Lisboa - A 21 de Outubro de 2013, os accionistas do BES Angola (BESA) reuniram em assembleia-geral extraordinária para analisar os problemas na carteira de crédito do BES. Os principais accionistas (general Kopelipa e Dino) estavam presentes e esperavam obter explicações de Álvaro Sobrinho em relação aos cerca de 5,7 mil milhões de dólares em créditos problemáticos, com financiamentos a clientes desconhecidos, sem finalidade conhecida e com processos de análise de crédito incompletos. Na sua audição na comissão de inquérito, Sobrinho desmentiu o teor da acta do BESA. Mas o documento, a que o Diário Económico teve acesso, está assinado pelos responsáveis dos órgãos sociais do banco.

Fonte: Economico

A linguagem formal características deste tipo de documentos não consegue disfarçar o ambiente de tensão em que as reuniões terão decorrido.

A assembleia dividiu-se em duas reuniões: a 3 e 21 de Outubro. Na primeira, Sobrinho ter-se-á oferecido para ajudar a nova gestão do BESA, liderada por Rui Guerra (que substituíra o gestor angolano em Dezembro de 2012), a identificar os beneficiários desses financiamentos ou respectivos procuradores.

A 21 de Outubro, estava presente Ricardo Salgado em representação do BES, bem como os generais angolanos Leopoldino Fragoso do Nascimento (da GENI) e Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa" (da Portmill).

Tal como se comprometera no dia 3, Sobrinho apresentou alguns dados adicionais sobre os processos de crédito, mas os accionistas de referência não terão ficado satisfeitos.

O general Leopoldo Fragoso do Nascimento foi o primeiro a tomar a palavra , seguido do general "Kopelipa". Ambos pediram a Sobrinho que explicasse o processo de concessão de crédito do banco, para saber se os devedores dos créditos tinham capacidade para os pagarem.

Segundo o documento, Álvaro Sobrinho terá respondido que, "enquanto responsável executivo pela gestão do BESA, sempre reportou toda a informação relevante ao Conselho de Administração do BESA, sendo que este Banco sempre dispôs de uma maioria de administradores nomeada pelo BES". Acrescentou que, no ‘board' do BESA, sempre esteve disponível para prestar todos os esclarecimentos necessários".

"O BESA sempre prestou informação detalhada ao seu accionista principal, nomeadamente a respeitante a grandes riscos, bem como à entidade de supervisão, o Banco Nacional de Angola", frisou Sobrinho. Explicou ainda que assinou sozinho várias operações de concessão de crédito devido ao facto de estar "muitas vezes sozinho na administração do BESA, sem a presença de outros administradores, e que o Banco precisava de continuar a exercer a sua actividade". Sobrinho assumiu que "errou por não ter os procedimentos mais adequados" e que "não é pessoa para fugir e virar as costas às dificuldades".

Salgado demolidor

Entrou então em cena o presidente-executivo do BES, Ricardo Salgado, com quem Sobrinho estava já incompatibilizado há cerca de um ano. O líder histórico do BES assumiu então o interrogatório de Sobrinho: perguntou-lhe porque razão não existiam acta do Conselho de Crédito, ao que o gestor angolano respondeu que não era esse o procedimento no BESA. Salgado afirmou então, em tom demolidor: "os procedimentos do BESA explicados pelo Dr. Álvaro Sobrinho não são compatíveis com os critérios internacionais propostos pelas entidades de supervisão nem com as práticas uniformes do Grupo BES, não sendo admitidos em termos internacionais, quer no que respeita à sua formalização, quer no que respeita a assinaturas individuais, especialmente se se confirmar o que foi referido pela Comissão Executiva, que existiram operações aprovadas apenas pelo então responsável pelo risco, o Dr. João Moita, ou pelo Presidente da Comissão Executiva, Dr. Álvaro Sobrinho."