Luanda - O responsável da comissão sindical da EPAL acusa a direcção de pretender despedir centenas de trabalhadores, devido a possíveis falsos documentos. O chefe dos Recursos Humanos assume que foram despedidos nove funcionários, mas há processos instaurados a mais de 60. Em causa, estão burlas, fraude e corrupção.

Fonte: NG
EPAL.jpg - 137.35 KBO primeiro secretário do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL), Raimundo António, acusa a direcção da empresa de despedir 100 trabalhadores por “alegada existência de certificados de habilitações falsos”.

O dirigente sindical avisa que outros 200 poderão ter o mesmo destino. Meses depois da nomeação da actual direcção, esta veiculou informações de que havia encontrado na empresa ‘jardineiros’ que ocupavam cargos de chefia.

Em 2010, solicitou que os trabalhadores actualizassem a documentação para uma “possível promoção”. Depois disso, a EPAL acusou alguns trabalhadores de arranjarem documentos falsos e dai começaram os despedimentos.

Constantino Francisco José, director do gabinete de Recursos Humanos da EPAL, garante que a empresa está em reorganização de processos e métodos de trabalho e constatou a existência de documentos “falsos, sobretudo nos certificados do ensino médio e superior”.

Segundo o responsável, a EPAL sugeriu à comissão sindical que os trabalhadores fossem despromovidos. “O apelo não foi acolhido e a direcção da empresa teve de adoptar outro método que passou por um levantamento profundo dos processos de todos os trabalhadores da empresa, da direcção até aos funcionários de baixo, para ver onde cada um estudou”.

Constantino José confirma que, de Janeiro a Dezembro de 2014, foram despedidas nove pessoas por usarem certificados falsos e foram instituídos 66 processos disciplinares por várias razões, entre as quais burla, fraude e ligações clandestinas de água.

“Há trabalhadores apanhados em flagrante e outros foram denunciados pelos consumidores. Nenhum funcionário da EPAL está autorizado a receber dinheiro do pagamento de água, existem mecanismos próprios para o pagamento”, afirma. Em 2013, a empresa remeteu para a Polícia Nacional uma lista com 212 trabalhadores indiciados. Uma medida reprovada pela comissão sindical, que solicita a reintegração dos funcionários.

O advogado Pedro Kaparakata garante que os despedimentos “são ilegais” devido ao tempo que muitos funcionários têm vindo a trabalhar com os certificados e pelo bom desempenho. O advogado questiona-se se a empresa quer exercício de funções ou diplomas e lembra que a lei determina o despedimento por uso de documentos falsos para os primeiros 30 dias após o ingresso do trabalhador na empresa e “não anos depois”,

A comissão sindical suspendeu uma greve, prevista para os próximos dias, e pretende escrever uma carta ao vice-presidente da Republica, Manuel Vicente, a solicitar a exoneração do actual presidente do conselho de Administração da empresa, Lionídio Ferreira Ceita.

Raimundo António lembra que houve casos em que as escolas confirmaram que algumas pessoas teriam estudado naquelas instituições, mas também reconhece que houve casos de colegas seus que receberam documentos das mãos de professores que não têm a competência para passar essas declarações.

De acordo com o sindicalista, a comissão que dirige tem pedido calma à direcção da empresa, porque muitos dos visados estão na empresa há mais de 10 anos e tem solicitado à empresa que promova acções de formação para os funcionários melhorarem a sua qualificação.

GREVES NA EPAL

Os trabalhadores da EPAL realizaram em 2014 duas greves, em que reivindicaram melhores condições de trabalhos e um aumento salarial. As reivindicações eram as mesmas da anterior greve realizada em 2013, da qual foram detidos pela Polícia Nacional, o primeiro e segundo secretários Raimundo António João e João Bernardo João, respectivamente.