Luanda - O antigo treinador do União Sport Clube do Uíge, Mbiyavanga Kapela, revelou à imprensa as razões que estiveram na base do seu afastamento do comando da equipa. O treinador descartou os maus resultados como a razão que esteve na base do fim do vínculo contratual com o actual último classificado do campeonato nacional.

Fonte: JD
Mbiyavanga Kapela.jpg - 75.69 KBO antigo jogador do Petro de Luanda e do Kabuscorp, hoje nas vestes de técnico, reconheceu a confiança que em si foi depositada pelo governador provincial Paulo Pombolo e agradeceu o encorajamento do dirigente máximo da província durante a sua permanência à frente do único representante do Uíge na prova.

"O que se passou comigo no comando do União do Uíge, acontece com qualquer outro treinador. Temos conhecimento de grandes treinadores angolanos que passaram por clubes dessa região na mesma condição que eu, mas que conseguiram ser felizes noutros desafios", referiu.

Mbiyavanga Kapela revelou que o importante é estar preparado para este tipo de situação. "Não vou acusar este ou aquele. Mas confesso que me sentia muito sozinho no trabalho", recordou com alguma nostalgia. Depois de mostrar o seu conformismo pelo seu afastamento do comando da equipa técnica, Mbiyavanga Kapela esclareceu que as intrigas internas entre a antiga direcção e a comissão de gestão estão na base do mau desempenho do único representante do Uíge no Girabola.

"De acordo com aquilo que eu pude observar, em função da última reunião que tivemos e culminou com a decisão do meu afastamento do comando da equipa técnica, não se tratou de maus resultados, mas sim de intrigas internas entre a antiga direcção e a comissão de gestão", avançou.

Na sua explanação, Mbiyavanga Kapela diz ter sido sacrificado e vítima do mau entendimento entre os dirigentes das duas direcções, prejudicando o clube. "Repito, na  reunião não se falou do problema dos maus resultados, mas sim dos problemas que existem dentro do clube. Havia ciúmes entre eles em relação à minha pessoa.

Por isso, como se sabe, a corda rebenta sempre do lado mais fraco, razão pela qual fui sacrificado", aclarou o treinador Mbiyavanga Kapela.

Técnico grato com oportunidade

Mbiyavanga Kapela reiterou que apesar de ser vítima do mau relacionamento entre dirigentes do clube, prefere continuar a proteger o seu bom nome e o futuro da sua imagem como treinador. Sem receio, disse que havia muitos problemas internos no clube, mas não quis entrar em pormenores sobre os mesmos.

"Fui vítima dessas intrigas, confusões e mau entendimento entre a antiga direcção e a comissão de gestão. Prefiro não entrar em detalhes sobre isso, porque não me parece curial. Como profissional, não posso fazer isso, sob pena de pôr em causa o meu futuro de treinador, e quiçá, manchar a minha imagem", esclareceu.

O antigo treinador do União do Uíge revelou que, ao invés das intrigas pessoais entre dirigentes, o que o clube mais precisava é de apoio, para que pudesse desenvolver o seu trabalho com mais dinamismo. "Sou um treinador jovem e que está a despontar. Para que o meu serviço surtisse os efeitos desejados, precisava de mais apoios, ao invés de intrigas, como aquilo que vivi no União Sport Clube do Uíge."

Sem demonstrar qualquer tipo de ressentimento, Mbiyavanga Kapela desejou boa sorte ao clube e agradeceu a todos os que acreditaram em si e lhe concederam a oportunidade para dirigir o clube,  o que valorizou ainda mais o seu trabalho. "Desejo boa sorte à  equipa do União e agradeço a confiança que em mim foi depositada, para trabalhar no comando do clube.

"Ninguém quer  pagar a rescisão"

Mbiyavanga Kapela terminou o seu vínculo contratual com a equipa do União do Uíge mas, contra todas as expectativas, nada está definido em relação à indemnização que deve receber por parte do clube.

O ex-treinador do União disse que a Comissão de Gestão não quer assumir o pagamento da rescisão, razão pela qual entregou o assunto ao seu advogado.

"O assunto da rescisão está um pouco complicado, porque a actual direcção não quer conversar sobre isso. Na qualidade de profissional, não me vou meter nisso. Já entreguei todos os documentos comprovativos ao meu advogado, a quem incumbi da missão de solucionar a questão", declarou Mbiyavanga Kapela.

O treinador  afirmou que prefere priorizar o diálogo com a direcção pois, no seu ponto de vista, quer manter o bom relacionamento com algumas pessoas do Uíge, mas em resposta tem recebido um tratamento diferente.

A relutância demonstrada pela direcção do clube obriga-o a entregar o assunto ao seu advogado. "Podíamos  ter tratado o assunto de forma amigável e assim evitávamos chegar aos tribunais", concluiu Mbiyavanga Kapela. Contactada a Comissão de Gestão, prometeram pronunciar-se sobre o assunto nos próximos dias tão logo tenha maior elementos sobre o assunto.  

"Agradeço o apoio do Governo do Uíge"

O ex-técnico do União Sport Clube do Uíge lançou um grito de gratificação e reconhecimento ao governador da província, Paulo Pombolo, pela forma sábia como  sempre se predispôs a conversar e aconselhar o treinador nos momentos mais difíceis.

"Quero aproveitar para felicitar o Governo da Província do Uíge, em especial o  governador Paulo Pombolo, que no meio do campeonato mostrou muita vontade de querer ajudar a província e a própria equipa do União para que pudesse manter-se no Girabola. Ele deu-me a grande responsabilidade de segurar o leme da equipa, mas infelizmente não cheguei até ao fim."

Na sua óptica, a aproximação que se estava a criar entre ele e o mais alto mandatário da província foi percebida com antecedência pelos dirigentes, razão que os levou a destituí-lo do cargo temendo que informasse sobre tudo o que se estava a passar no clube.

"No momento em que estava a criar uma aproximação com o  governador, para que este pudesse criar um clima de paz no seio do clube, as pessoas aperceberam-se da iniciativa e tomaram a decisão de me afastar, evitando que revelasse algumas verdades ao mais alto mandatário da província", explicou Mbiyavanga Kapela.

Com uma visão futurista aguçada, e na ânsia de dar outra dinâmica à equipa do Uíge, o antigo treinador do União revelou ter levado consigo para aquele grémio desportivo um grupo de jogadores saídos do Clube Desportivo Norberto de Castro.

"Quando fui convidado a assumir o comando do União, apresentei uma ideia de renovação  na continuidade. Levei para lá um grupo de jogadores jovens, procedentes do Norberto de Castro, no intuito de dar outra qualidade à equipa, o que aconteceu. Isso vai fazer com que o companheiro que me sucedeu não possa ter muitos problemas", concluiu Mbiyavanga Kapela.