Luanda - Angola dá por encerrado o que classifica de ciclo de “males entendidos” com Portugal. Após uma audiência, esta segunda-feira de manhã, em Luanda, com o Presidente José Eduardo dos Santos, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, mostrou-se grato com esta nova posição.

Fonte: Público
jes assina decreto.jpg - 8.74 KB“O senhor Presidente disse algo que eu fiquei particularmente grato”, anunciou o chefe da diplomacia portuguesa: “Ele acentuou que se encerrava um ciclo em que tinha havido um ou outro mal-entendido e que agora as coisas estavam naturalmente límpidas e caminhando muito bem”.

Em Outubro de 2013, José Eduardo Dos Santos afastou uma parceria estratégica com Portugal. Foi este o ponto mais crítico das relações bilaterais, na sequência de investigações do Ministério Público português sobre interesses e actividades de algumas personalidades angolanas.

Foi deste modo que a primeira cimeira bilateral entre os dois países, inicialmente prevista para Fevereiro do ano passado em Luanda, foi adiada sine die. Embora em Julho de 2014 o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, tenha afirmado o seu optimismo sobre as relações bilaterais durante uma visita à Feira Internacional de Luanda: “As relações económicas entre Angola e Portugal são fortíssimas, eu diria mesmo que não há nenhum outro país no mundo com quem Portugal tenha uma relação tão intensa como com Angola”.

Já este ano, em Brasília, aquando da tomada de posse da Presidente Dilma Rousseff, Portas manteve um contacto com o vice-presidente angolano, Manuel Vicente. “É muito bom sinal do nível dos relacionamentos de Portugal e Angola começar com uma reunião a este nível”, comentou o vice-primeiro-ministro português.

No entanto, na sexta-feira passada, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, referiu que a visita do seu homólogo português serviria para avaliar a cooperação entre os dois Estados, e antecipou que não previa “nada de novo”.

Esta segunda-feira, Chikoti e Machete acordaram passar a ter uma reunião anual para monitorizar as relações entre os dois países. No encontro dos dois chefes da diplomacia, foi ainda acordada a criação de um observatório de investimento entre Lisboa e Luanda, também uma forma de acompanhar mais de perto os fluxos financeiros angolanos em Portugal e portugueses em Angola.

Por fim, e no mesmo sentido, Rui Machete e Georges Chikoti avançaram com o lançamento de um fórum empresarial luso-angolano, cujo primeiro encontro decorre nos primeiros quatro meses do corrente ano em Luanda. A criação de um regime de vistos em passaporte para empresários angolanos – reivindicação comum a outros Estados da CPLP [Comunidade de Língua Portuguesa] – foi admitida por Machete. Embora a sua concessão dependa das resoluções que os países de Schenghen venham a tomar na sequência dos recentes atentados de Paris.

Quanto ao relançamento de instrumentos de uma cooperação estratégica e, nomeadamente, a celebração da cimeira bilateral, tudo leva a crer que ainda é cedo para tal passo. À agência angolana, o académico e analista Mário Pinto de Andrade, citado na edição desta segunda-feira pelo Jornal de Angola, foi claro.

Afirmou que Portugal tem beneficiado com os investimentos dos empresários angolanos e com o envio de técnicos portugueses para o país africano, e sentenciou: “A cooperação tem que ter ganhos recíprocos, tendo em conta que uma mão lava a outra. Daí que há necessidade de mudança de mentalidade por parte dos portugueses”. Recorda-se que a actual queda do preço do petróleo afecta as expectativas da economia angolana previstas no seu Orçamento.