Luanda - Nos últimos dias muitos são os relatos a respeito de práticas de linchamento, ou seja a população e o grupo-alvo dos meliantes - daqueles que se dedicam à praticas de actos desviantes (crimes), sobretudo o furto a mão armada - na tentativa de defenderem-se da criminalidade partem pelo princípio macabro da prática da justiça pelas próprias mãos, resultando em mortes sobretudo de criminosos através da fogueira da morte (queimado), apedrejamento (como este jovem, na imagem, que foi morto no bairro capalanga, quando tentava assaltar um taxista de motos, vulgo "kupapata", e outro que foi queimado vivo no bairro Caop, comuna da Funda, município de Cacuaco em Luanda, Angola na quinta-feira ultima).

Fonte: Club-k.net

Numa visão sociológica, o  linchamento consiste em um tipo de autotutela ou autodefesa de terceiro em que os indivíduos, movidos pelo sentimento colectivo de injustiça e insegurança, fazem “justiça com as próprias mãos” ao espancar ou até matar um indivíduo que tenha cometido algum crime por eles repugnável.

Em outras palavras, trata-se de um crime para combater outro crime, o qual não fora efectivamente combatido pela força policial estatal. Os indivíduos responsáveis pelos linchamentos comungam do mesmo sentimento: ausência de segurança pública. E os linchadores, então, afrontam à clássica noção Weberiana de que o Estado detém o monopólio do uso legítimo da força.

Mas a meu entender, o inchamento, como forma de comportamento colectivo que visa a realização da justiça pelas próprias mãos, têm muito a ver com a falta de confiança do povo em relação a actuação dos órgãos de segurança pública. pois vêem-se agastados com a onda da criminalidade, sem que haja pronta intervenção.

Portanto, segundo o pesquisador brasileiro - que a mais de 30 anos estuda o linchamento no Brasil - José de Sousa Martins (1995: 295) " linchamento não é uma manifestação de desordem, mas de questionamento da desordem e ao mesmo tempo, linchamento é questionamento do poder e das instituições que, justamente em nome da impessoalidade da lei, deveriam assegurar a manutenção dos valores e dos códigos".

A partir do conhecimento que se tem de diferentes modalidades de linchamento em diferentes lugares do país (Brasil, CS), a hipótese mais provável é a de que a população lincha para punir, mas sobretudo para indicar seu desacordo com alternativas de mudança social que violam concepções, valores e normas de conduta tradicionais, relativas a uma certa concepção do humano" (Martins, 1995: 299).

Uma hipótese decorrente é a de que o linchamento é uma forma incipiente de participação democrática na construção (ou reconstrução) da sociedade, de proclamação e afirmação de valores sociais, incipiente e contraditória porque afirma a soberania do povo, mas nega a racionalidade impessoal da justiça e do direito." (ibidem).

Portanto, enquanto não tivermos um serviço de segurança pública efeciente e actuante actos do género vão acontecendo, como já vão tendo lugar de maneira muito isolada em Luanda, principalmente nos municípios de Cacuaco e Viana.

Bibliografia consultada:

MARTINS, José de Sousa (1995). As condições do estudo sociológico dos linchamentos no Brasil, in «ESTUDOS AVANÇADOS» nº 9,USP. São Paulo

DINIZ, Rebeca (2013). A Teoria da Anomia e os linchamentos no Brasil, in «JUSBRAZ» acessado em http://rebeccadinizz.jusbrasil.com.br/…/a-teoria-da-anomia-…

 

Fico por aqui, mas com a promessa de continuar a estudar este fenómeno.

 

REFLEXÃO de um candidato à cientista social em um quarto de hospedaria: José Capingala - Sociólogo e Comunicólogo.