Luanda - Algumas clínicas e hospitais encontram-se sem anestesias e começa a escassear o material médico.Tudo devido à dificuldade de se transferir dinheiro para o exterior. Um problema que empurra um especialista em medicina chinesa a fechar a clínica e sair de Angola.

Fonte: sapo

A dificuldade de transferências de dinheiro está a travar a aquisição de materiais médicos para clínicas e hospitais.

Uma das principais importadoras e fornecedoras de equipamentos médicos, principalmente de anestesias a clínicas dentárias e hospitais, Rosa Cirilo, queixa-se da falta de materiais devido ao impasse nas transferências bancárias.

Um drama que vive desde Outubro do ano passado. “Tive 12 transferências entre Outubro e Dezembro que estiveram paradas e acabaram por ser feitas apenas em Janeiro e Fevereiro”, revela. A empresa, VR Médica, importa e fornece equipamentos médico-hospitalares e dá assistência técnica em Luanda.

Fornece clínicas dentárias, escolas de medicina e hospitais como o Américo Boavida e Josina Machel. O material é quase todo comprado em Espanha, Brasil e Alemanha.

O que antes era um problema facilmente exequível hoje tornou-se numa grande ‘dor de cabeça’. “É um produto que volta e meia escasseia no país. Antes as transferências eram feitas com alguma rapidez”, lembra a empresária.

Mas agora tem uma factura ‘pendurada’ no banco e a única resposta que obtém é que não há verbas. “Não há verbas para a saúde?”, questiona-se, por ter ouvido do Banco Nacional de Angola (BNA) que haveria excepções para a saúde. “Ouvimos uma coisa do BNA e outra dos bancos comerciais.

Afinal quem está a dizer a verdade?”, estranha Rosa Cirilo, que prefere acreditar na idoneidade do BNA e pensar que a falha seja dos bancos comerciais, que, por sua vez, se defendem com a falta de divisas.

Rosa Cirilo ainda enfrenta outro impasse. Tem uma clínica que estava a ser montada, mas que se encontra parada devido à falta de materiais. “Se continuarmos nessa situação vai haver escassez de medicamentos”, assegura a gestora que adverte que não é a única e que quase todas as empresas estão nessa situação. “Há medicamentos em falta nos hospitais”, assegura.

Apesar do momento “crítico”, está esperançosa que o problema se resolva. “Se houver alguém com anestesias vende a preços especulativos”, afirma.

Imaginações

 A demora nas transições obriga empresários e doentes a viajar com anestesias nas malas. Ou com outros produtos, como aconteceu com um cliente da clínica de Luís Filipe Baião. No desespero de ser tratado, viajou de propósito para Portugal com o único objectivo de comprar as agulhas para o seu tratamento.

“Isso é uma humilhação. É uma vergonha para mim e é ainda mais para o país, quando um doente tem de se meter no avião para ir buscar o material”, lamenta o dono da clínica qu se prepara para deixar Angola.

Especialista em medicina tradicional chinesa, Luís Filipe Baião tem enfrentado dificuldades na aquisição de materiais. Por isso, pretende fechar a clínica, localizada na Maianga, e rumar para Banguecoque, na Tailândia.

Só mesmo uma garantia do Estado de que situações como essa não voltarão a acontecer é que fará com que o médico recue na decisão de abandonar o país. “O governador do BNA tem de ser muito coerente naquilo que diz.

Há uma discrepância enorme no que dizem o BNA e os gerentes dos bancos”. “O governador diz que há facilidades na aquisição de transferências para as questões de saúde, mas não é verdade”, reforça.

Luís Filipe Baião entende que é “extremamente grave” o momento que se vive. A clínica, a funcionar desde Setembro, encontra-se sem agulhas. Visivelmente agastado, Luís Filipe Baião aponta a desdolarização como um “grande erro”.

“Quiserem desdolarizar o país e começar a valorizar o kwanza. Não temos agricultura ou uma fábrica em condições, não é possíve. É um contra-senso porque até um simples alfinete temos de importar e para isso temos que pagar em dólares”.

O médico já recorreu a tudo quanto é canto, mas sem sucesso. Nem mesmo recorrendo aos clientes de posições de topo no país conseguiu uma solução. “Estou apenas a cumprir com os contratos com os clientes e quando acabar fecho as portas e vou-me embora”.

A directora provincial de Saúde de Luanda, Rosa Bessa, desconhece a falta de materiais, no entanto, remete qualquer esclarecimento para o Ministério da Saúde.