Luanda – Segundo as tradições bantu, particularmente para os bakongo ou akongo (plural de mukongo ou nkongo - pessoas pertencentes ah etnia Kikongo) circuncisar (zenga, sala ou yota, em língua kikongo) é extrair a pele que cobre a parte anterior ou a cabeça do pénis (mvia), afim de aumentar o tamanho deste órgão sexual masculino e dá-lo beleza, mais tesão, força e produtividade.

Fonte: Club-k.net

Para os bantu (plural de muntu – uma pessoa -), a circuncisão é um acto de ética, de virilidade e orgulho masculino. Só se circuncisa um homem e nunca uma mulher.

Um homem não circuncisado é chamado “Sutu” ou “Ebolo” (singular), “Masutu” ou “Mabolo” (Plural) e é estigmatizado, discriminado, a ponto de ter dificuldades de encontrar uma menina que lhe aceita para casamento.

Já houve caso de divórcio ou de conflito provocado pelo facto de a mulher ter descoberto que o marido é Sutu, não circuncisado.

Um outro caso caricato que aconteceu é de que, um casal depois de ter vivido muito tempo e feito filhos, quando a mulher descobriu que o marido era Sutu, o seu órgão sexual (mvia) não foi circuncisado, apresentou queixa aos cunhados e à tia (irmã, sobrinha ou neta materna do marido – neta materna é filha de uma sobrinha e sobrinha é filha de uma irmã).

Estes informaram os pais da mulher que, depois de verificar e certificar que o homem era mesmo Sutu, separaram-no temporariamente da esposa e obrigaram-no a fazer-se circuncisar. Só depois de ter sido circuncisado e curado que o genro voltou a juntar-se ah sua mulher.

Numa comunidade bantu, ser chamado Sutu é um grande insulto, um adjectivo pejorativo. “Kazengua ko, esutu evo ebolo” (Não é circuncisado, é sutu ou bolo), murmuram as pessoas a sua passagem.

A circuncisão é feita à idade de adolescência, quando o menino consegue caçar os ratos selvagens. Quando o menino consegue fazer armadilhas para ratos  chamadas “Ntambu mia mpuku” (fixas na terra) e Nkanda (um tipo de nassa). Nunca em bebés.

Numa aldeia e no Inverno, os pais que desejam fazer circuncisar os seus filhos contratam um especialista. Este reúne os meninos, escolhe um local nas imediações da aldeia onde estes construirão uma cabana que servirá de seu abrigo. Este local é chamado Seka ou Maseka (lê-se seca ou maceca). “Kuenda kuseka” (ser circuncisado).

A circuncisão é feita de pé muito cedo de manhã com uma navalha. Esta cirurgia ocorre com uma só corte rápida e seca, sem anestesia nem vacina antitetânica. Mesmo assim não se regista caso de hemorragia ou de desmaio de pessoas operadas. A corte não se repete. Tanto o cirurgião como o circuncisado não vêem onde vai a parte extraída que é atirada num único corte rápido longe do local.

No momento da cirurgia, o especialista deve ter o cuidado de não cortar a cabeça do pénis e a veia principal que fica debaixo do órgão sexual masculino. Ele deve circuncisar de maneira a deixar a cabeça do pénis completamente saliente.

Depois da operação, os meninos circuncisados passarão a chamar-se Kuda. Estes ficarão retidos em quarentena no Maseka durante uma semana e meia ou duas semanas, até que a ferida seja completamente curada.

A circuncisão bantu é feita por duas pessoas distintas, um “cirurgião” e um “enfermeiro tradicional” encarregue de fazer o curativo, o penso.

Este último é o especialista que, não só faz o penso, como também dá o formato, o tamanho do pénis, em comprimento e grossura. Ele usa uma casca de bananeira como gesso e a folha jovem da mesma (bananeira) que passa ligeiramente pelo fogo como ligadura.

Fala-se que um pénis circuncisado tradicionalmente é maior em cumprimento e volume que aquele que é operado numa medicina moderna. O circuncisado tradicionalmente satisfaz mais sexualmente uma mulher, porque é comprido, grosso e muito teso.

O curativo é diário, com porções de cascas de arbustos chamados Lolo e Muindu, como remédio. Excepto a navalha, neste processo não entra nada de moderno. É a este homem que se faz uma grande vénia.

Ele não vive com os Kuda no Maseka, ele vem todas as manhãs da aldeia e quando aparece, é recebido pelos meninos em quarentena com cânticos e danças obscenos próprios do processo. Os Kuda caça ratos para ele.

Até que as feridas sejam completamente curadas, os Kuda só usam panos que ficam afastados do órgão sexual por um “Ntambu”, um dispositivo de pau colocado na cintura de maneira a esticar o vestuário.

O processo decorre sob um ritual exibido pelos Kuda. Durante a permanência dos circuncisados no Maseka, o local é vedado às pessoas estranhas, para evitar o sangramento das feridas. Se o local receber visita de uma pessoa que fez uma relação sexual ou uma mulher que está de menstruação, as feridas dos circuncisados sangram.

Geralmente, as visitas são recebidas longe do local, num tipo de controlo ou barreira instalado à entrada. Os Kuda preparam a sua comida, não tomam banho até que as feridas sejam curadas. Quando se desloca ao arredor do local, para fazer necessidade ou armadilhas para ratos, o Kuda usa um arbusto chamado Nsangalavua que mastiga e aspergia ao longo do caminho, para evitar o sangramento em caso de pisar num local por onde passou uma pessoa que fez relação sexual ou uma mulher de menstruação “Nkento wuna kungonde”.

Segundo as tradições bantu, um órgão sexual masculino não circuncisado tem pouca tesão, não levanta bem e tem pouca força. Dai, não provoca bem o orgasmo e não excita a mulher.

Uma relação sexual nesta condição demora e o homem ejacula dificilmente, pois o capuz cobre a cabeça do pénis, jogando o papel de uma camisinha com pequeno orifício. Este capuz é um isolador, uma vassoura dentro do sexo feminino.

Um Disutu precisa de arregaçar a pele que cobre a cabeça do seu órgão sexual antes de penetrar na vagina e durante o acto sexual, esta pele faz o movimento de vai e vem, deixando o lixo que se encontra debaixo dela no corpo da companheira e levando o que encontra pelo caminho.

Fala-se ainda da debilidade dos filhos feitos por um homem disutu ou Ebolo, não circuncisado. Tanto ao cirurgião como ao curandeiro, os pais dos meninos circuncisados pagam com animais como galinhas. À saída de Maseka, os Kuda organizam uma festa e assalto ao sexo.