Luanda - A “Filosofia Política da Libertação para Angola: ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura ”, é radicalmente pacífica, fraterna, mas realista. Na luta contra a opressão, existem três caminhos possíveis: a guerrilha, como a de Cabinda por exemplo; a guerra convencional, do tipo que a UNITA levou a cabo e o “desafio político” que é sinónimo de “desobediência civil”. 

Fonte: Club-k.net

"O maior medo do ditador é quando as pessoas decidem ser livres”

O grupo hegemónico e o ditador, atingiram um nível de ascensão no controle da sociedade em que o único caminho parece-me ser a via pacífica, a resistência civilizada ao estilo de Mahatma Ghandi, Nelson Mandela e todas as resistências contemporâneas que assistimos na Tunísia e no Burkina Faso.

É realista desencadear o desafio político ou a desobediência civil frente a um regime feroz, selvagem e delinquente? Sim! Mas não é fácil e nem sequer deve ser num piscar de olhos. A luta contra a ditadura deverá durar anos. Os democratas pacíficos deverão cultivar uma “ética da libertação” onde a paciência, a inteligência, o planeamento são fundamentais para ir destruindo a ditadura paulatinamente e no momento exacto levar à cabo um movimento de grandes proporções em massas populares.

Segundo Desmond Tutu, “muita gente pensa que as armas de fogo são fonte de medo do ditador. Não. O maior medo do ditador é quando as pessoas decidem ser livres”. Pegar em armas levaria a ditadura à agradecer, na medida em que teria legitimidade tanto interna quanto externa para exterminar. Por outro lado, usar armas seria atingir um dos ângulos mais fortes do ditador. Ele tem mais armas que os democratas (que se pode obter), assim como logística e toda engenharia financeira. Usar armas demonstra que somos igualmente selvagens como o ditador e perderíamos autoridade moral e legitimidade democrática.

Um país como Angola, em que os seus filhos foram mortos aos montes pelo regime colonial português, quadro similar sucede/u com novo regime de “colonização interna” que prolonga as mortes até hoje, por isso, a opção pela guerra convencional ou guerrilha, prolongaria o sofrimento e não nos dá nenhuma garantia de victória. Pelo contrário, a guerra fortalece a ditadura e a experiência histórica prova isto. É exactamente isto que o grupo hegemónico quer novamente!

Um aspecto importantíssimo, o qual os democratas contra a ditadura devem ter em conta é a actual conjuntura geopolítica e geoestratégica internacional. A relação entre Angola e a China coloca os países ocidentais na corrida para terem acesso a parte dos recursos. Muita gente crítica tal atitude. É uma crítica ingénua. Todo povo e governo inteligente, na História Universal, correm em defesa dos seus interesses. Isto é o que eu faria também. Nenhum governo ocidental tem o dever, numa lógica unilateral de ajudar-nos (o povo) quando isto pode pôr em causa seus interesses.

Aliás, seria humilhante se nós não conquistássemos a nossa liberdade, e um estrangeiro o fizesse. Se assim for, será simulacro de liberdade. Uma possível ajuda externa para o derrube do poder não é desejável, sob pena de transformarmos a liberdade para qual lutamos numa miragem e darmos mais uma vez nosso destino colectivo ao estrangeiro.

Uma vez que as forças internas estão domesticadas – os artistas, a igreja, os empresários, as forças militares, a administração pública, a midia, as autoridades tradicionais, espaços do conhecimento, a oposição parlamentar, os desportistas, as ONGs e associações ─ incluindo a comunidade internacional e agências das Nações Unidas, resta-nos desde logo contar única e exclusivamente com as nossas forças colectivas que se podem construir na base da solidariedade, tendo como factor de unidade a luta pela liberdade, democracia e dignidade humana.

Se formos capazes de mobilizar os oprimidos, certamente terão confiança para acreditar na sua capacidade de desintegração e erosão definitiva da ditadura. No momento em que estivermos na rua em massa, dar-se-á o desequilíbrio na correlação de forças a nosso favor e dali a comunidade internacional apoiará as forças pro-democracia.

Neste momento de apoio da comunidade internacional, sejamos tão racionais quanto na longa marcha que levou a desintegração da ditadura, porque tal auxílio não será desinteressado. Visa sempre manter interesses. Este é um ponto-chave para que as forças democráticas possam mostrar ao povo que são diferentes do antigo regime. A diferença residirá na capacidade de celebrar acordos que beneficiem o colectivo, que traga prosperidade. Os acordos devem ter uma marca claramente social e de esquerda, demarcando-se da chaga neoliberal.

Em síntese vale reter o seguinte: a) a luta pacífica – desafio político ou desobediência civil ─  é o melhor caminho para a conquista da liberdade e democracia; b) a guerra não garante victória aos democratas e as possibilidades de perdas humana do lado das forças democráticas é inevitável; c)um Golpe de Estado representa retrocesso civilizacional e viabilizaria o nascimento de nova ditadura militar; d) o povo angolano é “órfão”, por isso, deve contar exclusivamente com as suas forças internas que virão da solidariedade e da confiança colectiva; e) as possibilidades da comunidade internacional ajudar-nos, são boas quando já estivermos há segundos de ruir o edifício da ditadura; f) Finalmente, os democratas devem ter cuidado com ajudas de última hora porque visam interesses.

Caso sejam necessárias, há que celebrar acordos que beneficiem socialmente os cidadãos. E de preferência envolver as múltiplas fontes de poder democrático nas negociações como forma de demarcar-se da imagem anterior. Os acordos devem ser claramente de esquerda.

[O texto continuará]