Luanda - Integra do Discurso do Presidente da UNITA, Isaías Samakuva  por ocasião  dos cumprimentos de Fim d' ano.

Fonte: UNITA

Caros compatriotas,

Estamos mais uma vez a chegar ao fim de mais um ano. Estamos a fechar mais um círculo de tempo que desta vez se chamou ano de 2014.

Olhando para trás, podemos dizer que este foi mais um ano de labuta e de luta que se revelou bastante rico em acontecimentos marcantes do século XXI. Quando me preparava para este evento, perguntei várias vezes sobre o que iria dizer-vos hoje.

Pensei vir aqui e repetir as nossas lamentações sobre as nossas tristezas, resultantes do nosso sofrimento e das nossas apreensões sobre o nosso dia-a-dia.

Também pensei vir aqui saudar cada um de vós como o fizemos, tomar uma taça de bebida, saborear um pedaço de bolo e conversar com colegas e companheiros, num acto de relaxe próprio da época de Natal.

Porém, nesta passagem de ideias e de imagens que nesses momentos passam e trespassam pela memória, lembrei-me, de um discurso do saudoso Presidente Fundador, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, feito num período similar, em que se referia ao facto de que, o fim ou o início do ano é altura de fazer balanços e ver se a “loja” que gerimos fez lucros ou se fez prejuízos; se ela pode ainda continuar aberta ou se é o momento de fechá-la.

Então achei que devia também aproveitar esta oportunidade para fazer algum balanço do nosso ano que estas prestes a terminar.

Mas eu vou deixar que cada um de nós faça o balanço da sua “loja” individual porque o que vou fazer aqui é passar em revista o que foi o nosso ano de 2014 tanto enquanto cidadãos do mundo como também cidadãos angolanos mencionando, naturalmente, apenas alguns acontecimentos mais relevantes do nosso planeta.

Assim, registei o seguinte:

No plano da paz e da segurança mundial, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), grupo extremista que controla vastas áreas da Síria e do Iraque, declarou no dia 29 de Junho a instauração de um califado islâmico, enquanto que na Nigéria um grupo radical islâmico raptou mais de 200 meninas.

Na Ucrânia, o Parlamento destituíu do poder o presidente Victor Yanukovich. O governo russo não reconheceu o novo governo ucraniano e decidiu invadir a Crimeia, formalizando depois o processo de anexação da Crimeia à Rússia.

Na Europa Ocidental, a Escócia disse não à independência do Reino Unido em referendo nacional, enquanto que na Península Ibérica 80% dos catalães votaram pela independência numa consulta informal.

Entretanto, vários governos da União Europeia reconheceram o Estado palestino.

O Prémio Nobel da Paz 2014 foi para as mãos de Malala Yousafzai, uma jovem paquistanesa que chamou a atenção do mundo para o direito à educação, e de Kailash Satyarthi, um activista indiano pelos direitos das crianças.

A agência de refugiados da ONU anunciou que o número de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a guerras ou perseguição superou a marca de 50 milhões em 2013 pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Enquanto isso, os Estados Unidos resolveram restabelecer relações diplomáticas com CUBA, depois de 53 anos de bloqueios e incompreensões.

No domínio da saúde, o mundo viu surgir a epidemia de ebola, que, segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicado no passado dia 7, ceifou 6.113 vidas em vários países, dos 17.256 casos detectados em menos de um ano. A ONG Médicos Sem Fronteiras declarou a epidemia como “sem precedentes” tanto em casos de mortes quanto em termos de expansão geográfica.

No campo religioso, quatro acontecimentos merecem destaque: a canonização do Papa João XXIII e do Papa João Paulo II; a beatificação do Papa Paulo VI; e a nomeação, na Inglaterra, da primeira mulher para o cargo de Bispo da Igreja Anglicana.

No que diz à calamidades, o ano também conheceu desastres aéreos, dos quais destacamos dois: em Março, um avião B777-200 com 239 passageiros, da Malaysia Airlines, desapareceu sem deixar rasto na rota Kuala Lumpur – Pequim. Em Julho, o vôo MH17, também da Malaysia Airlines, que voava de Amsterdão a Kuala Lumpur, foi abatido por um míssil disparado na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia por um sistema antiaéreo, fazendo 298 vítimas.

No mundo dos negócios, a empresa Facebook comprou o WhatsApp por 16 mil milhões de dólares, a Microsoft integrou a Nokia e encerrou o suporte ao Windows XP e ao Office 2003, dando-os como mortos. Enquanto isso, cresceram os ataques focados em sistemas de point-of-sale (POS) para roubar informações de cartões de consumidores.

Os ataques usam malwares capazes de roubar informações da faixa magnética do cartão de crédito enquanto ela é lida pelo computador, antes que o dado seja criptografado.

Em Portugal, o império Espírito Santo ruíu com impacto ainda não completamente descortinado para Angola. Das cinzas do BES nasceram dois novos bancos: o "Novo Banco" para garantir os depositantes desta instituição em grave crise ao passo que os investidores ficam inseridos num "banco mau".

O ex-primeiro ministro do Governo português, José Sócrates, foi detido em Novembro, à chegada ao aeroporto de Lisboa, no âmbito de um processo em que se investigam crimes de fraude fiscal branqueamento de capitais e corrupção.

No mundo das artes, o ano que agora finda registou as mortes de Eusébio da Silva Ferreira, lendário do futebol português e mundial, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, o "pai do realismo mágico" e do actor norte americano, Robin Williams. Entretanto, o nosso Barceló de Carvalho Bonga, foi condecorado pelo Governo Francês ante o olhar indiferente do seu próprio país!

A Alemanha venceu o Mundial de futebol de 2014, ao derrotar a Argentina na final por 1-0 e depois de cilindrar o anfitrião Brasil por 7-1 nas meias-finais.

Aqui, entre nós, durante o ano de 2014, consolidou-se o regime autoritário de matriz sultânica. A supremacia da Constituição continuou a ser substituída pela vontade de um só homem.

A democracia tornou-se uma miragem e a reconciliação nacional uma quimera.

Consolidou-se a ideia de que um grupo de predadores que se confunde com o Estado agride os direitos fundamentais dos angolanos e utiliza o sistema financeiro nacional para executar operações ilícitas de branqueamento de capitais, enriquecimento ilícito e corrupção, dentro e fora de Angola, perante um sistema de justiça que se mostra incapaz de investigar e julgar tais crimes.

A exclusão social continuou e o sofrimento do nosso Povo é cada vez mais visível.

Compatriotas:

No fundo, tudo isso junto, convida-nos à humildade porque recorda-nos que somos meros mortais, e que tudo afinal é vaidade. Ensina-nos que o poder público é efémero, que o roubo não compensa, a ostentação é enganosa e a corrupção é traiçoeira. Viver em verdade, com honestidade e governar com transparência é e será sempre a melhor forma de preservarmos um bom nome.

De facto, “o bom nome vale mais do que muita riqueza...” (Prov. 22:1).

Compatriotas:

Se o ano de 2014 foi marcante para o mundo em geral, o ano de 2015 será particularmente marcante para o nosso país. Por razões políticas, económicas e sociais.

A queda nos preços do petróleo, a corrupção e a má governação irão agravar a inflação, o desemprego e a já fraca qualidade dos serviços públicos. O défice poderá disparar para 14 por cento, quase o dobro do desequilíbrio orçamental de 7,6% previsto pelo Executivo. Isto poderá levar o país para uma recessão no próximo ano segundo estimam alguns peritos na matéria (Capital Economics).

Por tudo o que sabemos, podemos afirmar que o ano 2015 reserva-nos grandes desafios. Não escondemos a dimensão e a urgência dos desafios que se nos colocam, mas também não os receamos.

Vamos confrontar os grandes problemas do nosso país com os olhos bem abertos e afugentar o medo paralisante. Temos de confrontá-los com serenidade, patriotismo e realismo.

Em política, resposta realista aos grandes problemas consiste na procura e concretização de soluções adequadas à dimensão dos problemas que nos afligem e que temos o dever de não permitir que nos levem novamente à situação de escravos.

Temos de nos posicionar para o futuro AGORA, porque a gravidade da situação do país, exige de todos nós, medidas concertadas e ousadas que nos permitam resgatar a dignidade da nossa cidadania e construir o futuro.

O Natal apresenta-se como uma excelente oportunidade para fazermos uma reflexão profunda sobre o nosso País pelo que convido por isso todos os angolanos, meus compatriotas, para transformarmos esta quadra natalícia numa jornada de reflexão em busca da solução real para a situação que vivemos em vários domínios.

Vamos continuar divididos apenas porque pensamos de forma diferente? Vamos continuar a sofrer por causa da má gestão de uns poucos que se passeiam vaidosos pelo Mundo à custa da riqueza de todos nós? Vamos continuar a ouvir a canção de que estamos a subir quando até aos nossos bancos falta todos os dias o sistema que nos impede utilizarmos o nosso próprio dinheiro aí depositado? Vamos continuar a viver pobres num país com tanta riqueza de que uns poucos desfrutam a seu bel-prazer?

Apesar das dificuldades que se anunciam, acho que o ano de 2015 pode ser o ano de darmos o grande salto para o desenvolvimento. Acho que já perdemos todo o tempo que podíamos perder. Devemos saber que ninguém fará por nós o que nos incumbe fazer.

Desejo a todos um bom Natal e um Ano Novo cheio de prosperidade.

Muito obrigado.