Lisboa - Álvaro Sobrinho recusou dar informação sobre a identidade dos clientes do BESA. Mas fez questão de sublinhar que não era o banco da elite angolana. "O banco não dava crédito ao regime angolano, dava crédito a clientes".

Fonte: Jornaldenegocios.pt

"Sobre clientes do BESA não falo. Estou obrigado ao segredo bancário. Se as pessoas que aqui vieram remeteram para um jornal...", afirmou Álvaro Sobrinho invocando indirectamente o nome de Ricardo Salgado para justificar a recusa em dar informação a clientes.

"O banco não dava crédito ao regime angolano, dava crédito a clientes", sublinhou o antigo banqueiro.

Álvaro Sobrinho recusou, por exemplo, falar das relações do construtor José Guilherme, que terá dado um presente de 14 milhões a Ricardo Salgado, com o BESA. "É mais um cliente. Não posso falar sobre as relações com o BES Angola. Absolutamente nada".


"Era impossível o BESA dar créditos a empresas relacionadas a mim"

"Era impossível dar créditos a mim próprio. A lei angolana proíbe créditos a partes relacionadas", disse Álvaro Sobrinho.


Álvaro Sobrinho recusa a ideia de que o próprio tenha recebido créditos do BES Angola, que liderava, através de sociedades a sim relacionadas.

"A resposta é assim: era impossível dar créditos a mim próprio. A lei angolana proíbe créditos a partes relacionadas", respondeu Sobrinho à deputada bloquista Mariana Mortágua, na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES.

O Expresso noticiou, em Junho, que se acredita que o BESA cedeu créditos a sociedades ligadas a Álvaro Sobrinho enquanto este era o presidente daquele banco (de 2002 a 2012).

A resposta de Sobrinho foi dada na segunda pergunta sobre o mesmo tema, já que, na primeira questão, o antigo gestor se recusou a responder: "Já extrapolei muito o limite sobre a informação dos clientes de Angola. Mais do que isso não posso".

Sobrinho garantiu que nem a Newshold nem a Pineoverview receberam dinheiro do BES Angola. Este banco, em que o BES tinha mais de 50%, cedeu créditos de 5,7 mil milhões de dólares a que se perdeu o rasto. O BES tinha uma exposição superior a 3 mil milhões de euros, o que justificou que dois terços dos 4,9 mil milhões de euros injectados no Novo Banco.

Sobrinho acusa administração do BESA de ter dado mais crédito que ele

"Se estava tão mau, como é que se justifica o crédito crescer no espaço de praticamente um ano?", questionou Álvaro Sobrinho.

Álvaro Sobrinho deixou acusações à administração do BES Angola que o sucedeu por ter aumentado o ritmo de concessão de crédito na instituição.

"Se analisarem a carteira de crédito que nós deixámos na minha legislatura, no meu mandato, ela era de cerca de 6,7 mil milhões de dólares. Em Junho de 2014, um ano e meio depois, este valor passou para 9,2 mil milhões. Se fizerem uma média aritmética, o crédito cresceu duas vezes mais do que crescia anualmente".

Sobrinho, na declaração feita na audição desta quinta-feira, 18 de Dezembro, na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, afirmou que nesse período os depósitos decresceram. Daí que diga que o rácio de transformação (que compara os créditos com os depósitos) do BESA estará mais elevado, agora.

"Se estava tão mau, como é que se justifica o crédito crescer no espaço de praticamente um ano?", questionou Álvaro Sobrinho, dizendo que essa foi a razão para Salgado caracterizar a situação que encontrou no banco como "pavorosa".

Sobrinho deixou duas frases sem as terminar. "As pessoas que vieram para resolver os problemas e a ‘governance’ do banco..."; "Se o problema era do crédito...".