Luanda - O secretário provincial da UNITA em Cabinda defende que a resolução do conflito em Cabinda passa pelo diálogo. Estêvão Neto Pedro que falou, exclusivamente, ao Club K, aquando da sua curta passagem a cidade capital (Luanda), após ter participado nas actividades políticas organizadas pelo seu partido nas províncias de Benguela e Huambo, acredita que se o diálogo prevalecesse, Cabinda hoje estaria em paz. “Eu não vou muito pela independência, mas sim pelo diálogo. Porque dialogando pode surtir outros benefícios que não seja somente a independência”, realçou, argumentando que o povo de Cabinda quer apenas um tratamento digno e sentir-se livre. “Não nos sentimos livres e honrados (…)”, enfatizou. 

*Domingas Kamba e Evalina Dings
Fonte: Club-k.net

"O MPLA tem um plano de matar os líderes da oposição"

Estevao Cabinda.jpg - 115.75 KBSobre o Memorando assinado na província do Namibe pelo actual secretário do Estado dos Direitos Humanos, António Bento Bembe, o político diz, claramente, que o povo de Cabinda não considera esse Memorando. “O protagonista desse Memorando não passa de um prisioneiro e criminoso”, enfatizou.  

Apesar de possuir a nacionalidade angolana, o jovem político diz que geograficamente Cabinda não é Angola. “Se formos ao mapa não encontraremos Cabinda como parte integrante de Angola. Mas politicamente Cabinda é Angola”, avançou.

Quanto a questão do conflito militar, secretário provincial da UNITA garante que a situação militar em Cabinda não está calma. “Em Dezembro de 2014 houve um ataque no município do Bucu Zau. A FLEC está sempre atacar e irá atacar mais, porque o MPLA não quer dialogar”, assegurou, dizendo, categoricamente, ser “FLEC”, como quaisquer outro cabinda.

Estêvão Pedro chamou – no decorrer da entrevista – a governadora de Cabinda, Aldina Dalomba, de ladra. Acusando-a de ter se enriquecido ilicitamente em menos de um ano e que a sua nacionalidade é duvidosa. “Eu nasci e cresci no bairro onde viviam os pais da governadora e confirmo que são cabo-verdianos”, afiançou, acrescentando que a mesma não é pastora (coisa nenhuma) porque veste-se de pele de cordeiro “quando no fundo é uma Leoa”. “Não concordo muito que ela seja pastora de verdade, porque uma pastora não pode ser ladra”, ironizou.

O nosso interlocutor diz que tem rezado bastante para o petróleo de Cabinda acabar definitivamente, por ser a desgraça dos cabindas. Já quase no fim da conversa, o jovem político – que é formado em Relações Internacionais – revela que se tivesse a oportunidade de estar tête-à-tête com o Presidente da República, o diria apenas três coisas que são: “Resolver o problema dos Direitos Humanos em Cabinda; Conversar com o povo de Cabinda, e evitar as fraudes eleitorais”. 

Agora, por favor, acompanhe a conversa:

Como está organizada a UNITA em Cabinda?
A UNITA em Cabinda está enquadrada em várias estruturas. A nível do nosso secretariado temos os secretariados municipais, comunais, temos os comités regionais e os núcleos, isto é uma estrutura já formada a partir da direção nacional e apenas cumprimos aquilo que está estipulado no estatuto. Esta estrutura está mesmo prevista no nosso estatuto.

Quantos militantes têm em Cabinda?
Neste preciso momento temos mais de 24 mil militantes controlados, além de simpatizantes e amigos.

O que tem a dizer sobre a saída de alguns militantes da UNITA para outros partidos, particularmente para o MPLA?
Isto é muito complicado, o MPLA usa a comunicação social (TPA, RNA, Jornal de Angola e Angop) para fazer os seus exageros. Dizer que a nível da província nunca saíram militantes da UNITA para o MPLA. Porque a província de Cabinda vive um problema que o próprio povo angolano está a compreender. Nós sabemos que a comunicação social está controlada por um partido político. Para dizer que o MPLA sempre usou estes meios para difundir as suas falcatruas e dizer que nunca saíram militante da UNITA para o MPLA.

O senhor afirma que a comunicação social em Angola esta mais a favor do MPLA em relação a outros partidos?
Exatamente, é aquilo que vemos. As informações que têm a ver com o MPLA são as que mais saem nas mídias. Recentemente a direção do partido passou uma orientação para que não convidássemos mais a TPA para fazer a cobertura das nossas actividades, tudo por que a TPA tem estado a destrafiar as nossas informações.

Quais são os órgãos que fazem a cobertura das vossas actividades?
Nos últimos tempos temos estado a convidar o Club K, a Voz da América e a Rádio Eclésia.

Como está Cabinda em termos de governação?
Péssima.

O que falta?
É complicado por que se falarmos da má governação em Cabinda não vamos sair daqui agora. A situação é complicada. O povo está a sofrer, mas o petróleo, a madeira e o ouro, entre outros recursos saem de Cabinda. Portanto, nos últimos momentos foram enviados vários governadores que não conseguiram fazer nada. Esteve lá Mawete que fez das suas e lá conseguiu fazer a sua vida; Aníbal Rocha também fez das suas e saiu de lá milionário, e agora está a senhora Matilde Dalomba que é a mais péssima de todos. Tornou-se milionária em menos de um ano. Cabinda, a nível do país, é tida como uma cacimba onde as pessoas vão lá buscar água [dinheiro].

Será este o grande motivo que leva a população de Cabinda a querer independência?
Este não é o problema. Do meu ponto de vista, o Executivo deve dialogar com o povo de Cabinda. Mas, constatamos que o MPLA sempre fugiu dialogar com os cabindenses.
Nós sabemos que há conflitos em Cabinda, só porque o diálogo não prevalece. Acredito que se o diálogo prevalecesse Cabinda hoje estaria em paz, infelizmente o governo pensa com os pés. O quê que o povo quer? O povo quer um bom tratamento; o povo quer respeito e sentir-se livre.
Recentemente, a população decidiu sair a rua para manifestar tudo por causa da má governação. O governo local, com o medo, decidiu prender os protagonistas até neste preciso momento. Como secretário-geral da UNITA em Cabinda, peço a intervenção da comunidade internacional para rever essa questão. Muita gente está a ser presa e torturada injustamente. Segundo a Constituição, aprovada pelo próprio MPLA, o povo (mesmo com um número reduzido de cinco ou 10 pessoas) é livre de fazer uma manifestação para exigir os seus direitos.

E o memorando assinado no Namibe?
O povo de Cabinda não considera esse Memorando. Porque o protagonista desse Memorando é um criminoso. Bento Bembe assinou este acordo, deixando os outros de fora.

Quem são esses outros?
A sociedade civil. Várias sensibilidades não foram tidas nem achadas. Portanto o povo de Cabinda não se revê no acordo de António Bento Bembe.

O que diz os cabindas sobre este facto?
O povo tem estado a reclamar. Uma das situações é mesmo esta manifestação. Não há mesmo respeito pelos direitos humanos em Cabinda. O Bento Bembe não seguiu os parâmetros antes de assinar esse memorando. O povo só quer paz e liberdade.

Paz e liberdade ou a independência de Cabinda?
Eu não vou muito pela independência, mas sim pelo diálogo. Porque este [o diálogo] pode surtir outros benefícios que não seja somente a independência.

Diálogo baseado em quê?
Diálogo em relação a paz. O povo de Cabinda precisa de um diálogo com o governo angolano. Porque todos nós sabemos que há problemas em Cabinda.

Como é que o povo quer paz se Cabinda faz parte de Angola?
Talvez politicamente Cabinda é Angola. Mas se formos ao mapa não encontraremos Cabinda como parte integrante de Angola. Mas politicamente Cabinda é Angola.

Não será que o povo de Cabinda tem essa visão por causa do acordo de Simbulambuku?
Nós não vamos muito por aí. Para nós, o mais importante é o diálogo. É por isso que ultimamente temos estado a constatar que a sociedade civil aderiu a posição da UNITA. Por manifestar a intenção de dialogar com o povo de Cabinda. Mas o MPLA não quer saber do diálogo. Ele reprime e usa forças contra o povo de Cabinda.
Recentemente na conferência de imprensa realizada por S/Excia. Senhor Presidente Isaías Samakuva, no Huambo, falou disso. Os problemas de Cabinda são os mesmos dos povos das lundas. Essas são as províncias que dão sustentabilidade ao país, mas o governo de José Eduardo dos Santos não presta atenção a essas províncias.
Muitos, de facto, querem ver Cabinda independente. Mas acredito que se houver o diálogo, conseguiremos descobrir o que o povo quer. Agora dizer que Cabinda não é Angola (risos)… Mas se repararmos no mapa não é, porque vim a Luanda de avião. Mas fui ao Huambo e Benguela de carro.
Fala-se de uma ponte que o MPLA quer pôr, que parte da província do Zaire para Cabinda, e ouvi dizer que o senado congolês rejeitou este projecto, por que para se construir a ponte teríamos que passar no território congolês. Portanto, são essas questões que por vezes temos que refletir, mas infelizmente o governo do Presidente José Eduardo do Santos esquecesse que o diálogo é um factor muito importante para se resolver os problemas de Cabinda.

Se Cabinda não é Angola, então pertence aos Congos (RDC e Brazaville) uma vez que esta ligada com esses dois países?
É o que acabei de dizer. Politicamente Cabinda é Angola. É verdade que têm ligações terrestres com a RDC e Congo Brazaville, mas são outros países. Porque quando nos deslocamos a estes países pagamos salvo-condutos. Portanto são outros países. Mas para virmos em Angola temos que vir de avião.

    Geograficamente Cabinda não é Angola
Então esta dizer que Cabinda não é, de facto, Angola?
Geograficamente Cabinda não é Angola, mas politicamente sim. São dois aspectos. Por isso, eu continuo a insistir que tudo se resolve a base do diálogo.

A FLEC ainda existe?
Sim, existe. Eu sou FLEC. (Risos)

Nunca mais ouvimos a falar de ataques protagonizados pela FLEC, ou seja, a situação militar em Cabinda esta calma?
A situação militar em Cabinda não está calma. Em Dezembro houve um ataque no município do Bucu Zau. A FLEC está sempre atacar e irá atacar mais, porque o MPLA não quer dialogar.

Mas a FLEC se revê com Angola?
Se a FLEC se revê ou não, não importa. O que se quer aqui é o diálogo porque há problemas em Cabinda. O problema está visto. Continuo a insistir no diálogo como a única solução para acabar com os conflitos em Cabinda. José Eduardo dos Santos e o governo do MPLA devem conversar com o povo de Cabinda.

E os 10% estipulado pelo Estado à Cabinda?
Aquele é um dinheiro que não se faz sentir. Nós não sabemos nada de 10% e só ouvimos a falar dos tais 10%. Portanto, quem deve responder a está pergunta é a senhora governadora que esta lá. Porque, a nível da província, esse 10% não se faz sentir. Nós hoje vivemos de pobreza extrema, estradas esburacadas, temos problemas da fome, energia e água.

O senhor está dizer que o governo apenas aproveita-se das riquezas de Cabinda?
O dinheiro de Angola vem de Cabinda. O povo de Cabinda não tem estado a beneficiar correctamente com o que vem estipulado no Orçamento Geral do Estado. Porque temos em Cabinda uma governadora que é ladra. Isso fica mesmo claro e sem receio. E eu repito, temos uma governadora que é ladra. Ela está a investir em tudo que é canto na província. Tem residências em quase todos os bairros; tem padarias; a maior empresa de táxi em Cabinda é dela, em fim muita coisa.

A actual governadora é natural de Cabinda?
Posso descrever que tem uma nacionalidade duvidosa. Sei que os pais dela são cabo-verdianos. Nasci e cresci no bairro onde viviam os pais da governadora e confirmo que são de nacionalidade cabo-verdiana.

Não há desenvolvimento em que sentido?
Não temos nada em Cabinda. Convido-vos a irem a Cabinda constatar “in loco” o que estou aqui a afirmar. Se formos a Cabinda vamos encontrar quase tudo que o colono deixou. Posso até dizer que Aníbal Rocha deixou alguma coisa. A actual governadora só esta a investir mais nas rotundas. Se repararmos sobre a questão de energia e água, há bairros até a data presente que não têm luz e água, e quando chove as viaturas não conseguem fazer a transportação das pessoas e mercadorias, etc.. O povo de Cabinda não está a usufruir daquilo que a província produz.

Recentemente o seu secretariado emitiu um comunicado que denunciava as falcatruas da governadora provincial. O que tem a comentar?
Sobre esta questão, prometo ao Club K que quando regressar a Cabinda, o secretariado provincial da UNITA vai publicar novos dados que comprovam o desvio do erário público em Cabinda. Há muitos casos de enriquecimento ilícito e nós [a UNITA] temos provas concretas desta famosa empresa Africa4Less pertencente a família Dalomba.
Dizer que, nós prometemos fazer as novas publicações sobre esta empresa. Foi construída por intermédio de valores públicos e a UNITA condena este comportamento.

O senhor não respondeu a pergunta…
Os desvios do erário público em Cabinda existem…

Se existe onde é aplicado esses valores?
Cabinda não está desenvolvida, isso é uma verdade. Posso fazer um convite para irmos em Cabinda e lá lhe vou mostrar aonde são implementados uma parte desses valores. Portanto, aquilo que é programado para a província não é cumprido a 100% porque há desvios. Por este motivo, existe até hoje os problemas da energia, água e urbanização, porque o dinheiro cabimentado é desviado.
Até inclusive, mesmo na falta de dinheiro, a senhora governadora vai as secretarias buscar dinheiro para fazer das suas. Enquanto que, o governo atribuí um valor para cobrir essas despesas. Ela busca dinheiro na secretaria do MINARS.
No meu ponto de vista seria melhor que se indicasse uma outra pessoa, de boa-fé, para dirigir a província, porque é notório que a Dalomba só esta fazer a sua vida. Inclusive nas redes sociais lhe estão a chamar de “Mamã Candongueira”.

Mas a governadora é pastora?
Pastora?!!! Há algumas frases que tenho estado a ouvir por aí, talvez ela veste-se de pele de cordeiro quando no fundo é uma Leoa. Não concordo muito que ela seja pastora de verdade. Porque uma pastora não pode ser ladra.

Como avalia a questão dos Direitos Humanos em Cabinda?
Eu não vou particularizar a questão, mas devo dizer que a violação dos Direitos Humanos regista-se em todo país…

Então o senhor reconhece que Cabinda é Angola?
Não. Como disse, politicamente posso reconhecer que Cabinda é Angola. Eu tenho um bilhete de identidade de Angola. Se me perguntar geograficamente, eu lhe vou responder de outra maneira.
Quando generalizo é porque é assim que nós sabemos. São 18 províncias, incluindo Cabinda que é uma das províncias onde os Direitos Humanos são mesmos violados.
Um caso concreto é o que aconteceu no dia 14 de Março (de 2015). Agora pergunto ao governo do MPLA: Quando é que uma manifestação é tida legal? A nossa Constituição é clara neste aspecto. Portanto, há violação dos Direitos Humanos em Cabinda. Vou-lhe confessar que eu não circulo na província de Cabinda de noite…

Porquê?
Por que sofro perseguições.

O senhor teme pela sua vida?
Claro. Sou um ser humano. Quem não quer viver? O Kamulingue e o Cassule foram mortos… (risos)
Nos últimos tempos, antes de estar cá em Luanda, vinha de Malembo no dia 6 de Março, por voltas das 19 horas, e vinha um carro de marca Pajero, cor cinzenta, me perseguindo e os meus algozes começaram a fazer disparos no ar. Mas, como era de noite não consegui tirar os dados da matrícula. Fui até a esquadra da polícia de Kamassango apresentei esses dados, e vi a mesma viatura a passar defronte à esquadra e a polícia não fez nada. Portanto, fazer a política em Angola é muito complicado e o MPLA tem um plano de matar os líderes da oposição.

Tem provas do que está a dizer?
São dados concretos. No ano passado a minha casa foi vandalizada. O mesmo cenário registou-se na província da Lunda Sul com o meu colega Virgílio. No Kwanza Norte idem. O governo do MPLA quer assassinar os líderes da oposição, principalmente aquelas vozes sonantes.

     O governo deve deixar em paz o padre Congo

Como está Cabinda em termos de ensino?
Péssimo. Só este ano mais de sete mil crianças ficaram fora do sistema do ensino. Tudo por que há poucas salas de aulas, o ensino não é de qualidade. Isto é um problema nacional e esta deficiência estende-se para as instituições do ensino superior. Conheço muitos professores que deram-me aulas e são chamados de doutores, mas não são bem formados. Por isso, a maior parte dos cabindas preferem estudar nos países vizinhos, sobretudo na República Democrática do Congo que, mesmo com a pobreza que se vive, estuda-se bem e o ensino é reconhecido pela UNESCO.

E a perseguição religiosa? Temos acompanhado de perto a questão do padre Congo etc…
Continua. A questão das Igrejas até hoje ainda está em destaque. A igreja do padre Congo é uma das Igrejas perseguidas em Cabinda. Primeiro, é sabido por todos que o padre Congo é um líder e muita gente se revê nele…
Portanto, estas perseguições ainda estão a continuar. O padre Congo não consegue instaurar a sua própria igreja para fazer o seu trabalho religioso. Ele é visto como uma das pessoas que tem estado a influenciar a questão da FLEC, o que não é verdade. Também é visto como um indivíduo que tem estado a fomentar intrigas em Cabinda, e sinceramente não concordo com isso.
O MPLA é que faz confusão e pensa que os métodos que o padre Congo usa vai produzir outros problemas. É necessário que se deixe o padre Congo em paz. A nossa Constituição é clara, as pessoas são livres de abrir as suas igrejas. O padre Congo, até a data presente, sofre perseguições.

Mas, … a igreja da própria governadora também foi encerrada?
Isso é só de fachada. O objectivo é atingir o padre Congo. É necessário compreender que, fechou-se algumas igrejas, inclusive a da governadora com o objectivo de atingir também a do padre Congo. Conhecemos as artimanhas do governo do MPLA.
Penso que se falarmos aqui das igrejas dos padres Congo e Raul Tati, etc. vamos gastar muito tempo. Porque trata-se de uma situação política, em Cabinda, que deve ser resolvida.

Como está a relação entre os partidos da oposição em Cabinda?
Nós estamos unidos. Espero que essa união fortaleça mais até 2017. Porque o que temos visto é que quando se chega a época eleitoral alguns partidos mudam de posições (e nós sabemos porquê).

Como está economicamente Cabinda?
O próprio governo é que está a destruir os empresários em Cabinda. Mas fala-se em desenvolvimento. Para desenvolvermos um país, ou, uma província, temos que potenciar os empresários locais, facilitando o acesso ao crédito bancário.
Mas o que acontece em Cabinda, ou seja, em todo país, só têm que ser do MPLA para beneficiar um crédito bancário. Não estou a dizer que em Cabinda não existem empresários que nunca receberam créditos. Há alguns que, de facto, recebem, mas também há outros que são injustiçados, não recebem créditos porque não são do MPLA.
Mas o governo angolano, ou da província, diz que o país está a desenvolver. Não acredito num país desenvolvido quando os empresários não têm acesso ao crédito bancário. O desenvolvimento de um país faz-se com os empresários.

Em termos de Desemprego como está?
Péssimo. Há muito desemprego em Cabinda. Dalomba [a governadora] piorou os problemas de Cabinda.

Piorou como?
Destruiu muitas empresas, priorizando as de seus familiares. Eu vou mais além, no Hospital Provincial de Cabinda estava ali a trabalhar uma empresa que fazia a manutenção, mas a governadora correu com a empresa e meteu a empresa do seu irmão [o músico Euclides Barros da Lomba]. Nos hospitais “1º Maio” e “Santa Catarina” estão também os seus parentes a tomar conta. Será que o desenvolvimento está aí? Tirar outros empresários e por a sua família? Penso que não.

E a questão do Porto de Cabinda?
(Risos). Não gosto muito de falar do Porto de Cabinda porque é uma vergonha. O João Lourenço quando era secretário-geral do MPLA havia dito (entre o ano 1999 a 2000) que “construir um porto em Cabinda é dar independência aos cabindas”.
Agora pergunto: será que não há dinheiro suficiente para se construir um porto de águas profundas em Cabinda? Fala-se da construção de um porto de águas profundas, mas não se sabe quando as obras hão-de arrancar. Receio que se espera pelo ano 2017 para se fazer propaganda eleitoral na televisão.

Como vos chega os bens de consumo?
Via Ponta Negra [República do Congo]. Hoje o povo de Cabinda sobrevive graça ao porto de Ponta Negra. Cerca de 95% das importações que entra em Cabinda é feita por esta via. Portanto, o povo está a sofrer. É complicado. Posso até acrescentar que Cabinda está encravada entre as duas repúblicas e sobrevive delas.

Quanto a exploração do petróleo?
Pelo que sei, o petróleo é explorado em Cabinda de forma desonesta e abusiva. Não soubemos até que ponto este povo irá sofrer as consequências.

Será que a geração vindoura há-de encontrar petróleo?
Em Cabinda o petróleo nunca vai acabar. Mas, as vezes, costumo a rezar que o petróleo acabe porque é a nossa desgraça. Há muitos derrames e ninguém fala nada e ninguém é responsabilizado. É muito triste.

Se estivesse diante do Presidente da República o que lhe diria?
Resolver o problema dos Direitos Humanos em Cabinda. Conversar com o povo de Cabinda, e evitar as fraudes eleitorais.

Qual é a mensagem que deixa ao povo de Cabinda?
Coragem e força, e que 2017 possamos mudar esta situação.