Luanda -  No Planalto Central, a Faculdade de Direito está ao rubro. Depois da confusão criada com o suposto caso do envolvimento sexual de alguns professores com alunas, um crime que merece a condenação geral, comenta-se agora haver uma espécie de guerra sem quartel pela liderança desta unidade académica da universidade pública que engloba, além do Huambo, Bié e Moxico.

Fonte: Agora

O fenómeno da troca de favores sexuais por notas repugna a muito boa gente e não abona o nosso sistema de ensino já de si fragilizado. O mais recente caso despoletado a partir da província do Huambo atinge a Faculdade de Direito da Universidade José Eduardo dos Santos (UJES), afecta à 5ª Região Académica e que, para além da capital do Planalto Central, inclui as províncias do Bié e do Moxico.

As denúncias indicam que alguns professores da Faculdade de Direito têm por hábito trocar notas positivas por sexo, principalmente das cadeiras nucleares.

O lema, conforme a notícia que circulou recentemente por SMS e não só é: "Dou-te uma nota acima de 10 valores, e a aluna oferece- me o acto sexual indesejado, mas como forma de pagamento do favorecimento ao professor". Então, contra esta mensagem, a aluna paga sexualmente ao docente, por este lhe ter beneficiado na atribuição da nota positiva da disciplina em que esta é deficitária.

O assunto terá mesmo forçado a deslocar-se a Luanda o docente identificado por Gabriel Saquenha, que confirmou ter recebido também várias denúncias de alunas, acusando professores. Mas, a precipitação com que veio à capital do país para falar do caso à imprensa preocupa muita gente no Planalto Central.

O problema é que Saquenha, para além de professor universitário, é igualmente o representante da Provedoria de Justiça na província.Fonte ouvida ontem pelo Agora indica, em contrapartida, que esta prática da troca de sexo por notas não é nova. "O caso que veio a público é só mais um, à luz da campanha que a actual direcção da Faculdade está a fazer para legitimar a sua liderança", deixando escapar que o envolvimento sexual dos docentes com alunas por valores, nesta unidade académica da UJES, é antigo e envolve muita gente. "Nestas larvas (referindo-se ao corpo docente), não existe santo nenhum. É um fenómeno que atinge todos de uma forma ou de outra", observa o mesmo contacto, mas sem citar nomes.

A orgia sexual de um docente com uma aluna, em troca de nota, não só constitui crime, como também se trata de uma irregularidade que, ao invés de proporcionar um ensino virado para o desenvolvimento, procura afundar um ensino já de si débil. Um funcionário público que comentou o assunto a este jornal acrescentou que a prática não encontra espaço nos areópagos académicos internacionais, onde se procura, a todo o custo, posicionar o nosso sistema de ensino que, "com estas indecências, vai ficando cada vez mais na cauda do mundo".

O ambiente na Faculdade de Direito do Huambo (FDH), por esta altura, não é dos melhores. "A Faculdade está a precisar de instituir todos os órgãos. Aliás, desde que faleceu o decano, Albino Sinjecumbi, há cerca de dois anos, também já andava sem chão, porque os mandatos estavam expirados. Há muito que a instituição está à deriva", completa o mesmo funcionário do executivo provincial.

O que inquieta os meios académicos no Planalto Central é colocar à frente da Faculdade uma figura "com laivos rurais incapaz de conduzir uma universidade civilizada". O actual decano em exercício, diz ainda a nossa fonte, "é incapaz de articular uma frase. A academia está a necessitar de uma nova vaga de dirigentes não resultantes do escrutínio partidário, mas que sejam verdadeiramente académicos".

À testa da FDH, está interinamente João Valeriano, uma figura que, ao que se diz, não é bem querida, salvo nos meios partidários, onde se está a fazer, a todo o custo, corredores, tendo já sido enquadrado no comité de especialidade às pressas, no qual também se pensa arregimentar outras vontades para legitimar a sua liderança.

Ao que se sabe, Valeriano também nunca esteve bem no relacionamento com o malogrado decano Sinjecumbi. "Neste momento, ocorre um clima de cortar a faca. O ambiente é mesmo de crispação sangrenta entre a equipa do lendário decano e os que por força maior estão a ser mobilizados pelo actual. A luta é renhida e, se nenhuma mão meter mãos, daqui por um bocado saem mortos e feridos", explicou a fonte.

Os 'desencontros' entre uns e outros na guerra pelo controlo da liderança da FDH estão na ordem do dia. E as coisas só vieram à lume depois da 'chuva de mensagens' ou denúncias de familiares, esposos, amigos, colegas e alunos e de professores de bom-senso, dando conta da prática de sexo por notas.

OUTROS FOCOS

Os casos de sexo por notas no ensino não afecta apenas as universidades. Recentemente, um professor universitário manifestou-se indignado com o facto de muitas alunas não saberem escrever correctamente, mas que, no final, passam de classe. Instado pelo Agora, o docente da universidade pública disse haver muitas irregularidades nos estabelecimentos de ensino, quer universitários, quer do ensino médio, que devem ser desmascarados.

"Estamos mesmo perante um drama a que é necessário pôr cobro. É preciso denunciar os casos, para que os actores sejam punidos de forma exemplar, incluindo mesmo a sua irradiação do sistema de ensino já de si precário", sublinhou o professor. Em Luanda, fala-se de irregularidades da mesma natureza, no IMIL, Puniv-Central, Alda-Lara, só para falar destas escolas.

"Quem não sabe disso só pode ser estrangeiro. Todos os estudantes dominam esta matéria vergonhosa", aponta um aluno, visivelmente amargurado com os tristes episódios nas instituições de ensino médio da capital. Em Novembro de 2011, uma notícia avançada por este semanário revelava o caso de um professor da Escola 'Angola e Cuba', em Luanda, acusando-o de tentar seduzir sexualmente uma aluna menor de idade em troca de certificado de habilitações.