Luanda - O filósofo e linguista norte americano Noam Chomsky, na sua obra “Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas”, demonstrou dez estratégias/técnicas de manipulação colectiva com vista a tornar um povo imbecil colectivo, ou simplesmente manipulá-lo em determinados momentos históricos. O interesse na imbecilização das massas, tem vários fins, mas o sumo bem é a manutenção do poder político, quando se trata de regimes autoritários. Estas estratégias têm a imprensa como ferramenta privilegiada para a sua concretização.

 

Fonte: Club-k.net

Para o presente artigo, importa-me apresentar somente seis, das dez estratégias/técnicas de manipulação, por serem as que se adequam à actual atmosfera ligada ao preço baixo do petróleo bruto no mercado internacional e por arrasto, o preço alto a nível interno (em Angola). 

 

Estamos num país, onde talvez, os que mais trabalham (para o mal, claro), com empenho necessário para os seus intentos é o grupo hegemónico e seu delinquente-mor, cujo nome parece-me desnecessário evocar, em virtude da náusea que causa em mim. Para compreender tal empenho selvagem, basta analisar criticamente e enraizando-as para a nossa realidade as técnicas de embecilização ou estupidificação colectiva que cito abaixo, extraídas do livro e autor acima expresso:

 

A estratégia da gradação.   Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconómicas radicalmente novas (neoliberalismo, capitalismo selvagem ao quadrado) foram impostas: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez. Tal gradação foi usada em relação ao aumento do preço do petróleo à nível interno. Para este fim, a imprensa jogou um papel de esfrega cerebral. Primeiro em 2014, depois em 2015.  

 

A estratégia do deferido.   Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

 

Com a subida do preço do petróleo a nível interno, sendo uma medida impopular, o regime fez a cabeça do imbecil colectivo aceitar, por meio de inúmeras entrevistas dadas por supostos estudiosos e doutores sobre economia internacional, políticas públicas, balanço, controle e equilíbrio das contas nacionais. Fizeram questão de passar a ideia de que agora será necessária a austeridade porque os angolanos vivem acima das suas possibilidades. Isto é azar. JES e seu regime roubam o erário e dizem que nós vivemos acima das nossas possibilidades!

 

Mas diante de tudo isto, nada foi dito sobre o Fundo Soberano, criado para suportar o equilíbrio das contas públicas em caso de crise nas receitas do Petróleo e não só. Nada disseram sobre onde foi parar o excedente financeiro, fruto do superavit, ou simplesmente, grandes lucros que Angola teve no período de alta do preço do crude. Nota-se claramente, que tais questões o imbecil colectivo, mediática e politicamente construído, não as colocou, não reflectiu sobre elas. Se reflectiu, não as trouxe para a esfera pública com vista a gerar debate, esclarecimento e indignação colectiva.

 

Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público, utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adoptar um tom infantilizante. Por quê? Porque  "se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reacção também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos em termos de idade. Um exemplo clássico é: “o futuro será melhor”; “crescer mais para distribuir melhor”; “vocês querem água ou paz?”. Caso um candidato francês afirmar numa campanha eleitoral que criará um milhão de novos empregos, ele deverá igualmente dizer como? No contexto angolano, basta dizer criaremos empregos e o povo grita em uníssono, “viva”! Reacções típicas da imbecilização colectiva crónica.

 

Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-circuito na análise racional, e por fim ao sentido crítico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos... Sobre isto não é necessários mil argumentos. Caso alguns jovens anunciarem uma manifestação, o grupo hegemónico acciona a emoção do imbecil colectivo, levando algumas mamãs da OMA para um cemitério qualquer, filmá-las a dizerem:  “nós somos viúvas, não queremos mais guerra”.

 

Manter o público na ignorância e na mediocridade.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controlo e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores.

 

Não basta mantê-los na ignorância. É igualmente importante promover o inculto. Tornar a idiotice em moda e elevar a “lumpenagem” à modelo nacional para todas as gerações. No processo de imbecilização colectiva, os patéticos, os ignorantes e imorais são apresentados como modelos de sucesso. Faça um pouco de esforço cognitivo, a tua memória lembrar-se-á dos modelos para os angolanos.

 

Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos. (CHOMSKY, 2010, p.33-45).

 

Esta estratégia/técnica é de capital importância porque todas as outras não serão bem sucedidas se não houver conhecimento prévio do objecto da imbecilização. É assim que as autoridades que detêm o poder e a querem manter, investem em pesquisadores para compreender a psicologia colectiva da massa, para melhor aplicar o antídoto da liberdade e da cidadania. Por exemplo, antes do simulacro eleitoral de 2012, o poder auto-instituído recomendou estudos à professores da Universidade de Nova York para compreender quais são as aspirações e comportamento dos candongueiristas. Recomendou ainda estudo sobre qual seria a reacção da população ante a uma fraude eleitoral. Um desses estudos vazou e foi publicado no portal Club K, podendo assim ser alvo de análise. Algumas pesquisas têm sido feitas por angolanos bem treinados para o efeito.

 

 Tudo isto, visa manter poder e riqueza por isso levou-me a pensar numa sociedade hipotética e o que nela sucederia: Imaginemos que o deserto do Sahara fosse um país, cujo recurso natural único fosse a areia, e o Presidente fosse o “homem náusea”, com esta organização banditesca sob seu comando, possivelmente, ao fim de um ou dois anos, o deserto desapareceria pela forma voraz como venderiam e distribuiriam entre os delinquentes toda a areia.