Luanda - Mais do que as dificuldades no fornecimento de electricidade, para assegurar o funcionamento das indústrias, os empresários angolanos apontam a burocracia como "entrave" maior à actual "pré-industrialização" do país, que ainda tenta recuperar de décadas de guerra.

Fonte: Lusa
Porto de Luanda.jpg - 15.57 KBA posição foi assumida pelo presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), a propósito do Dia da Industrialização de África, que se assinala hoje, mas com José Severino a sublinhar que no caso angolano o cenário é ainda de "pré-industrialização".

"Importámos 70 por cento das nossas necessidades de bens de consumo e utilidades, de equipamentos é 100%. Por isso, na verdade, ainda estamos numa fase de pré-industrialização, porque houve uma desindustrialização, devido à destruição das infra-estruturas pela guerra, já que Angola era auto-suficiente [até 1975]", reconhece o representante dos industriais angolanos.

Com mais de 6.300 empresas a operar em Angola, segundo dados preliminares do recenseamento industrial em curso no país, os empresários nacionais pretendem ser "contribuintes" do crescimento do Produto Interno Bruto, num cenário de diversificação da economia além do petróleo. Algo que, diz, só será possível com taxas de crescimento anual "a dois dígitos".

"Crescer só a um dígito não corresponde às nossas necessidades materiais, nem às perspectivas de sermos um país competitivo, na região e no mundo", afirma José Severino.

A actividade industrial do país, fora do petróleo, tem vindo a ganhar peso em sectores como bebidas ou materiais de construção. Contudo, apenas 54 empresas de direito angolano podem ostentar nos seus produtos a marca "Feito em Angola", obedecendo para tal a critérios que obrigam a uma elevada incorporação nacional nessa produção, de matéria-prima a recursos humanos.

Com doze anos de paz, que se seguiram a cerca de três décadas de conflito armado, o presidente da AIA assume que o caminho da industrialização angolana ainda é longo, nomeadamente para reduzir a burocracia de todo o tipo de processos. E não tanto o défice de electricidade que ainda afecta o país, face às reais necessidades de consumo.

"Mas, às vezes, agarramo-nos à energia para justificar a nossa falta de eficácia. Não é o aspecto fundamental, há outros aspectos para não crescermos a dois dígitos, como a burocracia que temos", reconhece José Severino.

Além da aposta no interior, "onde estão as matérias-primas" nacionais, com "incentivos fiscais" à instalação, e ao longo das vias de comunicação estruturantes, como os caminhos-de-ferro, com interligação à fronteira, o presidente da AIA reivindica do Estado o "ajustamento" nos programas de financiamento aos empresários.

O Dia da Industrialização de África, que hoje se assinala, foi criado em Julho de 1989 em Adis Abeba numa reunião de chefes de estado e de governo da então Organização da Unidade Africana e adoptado em Dezembro no mesmo ano pela assembleia-geral das Nações Unidas.