Luanda - António João Paulo Caminha, 25 anos, revelou que se dedicava ao roubo de viaturas de marca Suzuki Jimmy, com a ajuda de carros de reboque de empresas particulares que exercem esta actividade em Luanda, e as comercializava ao preço único de 5.000 dólares, independentemente do seu estado de conservação.

Fonte: O Pais
aristofanes3.jpg - 50.28 KBNo seu leque de clientes constam alguns agentes da própria corporação que, ao se aperceberem que os seis veículos que compraram estavam na lista das viaturas furtadas, informaram aos seus superiores e montaram uma cabala que culminou na detenção de António Caminha no Sábado passado.

Contou que o seu “modus operandi” variava em função das circunstâncias e a escolha desta marca foi para convencer os seus clientes de que os mesmos faziam parte da frota de uma suposta empresa que estava prestes a leiloá-los.

“Ao circular pelas ruas da capital, procurava por viaturas desta marca que aparentavam estar há vários dias no mesmo local. Depois solicitava por telefone a uma das empresas de reboque (cujos contactos retirava na via pública) que fossem remover o veículo daquele local para o Campo do Kabuscorp do Palanca ou por detrás das instalações da futura Unidade de Trânsito, em troca de 25.000 Kwanzas”, disse.

Explicou que se apresentava diante dos seguranças que tinham a missão de guarda-los como seu legítimo proprietário, oferecia-lhes mil kwanzas e os informava que mandaria o carro de reboque ir busca-los. Orientava os motoristas para o contactarem assim que chegassem ao local, via telefone, alegando que o segurança era da sua mais inteira confiança e que só autorizaria a remoção do veículo depois do seu telefonema.

Naqueles casos em que o motorista mostrasse alguma resistência por não estar diante do suposto proprietário ou ter alguma documentação que atestasse tal titularidade, tentava instrumentaliza-lo detalhando as características do veículo para atestar a sua titularidade.

Para não ser questionado porquê razão não se fazia presente naquele exacto momento, alegava ter socorrido um parente que estava em apuros no hospital ou aeroporto, quando na verdade já se encontrava no local onde a mesma seria levada.

Os rebocadores eram pagos apenas depois de cumprirem com a missão, pelo facto de existirem alguns que se recusavam em fazê-lo sem a presença do dono ou de um documento que a atesta a sua titularidade.

Assim que recebia o veículo, António Caminha informava aos seus possíveis clientes que dentro de dois ou três dias teria mais um carro para vender. Neste mesmo dia, usava os seus conhecimentos de mecânica para destranca-lo, sem deixar sinais de arrombamento, e levava para outro local onde, na manhã seguinte, retirava a ignição para mandar fazer uma nova chave.

Enquanto aguardava pela feitura da mesma, descaracterizava parcialmente a viatura pintando o para-choque e os guarda-lamas com uma cor diferente da original. Ainda neste período, copiava as chapas de matrícula de viaturas da mesma marca que circulavam na via pública para substituir a original dos que iria vender.

Indagado como obteve os verbetes provisórios com as referidas chapas de matrícula, respondeu que contava com a ajuda de um amigo que trabalha na Direcção Nacional de Viação e Trânsito, identificado apenas por Neto, que recebia em troca dez mil Kwanzas. “Tive muita sorte porque todos os carros que removia não tinham problemas. O verbete provisório tem a validade de três meses e quando o potencial comprador exigisse tal documentação, dizia que a direcção dos transportes da falsa empresa estava a procura e que teria de aguardar por mais alguns dias porque os carros saíram antes de começar o abate”, declarou.

Disse ainda que os compradores sabiam que as matrículas eram operativas (falsas) e que não podiam usar as originais sem que a direcção da empresa fictícia emitisse as respectivas declarações de compra e venda. Vendeu os seis veículos, dos quais cinco já se encontram sob a custódia da Polícia, a um grupo constituído por seis amigos que sonhavam em ter carros próprios. Alguns deles chegavam a aumentar o preço da venda e com o dinheiro arrecadado reabilitou a sua casa e gastou sustentando a sua mulher e o filho.

Por outro lado, o comerciante de viaturas Nelinho Gomes Mbanza Mbonza está detido por ter comercializado, há duas semanas, uma viatura roubada de marca Hyundai, modelo 10, a um dos seus vizinhos ao preço de oito mil dólares.

Disse que até a data dos factos desconhecia a sua real proveniência por ter recebido das mãos de um dos irmãos do seu pai, identificado apenas por Jinho, que se dizia ser o dono para incluir no leque de carros que estava a comercializar.

“Embora tenha vendido o carro a oito mil dólares, o cliente pagou sete por ser esse o valor que tinha disponível e se prontificou a dar o restante valor numa outra ocasião. O Tio Jinho se prontificou a dar-me a minha comissão de 200 dólares apenas quando o cliente pagasse o resto”, explicou.

Questionado sobre quais os documentos que entregaram ao cliente, disse ser o modelo O e o titulo de propriedade provisório, emitido em nome da empresa de rent-car onde o seu parente alugou o carro algumas semanas antes de lho ter entregue para comercializar. Comprometeu-se a entregar os restantes documentos tao logo o comprador liquidasse a sua divida.

Contou ainda que o seu esforço em colaborar com os peritos da Direcção Provincial de Investigação Criminal para deterem o fornecedor de carros roubados ainda não surtiu o efeito esperado, por desconhecer a casa dele.