Educar”.
Alguém disse certa vez: “A sociedade PROGRIDE com a boa educação e entra em decadência com a instrução.” Concordo, há pessoas instruídas que não são educadas e há pessoas educadas que não são (necessariamente) instruídas...
Desconfio que a maioria dos cidadãos, incluindo os governantes, nesta época pós-revolucionária (escolha-se a revolução), não sabe distinguir entre "educação" e "instrução", julgando que são sinónimos. E contudo a sua diferença é essencial para compreender o fenómeno da decadência das sociedades.
INSTRUÇĀO Vs EDUCAÇĀO
É preciso não confundir instrução com educação. A educação abrange a instrução, mas pode haver instrução desacompanhada de educação.
A instrução relaciona-se com o intelecto: a educação com o caráter. Instruir é ilustrar a mente com certa soma de conhecimentos sobre um ou vários ramos científicos. Educar é desenvolver os poderes do espírito, não só na aquisição do saber, como especialmente na formação e consolidação do caráter.
O intelectualismo não supre o cultivo dos sentimentos. "Não basta ter coração, é preciso ter bom coração".
Razão e coração devem marchar unidos na obra do aperfeiçoamento do espírito, pois em tal importa o senso da vida.
Descurar a aprendizagem da virtude, deixando-se levar pelos Deslumbramentos da inteligência, é erro de funestas consequências. Em Angola estamos colhendo sobremaneira os frutos destas consequências.
EDUCAÇĀO = Consciência religiosa
Convém acentuar. Aqui que a consciência religiosa corresponde, neste particular, ao fator principal na formação dos caracteres. Já de propósito usamos a expressão - consciência religiosa - ao invés de religião, para que se não confundam ideias distintas entre si. Religiões há muitas, mas a consciência religiosa é uma só: Por essa designação entendemos o império interior da moral pura, universal e imutável conforme foi ensinada e exemplificada por Jesus Cristo. A consciência religiosa importa em um modo de ser, e não em um modo de crer.
É possível que nos objetem: mas, a moral cristã é tão velha, e nada tem produzido de eficiente na reforma dos costumes. Retrucaremos: não pode ser velho aquilo que não foi usado. A moral cristã é, em sua pureza e em sua essência, AINDA desconhecida da Humanidade. Sua atuação ainda não se fez sentir ostensivamente. O que se tem espalhado como sendo
o Cristianismo é a sua contrafação. Da sanção dessa moral é que esta dependendo a felicidade humana sob todos os aspectos.
INTELECTUALISMO Vs A MĀE DE TODAS AS CRISES
O intelectualismo, repetimos, não resolve os grandes problemas sociais que estão convulsionando o mundo. O fracasso da Liga das
Nações (ONU) em estabelecer PAZ e segurança mundial, é um exemplo frisante; e, como esse, muitos outros estão patentes para os que têm olhos de ver.
Demasiada importância se liga às várias modalidades do saber, Descurando-se o principal; EDUCAR, que é a ciência do bem.
Os pais geralmente se preocupam com a carreira que os filhos deverão seguir, deixando-se impressionar pelo brilho e pelo resultado utilitário que de tais carreiras possam advir. No entanto, deixam de atentar para a questão fundamental da vida, que se resolve em criar e consolidar
o caráter. Antes de tudo, e acima de tudo, os pais devem cuidar da educação moral dos filhos, relegando às inclinações e vocações de cada um a escolha da profissão, como acessório.
A crise que assoberba o mundo é a crise de caráter, responsável por todas as outras.
O momento reclama a ação de homens honestos, escrupulosos, possuídos do espírito de justiça e compenetrados das suas responsabilidades.
"O poder intelectual só e a formação científica, sem integridade de caráter, podem ser mais prejudiciais que a ignorância. A Inteligência superiormente instruída, aliada ao desprezo as virtudes fundamentais, constitui uma ameaça".
A Educação/Instrução deve estar ao serviço da (formação) Nação, disseminação da PAZ e concórdia entre os homens.
Isomar Pedro Gomes