Luanda - O Kota Joelho é um «mêni» que trabalhou no mercado Roque Santeiro, exercendo-se agora lá no bairro. Deram-lhe o nome de «Joelho» porque ele é um profissional rude e sem piedade, cuja vida se resume em dar surras ou partir joelhos a martelo, por encomenda!
Fonte: SA
Aos gatunos do «Roque Santeiro», ele batia. Apenas. E continua, mas por encomenda. Aos mais malvados burladores ou abusadores de mulher alheia, o serviço é completo. Depois de surrar o coitado, se o crime é grande, com uma martelada certeira no joelho da vítima, ele dá encaminhamento ao desejo do seu cliente. Que paga antecipadamente a verba combinada.
No antigamente, o Kota Chiminha e o Ti João, que era porteiro na Maria Escrequenha, ali pelo bairro dos eucaliptos, uma vez se encontraram e bilaram. Eram os dois homens mais gigantes do bairro Marçal e Rangel, respectivamente.
Chiminha quis entrar na farra sem pagar, onde o porteiro era o Ti João, que lhe travou.
No dia do bilo, o Ti João venceu com dois socos a mais no peito do Kota Chiminha, depois de empurrar a porta da farra com um safanão que arrancou o fecho metálico. Os socos de ambos os lados se ouviam no interior da farra, para lá do muro, até que o público saiu para acudir. Chiminha estava no chão a ranger os dentes. Tiveram que levar o Ti João para lhe esconderem lá longe do local. Foi o bilo do ano!
Mas com o Kota Joelho, a coisa é diferente. Não há quem o enfrente. O Chiminha e o Ti João seriam filhotes, se comparados com o tamanho do Kota Joelho. Ele aí está, grandalhão, com aspecto de búfalo, horrivelmente feio e de aspecto assustador quando fala.
Não é por acaso que o homem cobra 200 dólares por joelho. Gabarolas, grandalhões que só batem putos são as suas preferências. Contra uma bofetada, ele aceita encomenda de duas de volta, na frente do cliente. E pagas.
Ou seja: se o Salitas for agredido cobardemente e solicitar auxílio lá no bairro, poderá depois assistir a um bilo entre o seu agressor e o Kota Joelho ao vivo! Vai ser surra de vergonha para o opositor. Kota Joelho bate mesmo feio! E em público!
Já se falou muito do Riquinho, que bate, que num sei quê. Mas ao lado do Kota Joelho, é tipo folha de papel que vão lhe levantar com ele. Se acontecer, com o Kota, o Riquinho vai pedir socorro antes mesmo de lhe tocarem. Só de lhe ver o rosto, vai fugir. E ele que nem gosta de lavar a cara, parece o feitiço dele está aí, como dizem alguns lá no Rangel. Pela manhã, come sem se lavar e mastiga gengibre e cola. Dizem que é truque que o avó dele lhe ensinou. Só bebe kissângua sem açúcar. E só come na tigela. Até hoje bebe na caneca de esmalte. Ele é bem capaz de passar para a história como o homem mais forte de Luanda, quiçá, de Angola.
Os seus braços são feitos só de músculos e mesmo sem o martelo, com que anda quase sempre, pode partir braços de um só golpe, à mão desarmada.
Não se sabe quantos joelhos já destruiu à martelada. E foi na base desta capacidade de exímio carpinteiro de ossos humanos que o homem passou a ser temido.
E se para desforras pode-se pagar uma encomenda opcional, agora chegou a vez do Kota Salas encomendar ô quê? Bofetadas? Bicos? Ou joelho partido? Para o Kota Joelho, tudo só depende dos dólares.
Disseram no bairro que o kota Salas, quando lhe ameaçaram no Riquino, de lhe partirem a cara à bofetada em público, prometeu falecer o agressor.
Para quê matar?
Nada disso! Os putos do bairro já têm solução: Kota Joelho!
É por isso que os putos decidiram contribuir financeiramente para uma encomenda de 400 dólares, para desforra em caso do Riquinho partir a cara do kota Salas. Porque, no Rangel quem abusa, tem de ser abusado!
Ora, se o Kota Joelho partir o joelho do Riquinho, este ficaria logo tipo Garrincha, sem rótulas. E tudo por causa de uma simples galheta que ele prometeu enfiar no Kota Salas.
Foi com base neste princípio do dente por dente e olho por olho, que os miúdos do Rangel prepararam um encontro espontâneo, urgente, para procurarem pelo Kota Joelho, a fim dele cumprir a eventual missão.
Os miúdos sabem da bravura do Riquinho, que bate feio na rua, que sacode poeira, e que bate quando quer e a quem lhe apetece.
Já houve um cantor de renome que levou surra em plena rua.
Já houve outros cantores que, avisados da fúria do homem, declinaram o pagamento do seu cachet para preservarem as suas caras, não fossem elas partidas pela mão do Riquinho. Mas nenhum deles conhecia o Kota Joelho e o seu bisno, daí terem desperdiçado bela oportunidade.
Agora que o kota Salas foi avisado que a próxima cara a ser partida é a dele, a malta do Rangel saiu em sua defesa, porque perante iminente perigo de esbofeteamento público, e porque o kota Salas foi logo avisando que vai matar em caso de agressão, os putos do bairro adiantaram uma solução menos dispendiosa e mais limpa, sem risco do agredido definhar na cadeia. Poderá haver bilo entre o Riquinho e o Kota Joelho para desforra por via de tercerização de serviços. Ideia genial, esta dos putos.
Se for a convites, quem é que não vai querer assistir?
Depois ninguém acode, se é que o Riquinho, assim que olhar para o Kota Joelho frente a frente, não dizer: «Piernas para quê tê quiêro?!».
