Luanda - Uma das "virtudes" do pronunciamento do PR a Nação é a de fazer vincar a sua posição (desejos e paixões) como sendo a vontade de todos (povo angolano).

Fonte: Club-k.net

A isso já nos acostumamos de tal maneira que sempre que vai falar as espectativas são enormes. Não porque venha a trazer alguma novidade (re) confortante. Mas porque o que ele diz é o que sabemos ser o objectivo a ser perseguido pela sua máquina (MPLA) mesmo que em detrimento do interesse colectivo. E por isso mesmo, é no fim do seu discurso que as ilusões do mais pacato cidadão desaparecem. Fora os dados estatísticos que num país sério nunca seria o PR a apresentar publicamente (aliás, estariam bem patentes nos meios de informação do Governo) como é o caso dos índices de mortalidade infantil e tudo o mais, no plano económico, por exemplo ficou claro que JES não quer que o EMPRESARIADO NACIONAL seja a mola impulsionadora do desenvolvimento. Prefere que a Economia Planificada (por meio de investimentos públicos) crie todas as condições para atrair o investimento privado e estrangeiro. Ou seja, primeiro a economia centralizada e só depois (se calhar muito depois mesmo) é que há espaço para a economia privada no desenvolvimento nacional. Ainda assim reconhece que o crescimento económico sustentável é o grande desafio que enfrentamos.

O mesmo padrão de prioridade JES transporta para o domínio político, preferindo “aprofundar” a Administração central do Estado do que falar em Autarquias Locais. Aliás, nesse capítulo ele foi bastante claro: "Prefiro ser realista e pragmático!” disse forrado de aplausos dos seus sequazes. Um realismo e pragmatismo que consiste em acusar a oposição de estar a perder-se em retóricas políticas ao invés de unir-se a ideia do MPLA sobre o processo de implementação de autarquias que feitas as contas não tem data para arrancar.

Para JES não é fácil fixar datas (timings) porque “uma equipa de juristas bastante experientes (não sei em quê)” aconselha um conjunto de passos a seguir para que as autarquias locais nasçam. E os passos são tão complexos que no fim o próprio JES se pergunta onde começar o processo de implementação sem avançar qualquer agenda nesse sentido. Então a oposição junta-se a quê? A ideia de que não devemos falar em prazos para implementar as autarquias locais? Infelizmente o PR não ajuda a responder as próprias questões que levantou.

No meio desse discurso que ficava muito bem para uma interpelação do Governo em que cada ministro falasse do seu próprio pelouro apresentando o seu relatório, veio a tona uma informação que nos deixou surpresos. É que não faz dias que andou a ser veiculada a informação de que o Instituto Nacional de Estatística não tinha especialistas para concluir o processo de recolha de dados demográficos iniciados com a campanha nacional do Censo de Maio de 2014.

O que nos levou a achar que ainda temos muitos dias pela frente para sabermos quantos angolanos (e estrangeiros) somos. Para a nossa surpresa o PR apresenta dados detalhados sobre o índice populacional em todas as províncias, os quais teve o cuidado de apresentar com números. Então esses dados vieram de onde? Serão dados reais resultantes da campanha do Censo ou são dados “fabricados” que passam a ser oficiais, até para efeitos eleitorais? Talvez o INE deva prestar alguma informação mais clara sobre isso.

Enfim…o PR falou, foram cerca de 50 minutos, em que no essencial ficou claro que não estamos no “rumo certo” de um Estado de Direito e Democrático (A LC (CRA) não se cumpre e a vontade do povo não é a mais importante) e de uma Economia de Mercado (os empresários privados não têm nem espaço e nem prioridade no processo de desenvolvimento de Angola)! Está dito!