Luanda - Nasci no quinto do dia do mês que a agenda internacional tutelada pelas Nações Unidas consagrou o 8 de Março como o sendo o dia delas, uma data que em Angola é feriado e que este ano, por calhar num domingo, nos vai proporcionar (mais) um fim de semana prolongado.

Fonte: OPais

Em Angola, o MPLA viria a reforçar o simbolismo feminino deste mês introduzindo o 2 de Março, como sendo o dia da sua OMA, tendo eu pela parte que me toca, conseguido no mesmo dia “fazer nascer” uma das minhas filhas.

Com o mês de Março, tenho pois as melhores e mais pessoais relações de amizade/afectividade, por razões que facilmente se percebem e que eu faço questão de anualmente celebrar, embora com o passar dos tempos estas razões estejam a perder alguma graça, pelos menos no que toca ao desempenho do “hardware”.

Todos sabemos que a espécie humana tem conseguido muitos progressos ao nível da ciência e da tecnologia, mas pelo que tudo indica não vai conseguir tão cedo descobrir o famoso “elixir da eterna juventude”.

Só nos resta pois chorar sobre o leite que temos vindo a derramar, vivendo cada vez mais das memórias e dos nossos velhos e brilhantes tempos, quando subíamos as montanhas e vencíamos outros obstáculos com a maior das facilidades ou pelo menos sem tantas queixas que já vão povoando actualmente o nosso quotidiano.

Tenho assim com Março uma relação que também tem este lado mais cinzento, pois sempre que passo por mais um deles, lembro-me que o tempo não volta para trás e que para frente as coisas só se vão complicar ainda mais, enquanto, pelo menos, o tal “elixir” não for descoberto.

Mas o Março para além de ser meu e, certamente, de muitos mais homens que tiveram este “privilégio” de aqui nascer, ele é muito mais das mulheres, pelo que e por esta ocasião, é mesmo delas que temos de falar sobretudo ao nível da imprensa, onde assumimos responsabilidades no âmbito da divulgação de algumas informações de utilidade pública com impacto nacional e internacional.

Falar do papel das mulheres na sociedade tem, obviamente, esta utilidade, num ano em que as Nações Unidas voltam a bater na tecla do “empoderamento”, um palavrão que nunca me disse grande coisa, antes de mais por achar que ele é uma imposição da língua inglesa.

O que é facto é que em português nunca se encontrou um vernáculo que sintetizasse de tão bem tanto poder numa só pessoa e com ojectivos tão nobres.

Consta que foi o famoso pedagogo brasileiro Paulo Freire (PF) a traduzir pela primeira vez para a minha língua materna o “empowerment”.

Para PF é a “capacidade do indivíduo realizar, por si mesmo, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer”.

O empoderamento deste 8 de Março de 2015 tem a ver com o grande objectivo da ONU de se atingir a plena igualdade do género antes de 2030 com o chamado “Planeta 50-50″.

Pelo que julgo ter percebido desta estratégia, o mundo só estará em melhores condições de abordar com sucesso os seus múltiplos e complexos problemas, quando homens e mulheres poderem dividir as responsabilidades ao nível das instituições políticas e públicas.

Isto é, quando, por exemplo, nos parlamentos o numero de deputados entre homens e mulheres for igual e nos governos também.

A igualdade no género é igualmente extensiva ao acesso à riqueza/propriedade, numa altura em que um dos dados avançados este mês pela ONU refere que em Africa as mulheres são responsáveis pela produção de 70% dos alimentos,  mas apenas são proprietárias de 2% da terra arável.

Devo confessar que já fui mais adepto desta igualdade do género como “varinha mágica” para as sociedades gerirem melhor os recursos públicos, em países onde a corrupção é um fenómeno endémico como é o caso de Angola.

Tendo como paradigma o caso angolano, hoje já não penso bem assim, mas gostaria de voltar a pensar, porque acho que as mulheres são mesmo diferentes dos homens até na honestidade e na transparência com que se comportam quando têm responsabilidades.

O problema é que as mulheres no caso vertente estão a confirmar que o hábito faz mesmo o monge.

NA- In Secos e Molhados/Revista Vida/O País (6-03-15)