Luanda – É assente o facto de que, a luta de libertação nacional, contra o colonialismo português, teve a participação global e efectiva de todas etnias e raças de Angola – em todo território nacional. A participação situou-se a vários níveis, através de uma resistência activa e passiva, aberta e coberta. Que consubstanciou-se na luta clandestina, na guerra de guerrilha e na luta diplomática.

Fonte: Club-k.net
A luta de libertação nacional fez-se no campo, nos centros urbanos e na comunidade internacional. A população rural colocou-se na linha de frente e servira de base de sustentação da luta política e militar. A guerra de guerrilhas, na sua implantação, tivera afectado a maior parte do território.

Em termos estrutural e organizativo, o nacionalismo angolano sustentou-se em três Movimentos de Libertação Nacional (UPA-FNLA/MPLA/UNITA), que serviram de veículos principais da luta política, militar e diplomática. Os três Movimentos de Libertação Nacional não só representavam as três correntes políticas do nacionalismo angolano, mas sim, a «base social étnica» dos grandes Reinos do Congo; do Dongo e da Matamba; e do Bailundo, respectivamente.

Cada um desses três Movimentos tinha no seu seio algumas personalidades influentes de outros Reinados. Mas isso não significaria que, a «base social étnica», deste Movimento, tivesse alterado a sua matriz. A título de exemplo, Daniel Chipenda (do Reino do Bailundo), era Vice-presidente do MPLA; Jonas Malheiro Savimbi (do Reino do Bailundo), era Secretário-geral da FNLA; Smart Gaston Chata (do Reino do Mwatchiyavwa), era Vice-presidente da UNITA, Co-fundador. Miguel N´Zau Puna (do Reino do Congo – Cabinda), era Secretário-geral da UNITA; Ngola Kabangu (do Reino do Dongo e da Matamba), era Vice-Presidente da FNLA; António Sebastião Dembo (do Reino do Dongo e da Matamba), era Vice-presidente da UNITA.

Na declaração de despedida no Parlamento, o nacionalista Lopo do Nascimento, do MPLA, reconhecera implicitamente este elemento, dos partidos políticos históricos representar, cada um deles, um grupo étnico-cultural e linguístico do país. Parece um tabu, mas é imperativo encarar o passado histórico com espírito aberto, com coragem e com lisura. Só assim será viável ter a noção exacta dos fenómenos sociopolíticos que se verificam no país e buscar soluções apropriadas.

Para este efeito, é importante distinguir entre o «sujeito» (aquele que age) e o «objecto» (o propósito ou a finalidade). O que está em causa, nesta matéria, não é o objecto, como tal. Mas sim, o sujeito, o actor, o protagonista, aquele que é a fonte do pensamento e da prática; enfim, aquele que tem o domínio da situação. O objecto, na essência, é variável, dependendo das circunstâncias concretas.

Sendo, nesse caso, o meio pelo qual o sujeito materializa o ideário. O ideário tem metas por alcançar, bem definidas, escalonadas, estratificadas e hierarquizadas. Por isso, na qualidade de objecto, o espaço de «inclusão social» é bastante amplo, de acordo como enquadramento do ideário. Quem define o ideário, é o sujeito, o dono do pensamento e de acção concreta.

Parafraseando, o sujeito é a «super estrutura» de um Partido. Ao passo que, o objecto é o «conjunto de alvos e metas» definidos no ideário. O alvo é essencial, mas não é o factor determinante. Quem determina a definição, o escalonamento, a estratificação e a hierarquização dos alvos e das metas é a super estrutura. Pois que, a «base social étnica» de um Partido Politico é fundamental na concepção e na edificação de um Estado-Nação.

Um Partido fundado no espírito e na alma de uma etnia, tem dificuldades de se libertar da sua Doutrina. Não obstante o alargamento da sua acção política ao nível do País. O sentimento étnico-cultural, fundado nesses valores, será sempre a «ideia-condutora do círculo interno» deste Partido, como vanguarda e sustentáculo do poder político.

Isso não significa que não tenha a visão nacional; tem sim, mas na base de que, a super estrutura (sujeito) assenta-se moralmente na base social étnica, que serve de locomotiva que se encarrega de arrastar consigo as carruagens. Esta base social étnica, na super estrutura, estabelece a sua autoridade suprema. Isso desenvolve-se de forma subtil e disfarçado a fim de distrair a opinião pública.

A maior parte dos Partidos históricos africanos defrontam-se com esta realidade, que tem sido o factor principal de rivalidades interétnicas e de rupturas partidárias. No caso especifico de Angola, os louros da independência nacional cabe exclusivamente ao Reino do Dongo e da Matamba, na pessoa do MPLA, como único protagonista.

As lutas renhidas empreendidas pelo Reino do Congo (FNLA) e pelo Reino do Bailundo (UNITA), além de ser ignoradas, são totalmente distorcidas pelo Regime do MPLA. A Historia de Angola resume-se no MPLA e no Reino do Dongo e da Matamba.

O ridículo atinge o ponto de disfarçar os Acordos de Alvor, celebrados entre os três Movimentos (FNLA/MPLA/UNITA) de Libertação Nacional e o Movimento (MFA) das Forças Armadas de Portugal. As imagens históricas da Cerimónia solene da Assinatura dos Acordos do Alvor, aparece apenas o António Agostinho Neto e a Delegação Portuguesa.

Os outros, Álvaro Holden Roberto (Presidente da FNLA) e Jonas Malheiro Savimbi (Presidente da UNITA), que sentaram na mesma mesa, são sempre ocultados. Isso, por si só, revela as intenções maléficas, anti-patrióticas, que se esconde por detrás desta postura. Ainda mais, os Heróis Nacionais são todos do MPLA, com destaque aos membros do Reino do Dongo e da Matamba. Esses factos, inquestionáveis, são sustentadores desta tese, da «base social étnica», como Doutrina do Nacionalismo Angolano.

Com efeito, está em curso uma campanha oculta e sistemática, pelo regime, de incutir implicitamente na mente dos angolanos o mito segundo o qual, o Reino do Dongo e da Matamba, através do MPLA, é que tivera combatido sozinho o colonialismo português e tivera liberto Angola.

A resistência titânica desenvolvida no Norte e no Leste de Angola, pela FNLA e UNITA, respectivamente, não se faz menção nenhuma pelo Regime Angolano. Portanto, a exclusão e a discriminação política e étnico-cultural estão por detrás desta postura regionalista e anti-patriótica.

No fundo, este fenómeno visa estabelecer a supremacia étnica sobre outras etnias do país. Este elemento tem sido o factor desagregador, que inibe e dificulta a edificação de uma Nação, integrada por todos grupos étnicos, una e coesa – na liberdade e na igualdade.

A Visão do MPLA, da edificação de uma Nação, baseia-se no princípio da supremacia de um reino sobre os outros reinados. Ou seja, na fusão de todas culturas étnicas num só reinado, cuja entidade étnico-cultural e linguística está bastante fragilizada pela aculturação e assimilação luso-brasileira. Pois, em termos da estrutura orgânica e hierárquica, o Reino do Dongo e da Matamba é inexistente. É utilizado somente para servir-se da sua base social étnica, como núcleo do poder, com fim de irradiar e consolidar a influência partidária, ao restante do país.

Seja como for, é questionável se a fundação do MPLA tivesse a inspiração social e étnico-cultural do Reino do Dongo e da Matamba. A verdade é que, tinha a base social étnica da origem lusíada. Pois, os fundadores do MPLA foram Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Lúcio Lara e Aníbal Melo.

Ao passo que, o «Processo 50» tinha uma base social sólida, multiétnica e multirracial, com raízes bem assentes no Reino do Congo e no Reino do Dongo e da Matamba. Contudo, o «Processo 50» não era da matriz política do MPLA ou da UPA. Era, sim, um Movimento Patriótico mais profundo, mais representativo, mais esclarecido e mais ousado contra a injustiça e a barbaridade do regime colonial português.

Logo, o que está a verificar-se hoje no País, é um processo subtil e disfarçado da colonização doméstica, por uma elite política burguesa, que não tem raízes bem assentes nas comunidades locais autóctones. De modo antecipado, é importante afirmar o facto de que, o Conceito da «base social étnica» não só afecta o MPLA, mas sim, a FNLA e a UNITA. Se o MPLA não estivesse no poder, estaria na mesma condição, de ruptura interna profunda e do desmoronamento gradual, como se verifica constantemente nos outros dois Movimentos de Libertação Nacional.

Alias, o MPLA aproveita-se desta fragilidade para desagregar internamente as fileiras dos outros dois Movimentos, apoiando-se na riqueza do País e no Poder do Estado. O desaparecimento gradual desses Movimentos ajuda em apagar a História real do Nacionalismo Angolano; reforçando a tese de que, o MPLA tivera sido o «Único Movimento» que libertara o País do jugo do Colonialismo Português.

De qualquer forma, a dissidência, além de outros factores, resulta-se da teoria da «base social étnica», como sendo o suporte e alavanca da super estrutura partidária. Os Quadros mais esclarecidos, com a Visão moderna, de partidos multiétnicos e multirraciais, com pensamento transparente, assente na «base social ampla e global, de todas etnias e raças» (para assegurar uma super estrutura partidária), dificilmente aceitarão submeter-se às teorias caducas e antidemocráticas.

Por conseguinte, na era contemporânea, em qualquer Instituição, o “Mérito” é o “Principio” cientifico mais eficaz que permite identificar e escolher, com transparência, os dirigentes capazes. Caso contrário, um Barack Obama, de uma comunidade minoritária negra, de menos de 13% da população dos EUA, dominados pela comunidade branca, não teria sido capaz de chegar à Casa Branca, e estar à testa do Mundo.

Logo, esta tese, sobre a «base social étnica», visa abrir o debate objectivo e contraditório sobre o Nacionalismo Angolano, no sentido de revelar alguns tabus, que têm o potencial de minar a coesão e a unidade nacional. Incentivando, deste modo, os focos do etnocentrismo, do regionalismo, do racismo e do secessionismo, que têm estado a ganhar raízes nalguns círculos da sociedade angolana.