Luanda - O Centro de Arte do Benfica, ora inaugurado, vai absorver o antigo mercado do artesanato, constituindo um importante vector cultural e comercial, que se junta à tradicional prática turística da zona do Museu da Escravatura.

*Jomo Fortunato
Fonte: Jornal de Angola

No âmbito das comemorações dos treze anos de paz e da reconciliação nacional, no dia 4 de Abril, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, prestigiou com a sua nobre presença, a inauguração do Centro de Artes Benfica, que inclui o novo Mercado do Artesanato e o terminal marítimo, infra-estrutura que dá acesso à zona adjacente ao Museu da Escravatura.


Enquanto percorria o novo Mercado do Artesanato, o Chefe do Executivo deu um exemplo prático de valorização do artesanato angolano, quando adquiriu uma peça, no local, num clara atitude de elevação cívica, sensibilidade e de contributo simbólico, ao rendimento dos artesãos.

Presenciaram o acto de inauguração, altos funcionários da Presidência da República, a Ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, e o governador da província de Luanda, Graciano Francisco Domingos, que classificou a obra “de grande beleza e bom gosto”, tendo enaltecido o empenho pessoal do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, no processo de reconstrução do país, e na luta contra os resquícios da escravatura, nos seguintes termos:

“A escravatura, excelências, foi uma vergonha para a humanidade, e por isso a sociedade lúcida moblizou-se para a sua derrota e abolição. E vossa Excelência, Camarada Presidente, desde muito jovem empenhou-se e participou na queda dos resquícios que restavam da escravatura, o fim do colonialismo. Conduziu o povo angolano à paz, unidade e reconciliação nacional, instaurou a democracia e o pluralismo político e continua assumindo com elevada postura patriótica, o compromisso da recuperação dos valores culturais, da elevação da cultura nacional, através da edificação de numerosas obras espalhadas pelo país, em que esta evidentemente se inclui, que constituem sólidos alicerces, na fortificação da nação angolana.”

Arquitecta

O projecto de construção do Centro de Arte Benfica, Mercado do Artesanato, pertence a jovem arquitecta, Marita Silva, facto que foi realçado pelo Governador da Província de Luanda, Graciano Francisco Domingos, no seu discurso de inauguração: “Excelências, Camarada Presidente, referimo-nos a pouco que esta obra é entregue no mês da juventude, pois, coincidentemente, ela foi projectada por uma jovem arquitecta, por uma arquitecta jovem, angolana, nascida depois da independência, por isso é motivo de orgulho para toda a juventude, e para todo país”.


Filha de Francisco Romão de Oliveira e Silva e de Ana de Fátima Lourenço Morgado da Silva, Maria da Silva de Oliveira e Silva, Arquitecta Marita Silva, nasceu em Luanda no dia 19 de Janeiro de 1980. Marita Silva viveu durante seis anos na antiga Yugoslávia, e dezanove anos no Brasil onde obteve uma Licenciatura em Arquitectura e Urbanismo na Universidade Federal do Paraná em Curitiba, como bolseira da Fundação José Eduardo dos Santos, em 2004. É directora da Fundaçao Sindika Dokolo, e desenvolveu inumeros projectos arquitectónicos para exposições de arte, nomeadamente, espaços para a I e II Trienal de Luanda, de 2005 a 2010, Primeiro Pavilhão Africano da 52ª Bienal de Veneza, em 2007, Bienal de Bordeaux, em 2009, incluindo vários projectos culturais de âmbito nacional e internacional.


Marita Silva, emocionada e visivelmente satisfeita com resultado final do seu trabalho, falou ao Jornal de Angola, nos seguintes termos: “Foi uma grande honra ter realizado o projecto do Centro de Arte Benfica-Mercado do Artesanato. O ambiente de trabalho durante onze meses da sua contrução foi incrível, muito agradável mesmo, todos foram extremamente comprometidos, gentis e altamente profissionais. Foi realmente um grande previlégio ter trabalhado com esta equipa de profissionais: Gabinete de Obras Especiais, dono da obra, a “Excergia”, empresa fiscalizadora, a China Giagsu como empreiteiro e a Progest, meus parceiros, foi muito gratificante”.

Centro

Localizado na comuna do Benfica, município de Belas, província de Luanda, o Centro de Arte Benfica vai conviver com o Museu Nacional da Escravatura, local de memória e referência histórica, e possui um atelier do artesão, que comporta cinquenta pessoas, um auditório, com cento e sessenta e um lugares, uma sala de exposições, que pode albergar cento e vinte pessoas, e ainda sete edifícios de apoio. A criação de infra-estruturas é um passo importante para a valorização do artesanato, de forma a restaurar a sua funcionalidade comercial, preservação, recuperação dos valores e saberes tradicionais. O carácter utilitário da produção artesanal antecede a sua função estética, embora a utilidade e o adorno apareçam conjugados, numa só peça artesanal. O novo Mercado do Artesanato vai dar mais dignidade aos artesãos, e melhorar os seus rendimentos comerciais.

Artesanato

Estudos recentes sobre gestão cultural, apontam várias funções do artesanato, das quais destacamos, para além da essencialmente cultural e de terapia ocupacional, a patrimonial, simbólica, social e comercial, ou seja, o artesanato é uma importante fonte de rendimento, principalmente para as pessoas com pouca formação e fraca capacidade de investimento. Existe ainda a função recreativa, da qual se integra a turística, e, uma das mais importantes, a pedagógica. O ensino do artesanato nas escolas é uma forma dos alunos se inteirarem dos valores culturais das sua zonas de origem. Há ainda a função ambiental, que “permite a valorização de produtos importantes para a preservação de paisagens e dos ecossistemas, muito devido ao facto da maioria do artesanato ser realizado sem recurso a maquinarias, não poluindo o planeta”. Há ainda o chamado “artesanato de recuperação”, que consiste na criação de peças a partir da reutilização, ou reciclagem de diversos materiais.