Luanda - Os antigos agentes dos serviços secretos angolanos, afetos ao extinto Ministério da Segurança do Estado, que, há mais de 20 anos, reivindicam os seus ordenados e a inclusão na Caixa Social das Forças Armadas Angolanas (FAA), acusam a atual direção dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) de pretender desviar os dinheiros a que dizem ter direito, contrariando assim uma recente orientação do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Fonte: DW

Segundo os mesmos, que preferem não ser identificados, o Presidente angolano, na qualidade de comandante em chefe das FAA, teria dado ordens às chefias dos serviços de inteligência para que pudessem solucionar, de uma vez por todas, as reivindicações do ex-integrantes do extinto Ministério da Segurança do Estado.

Os ex-militares foram desmobilizados em 1992 em consequência dos acordos de Bicesse entre o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e o principal partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

A manobra de desvio do SINSE

Entretanto, as chefias dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) estariam a executar uma manobra que visa pagar apenas alguns dos ex-agentes operativos da secreta, facto que contraria a orientação de Dos Santos, segundo denúncia feita à DW por um dos visados.

"O próprio diretor nacional de Recursos Humanos disse que 'tudo isso que nós falamos aqui, fica aqui dentro. Não pode sair. Vocês, delegados provinciais, vão lá reunir com os camaradas, vão dizer que o Presidente da República só assinou para aqueles que têm 55 anos, o resto não foi priorizado. Aguardam os 55 anos.' Mas não foi isso que o Presidente da República assinou," denuncia o ex-militar.

O antigo operativo dos serviços secretos pediu mais uma vez ao Presidente para que possa prestar especial atenção a essa situação, já que o desvio de fundos a nível do SINSE lhe parece ser uma prática recorrente. "O presidente deu a verba. A verba já está. Eles querem desviar mais este valor, conforme já têm desviado," reclama.

Segundo o ex-militar, o sofrimento está demais. "Somos 30 mil homens e os nossos familiares. Nós já falámos muito, falámos tanto. O próprio Presidente da República assinou. Agora, os próprios que ele incumbiu para fazer a mesma coisa. Então, eles sempre passaram para trás o próprio Presidente da República?" critica.

Pátria ingrata

Um outro ex-funcionário, afecto ao extinto Ministério da Segurança do Estado, que preferiu ser indentificado apenas por Domingos, mostrou-se igualmente totalmente revoltado com a situação. "É doloroso. Sou deficiente de guerra. Sou deficiente pelo serviço à pátria. Já há 26 anos estou apenas sob o controle dos meus familiares e, agora, a minha esposa é que está a cuidar de mim. Imagine um homem que contrai deficiência a serviço da pátria e é expulso, sem lhe darem nada. Como um homem não fica descontente?" pondera.

Domingos descreve que, ao longo dos últimos anos, tem passado por um verdadeiro calvário. "Já estou há dois anos vivendo no quintal. No quintal! Chuva, frio. Tenho nove filhos e um monte de coisas. Graças a Deus, há dias, apareceu aí uma pessoa de boa fé que me deu aí um quartito, mas só cabem as crianças e eu sempre [fico] no quintal. É complicado," desespera-se o ex-militar.

Todos os esforços foram feitos para ouvir reação das autoridades angolanas sobre o assunto, mas não houve resposta.