Luanda - A vida nos leva ao apogeu acérrimo do trabalho, qualquer que seja a actividade, nosso intuito é dar resposta as exigências sociais. Usamos a todo custo tudo ao nosso alcance com intuito de dar resposta ao quotidiano, é no girar em torno das cidades que se reflete a vida humilde de nossas mamas zungueiras, lutadoras incansáveis, guerreiras imbatíveis, o exemplo que passam para todos angolanos é um exemplo verdadeiro da vida in locus, encontrando na arte ambulante o ofício fundamental para responder às suas necessidades vitais.

Fonte: Club-k.net

Mama zungueira, diante das mais amargas hecatombes envolventes da conjuntura circunstancial da vida, amarra seu humilde filho pelas costas, coloca uma bacia presa à sua cabeça a transbordar de objectos, com os seus pés atraídos por uma marcha rítmica e imparável, ousando um marketing num som musical, ressoandopelas ruas, está aqui chinelo --- está aqui peixe, está aqui saco, numa música atraente que convida o ouvido do comprador sem demora, divulgando com as suas cordas vocais que não conhecem fadiga o seu preço, colocando seus olhos voltados aos céus, mama zungueira reza quando as coisas não vão bem, colocaseus joelhos pelo chão em busca de um poder sobrenatural que visa impingir o alcance de seus nobres objectivos, fazendo a venda de água fresca, pipoca, peixe, rebuçados, bolacha, saco, cebola, tomate, alho, verdura ou frutas, as vezes para um preço muito ignóbil.

O sol, o calor ou as calamidades emanadas pela natureza não lhe poupam esforço, e lhe roubam o ânimo, porém, os interesses dessa mesma pessoa lhe convidam a adesão à firmeza e a marcha imparável em prol da busca do pão para nutrir o estômago de seus descendentes e até mesmo de seu marido.

Segundo Fukelman & Lima (2003), pode-se definir um país pelo traçado das fronteiras, pela densidade demográfica, pela extensão territorial e outros pesos e medidas. Mas um país também pode e deve ser apreendido por uma perspectiva menos numérica e mais humana. Um olhar desprendido, mas não isento de intenção, que coloque em primeiro lugar o movimento, deixando que a lógica das quantias e quantidades ou a mensuração de índices econômicos não sejam os determinantes, mas que venham acompanhar um certo modo de ver e contar a história de um povo e de uma nação.


O que se propõe é uma narrativa do país construída através das pequenas e grandes viagens de múltiplas pessoas e suas inusitadas e criativas relações entre tempo e espaço. Sobre a imagem de contorno nítido e fixo de um mapa nacional, ao invés de rios que organizam sua geografia física, um contingente humano considerável foi desenhando modos peculiares de sobrevivência, ao mesmo tempo em que abriu atalhos entre o subúrbio e o centro, a vila e a capital, o interior e o litoral. Com eles, os limites internos e externos entre espaços perdem nitidez e ganham pinceladas impressionistas.

Segundo Fukelman & Lima (2003), trajetos cotidianamente planejados e executadosdefinem maneiras de acordar, arrumar malas e cestos, inventar marketing, fora de hora. Consagrando seu perfil de vida numa sede insaciável da vende de seus pequenos recursos, cujo sacrifício se traduz, num exemplo puro de vida de guerreira incansável e imbatível.

A vida é uma escada de obstáculos, em que cada um de seus degraus implica extrema luta, viver implica não só sacrificar, mas, acima de tudo muitas das vezes viver nos impõe tentar o impossível, embora, as calamidades persistem, as dificuldades marcham em todos os lados em que lá estivermos, o ser humano somente amadurece quando vencer grandes obstáculos, dai quem triunfar sem riscos, vence sem glória, a glória de um guerreiro não está na sua vitória, mas sim na forma como vence.

Se o homem é o mundo, a mulher é o céu deste mundo, neste âmbito, queremos relevar o papel das mamas zungueiras que apesar de inúmeros impasses face a execução de sua profissão de vendedouras ambulantes, têm feito o tudo rompendo grandes barreiras, muitas das vezes o impossível para manter o sustentáculo de sua famílias, a quem diga que muitas das quais é que comanda a existência de seus lares, apesar das mesmas terem maridos, são elas encarregues na educação deseus filhos, o pouco que usufruem de uma vida muito sacrificada lhes é imperativo que investam não só nas necessidades domiciliares, como também nas necessidades de formação de seus filhos.

A vida de uma zungueira fica marcada na luta do dia a dia, na luta que lhe exige enfrentar a cada instantes enormes obstáculos que veiculam a continuidade da sua venda em rua, porém, a sua força parece superar o impossível, sejam quais forem as circunstancias, a coragem, a firmeza têm se revelado eminente na pessoa da mama zungueira, acordando de madrugada, as vezes com um ânimo moribundo que lhe invoca parar de lutar devido os prejuízos encontrados no local, pela ironia do destino, as necessidade falam mais alto que os impasses, é forçada a aumentar a dose de ânimo e continuar a lutar até o fim do dia.

Os profissionais ambulantes devem merecer extrema atenção no que tange a sua condição peculiar, a condição de peregrinos pelas ruas, sugere um sem lugarcerto, uma condição que impõe dificuldades extremas, porém, é no seu rodar pela cidade, pelas estradas, num circuito complexo alojando – lhes as dores articulares e violentas fadigas que lhes fixa a imagem e define-lhes a vida, passando mesmo a ser vistas pelos angolanos mais atentos como verdadeiros exemplos de vida, pois que, a vida ambulante, nunca foi fácil em Angola, e pelo mundo fora.

Há mais: a diversidade de ambulantes exige cautela no emprego da categoria de forma satisfatória, há muita descontinuidade nas diferentes trajetórias. Háambulantes que são filhos do sofrimento, timbrados com as letras do sacrifício; outros, nascidos com a modernização do país; outros, ainda, fiéis a uma tradição familiar. Todos revelam a luta pela sobrevivência. E esses são o verdadeiroexemplo a seguir, exemplo de vida para o vagabundo que prefere desrespeitar o trabalho, e despertar as 2 horas da manhã para assaltar bancos, invadir vivendas alheias, para o delinquente que prefere levar o dia dormindo com seu charuto de liamba pendurado a boca, e pelo calar da noite furtar viaturas, assassinar o inocente, desencadear pânico pela cidade ou pelas sanzalas, para o infeliz ladrão que não conhece outra arte sebão a preguiça vestida de roubos armados.


A transformação da capital Angolana em sede do país desde o ponto de vida económica, político, e de interesses além, trouxe consigo a imensidão migratória, excedentes de mão-de-obra provinda do campo chegam na cidade de Luanda, onde exercem trabalhos manuais não especializados e muitos tornam-se vendedores ambulantes, encontrando na zunga a sua única forma de vida, de então a mamazungueira merece ser visto como uma profissional que detenha seus direitos e deveres peculiares, neste âmbito as zungueiras, merecem um olhar atento, mais humano, mais solidário por parte de todos nós.


Essa mão-de-obra informal, se classifica muitas das vezes como actividade não produtiva, desconsiderada quanto ao levantamento do índice ou renda nacional.
Profissões que envolvem deslocamento permanente retira de quem as exerce uma identidade adequada a padrões valorizados pelas pessoas, ademais, a falta de higienização do espaço em que as mesmas executam seu acto de venda, o acúmulo imenso de lixo pelas ruas por onde vendem, retiram o seu autêntico valor e tornam cada dia que se passa mais difícil esta prática entre nós angolanos.

Bibliografia.
Fukelman C. & Lima P.S. Vendas ambulantes, RJ, 2003.