Um mar de problemas


“Nós já fomos à administração para resolver a nossa situação, mas até aqui nada foi feito. Estamos à espera há muitos anos. A maioria das casas aqui vive de gerador e os que não têm condições para comprá-los, são obrigados a viver dos candeeiros a petróleo ou velas”, contou Armando Baião.

Com 50 anos, Luzia Francisco, também moradora no bairro da Camuxiba, está preocupada com os alimentos. “Minha filha, temos gastado muito dinheiro. Não conseguimos conservar nada nos frigoríficos, as nossas arcas viraram armazéns de baratas. Ver televisão é uma vez por outra porque se um dia nos dão luz, uma semana ficamos às escuras.”
Desde 1983 que os moradores da Rua Solimar, no bairro da Camuxiba, não consomem energia da rede. As chamadas três fases não são para qualquer um, nem mesmo as ditas “puxadas”. Para os moradores, a outra opção para sair das escuras são os “ Fofa Ndó”, geradores que têm ajudado e também têm “assassinado” muitos luandenses. Mesmo assim, gerador é para quem tem bolso.

“O problema da luz, decidi tratar. Sentei-me algumas vezes com a EDEL, para resolver a situação e já está a ser construída uma subestação eléctrica no município”, disse à nossa reportagem, Reis Fançony, administrador municipal da Samba, acrescentando que existem PT instalados mas se a electricidade não chega lá, nada feito.

Reis Fançony disse que a electricidade não chega ao município por diversas razões e duas delas, são a insuficiência e a fraca potência. “A EDEL deu uma explicação plausível, que os munícipes não conhecem, por isso é que estão descontentes, porque são eles que vivem sem energia. Mas este problema não tem nada a ver com a administração e, se calhar, não tem a ver totalmente com a EDEl. A verdade é que estamos a aumentar os níveis de tensão, para que todos tenham luz. O que posso dizer, é que nós, na Samba, dentro de pouco tempo estaremos bem, no que diz respeito à luz.”

Garimpeiros da água

Sobre a água, Reis fançony reconheceu que tem havido reclamações por parte dos munícipes, pelo facto da água não estar a chegar ao município. “Alguns moradores juntaram uma soma avultada em dinheiro para que fosse restabelecida a água na zona. Mas o caudal é insuficiente. Eu mesmo estive lá com o presidente da administração da EPAL e conversámos com os moradores do Kifica. O problema da água no município é mesmo a falta de caudal”. Outro motivo da falta de abastecimento de água, disse Reis Fançony, “é o garimpo, as condutas são sabotadas para a venda ilegal de água nos camiões. Este trabalho é feito por alguns moradores, que não sabem que perfurando as condutas, enfraquecem o caudal e a água não chega onde devia. Mas já estão a ser tomadas medidas para acabarmos com estes garimpeiros”, garantiu o administrador.

Saúde e saneamento

A questão da saúde e do saneamento básico é uma das prioridades para a administração da Samba. Reis Fançony disse que a cólera e o paludismo são as doenças que mais afectam o município, devido “às montanhas de lixo espalhadas por algumas comunas”. O administrador revelou que existe no município uma vala grande, que ainda não foi concluída, e “é fonte de doenças para os munícipes. Ali acumula-se muito lixo, abundam as ratazanas e há águas paradas. As pessoas vendem mesmo ao lado das águas paradas e as moscas pousam nos produtos”, disse Reis Fançony.

“Nós temos aqui na Samba uma vala grande que ainda não foi concluída por culpa dos munícipes, porque construíram ilegalmente casas no trajecto da vala e estão a pedir preços exorbitantes para saírem de lá”, disse, acrescentando, que uma das formas para resolver o problema, é a construção de um mercado no município. “Temos um projecto para a construção de um mercado. Apesar de ser tanta gente a vender, esperamos albergar o maior número de vendedoras e impedir que as águas da chuva alcancem o mercado. Temos ainda feito campanhas de educação cívica e educação para a saúde dos munícipes.”

Centro de lazer

No município da Samba, neste novo ano, os projectos estão fundamentalmente virados para a luz, água, educação, saúde e saneamento básico, como garante o administrador. “A nossa maior preocupação é tratar do saneamento básico, da água, luz, saneamento básico e educação, porque este ano não queremos ver nenhuma criança fora do ensino escolar.”
O administrador informou que o dinheiro disponibilizado pelo Governo, no âmbito do Programa de Investimento Municipal (PIM), está a ser bem aplicado. “Temos usado os fundos na construção de infra-estruturas que já estão concluídas, e outras por concluir.”

Neste momento, disse, está concluído um Centro de Lazer que vai ter seis espaços entre os quais uma conservatória para registo de crianças, uma sala de informática, uma biblioteca e uma área de identificação, tudo na área da Camuxiba.
“Foram também criados dois campos desportivos polivalentes para a juventude, construímos centros de saúde, e outros foram reabilitados. Os munícipes contam também com uma escola já concluída. Neste momento estamos na campanha dos chafarizes, dois estão praticamente prontos, um no Museu da Escravatura e outro no Chinguar”, disse à nossa reportagem o adminstrador municipal da Samba, Reis Fançony.

Em Setembro, os alunos da Escola Primária 1002 foram transferidos para uma outra escola, devido ao estado degradado em que se encontra.

A administração alugou uma casa para que os alunos não perdessem o ano lectivo, enquanto aguardavam pela reparação. “Neste momento, estamos a depender das obras”, disse Francisco Perestrelo, director da escola primária.

“Esperamos que seja breve a reparação da escola, porque as notícias que temos são sempre as mesmas, que ela vai ser reparada, mas quando, isso não se sabe”, disse o director.
 
Este ano, e porque as instalações provisórias são muito pequenas, a escola vai reduzir o número de alunos. “Enquanto não voltarmos para a nossa escola, não vamos poder colocar todas as crianças a estudar nos três períodos, a casa é pequena. Neste momento a escola tem sete salas de aula, por isso vamos reduzir o número de estudantes”.

Reis Fançony disse que esta foi a sua primeira preocupação, porque a escola estava mesmo mal, “tanto mais que transferiram os alunos para uma outra, para trabalharmos porque aqui há muita infiltração de águas. A área onde está localizada a escola é pantanosa, nada apropriada para construir”, disse o administrador da Samba.

“Já existe um projecto para a reparação da escola, mas o preço levava quase metade do nosso orçamento e havia outras questões a cuidar, por isso temos adiado a reparação”, afirmou Reis Fançony.

Neste momento, continuou, estamos a trabalhar para que nenhuma criança fique fora do ensino. “A indicação da governadora de Luanda é que nenhuma criança fique fora do ensino escolar, por isso, tudo está a ser feito para que tenhamos todas as crianças a estudar”, disse a concluir o administrador da Samba.

* Yara Simão
Fonte: JA