Luanda - João Araújo é a graça do advogado do primeiro Primeiro-Ministro português que, na história da República do seu país, teve a desgraça de ir parar a uma cadeia, onde ainda lá se encontra a purgar preventivamente, depois de já ter esgotado (quase) todos os recursos, incluindo o Habeas Corpus, para aguardar em liberdade provisória um julgamento que agora é cada vez mais certo que vai mesmo acontecer.

Fonte: Revista Vida

Caso contrário, caso não haja pronúncia, será um dos maiores escândalos da justiça à escala global.

Como profissional da advocacia ao serviço de tão famosa personalidade política portuguesa, o que o goês João Araújo conseguiu até agora foi rigorosamente nada, o que ainda não quer dizer que já tenha perdido a causa.

As aparentes derrotas na fase de instrução preparatória não são suficientes para se fazer o melhor prognóstico, se quisermos apostar a 100% numa certa lógica de continuidade.

Mas o que tornou até agora João Araújo a peça central deste processo pelo menos em termos mais mediáticos, quase ofuscando o protagonista, foi o facto dele conseguir provar não a inocência do seu cliente, mas que é possível ser-se profissionalmente incorrecto até dizer basta.

É assim que agora e depois do “politicamente incorrecto”, poderemos passar a ter o “profissionalmente incorrecto” em homenagem a figura de João Araújo, particularmente depois dele ter mandado em directo uma jornalista tomar banho porque “esta gaja cheira mal”.

Muito dificilmente e depois de ter oferecido de bandeja esta possibilidade, João Araújo deverá agora escapar-se de vir a sentar-se proximamente num banco dos réus.

Trata-se de um desenvolvimento em que a concretizar-se, ele terá todo o mérito de ter sido o próprio a produzir a matéria da sua incriminação, sem qualquer pressão da acusação.

No “politicamente incorrecto” as pessoas que partilham desta opção, passam a vida a dizer o que lhes dá na real gana sem olharem para as restantes sensibilidades que os rodeiam e sem terem o mínimo de respeito pela sua dignidade.

Normalmente é malta branca da extrema direita que, se pudesse, retirava do planeta terra a pontapé todos os negros (eles falam pretos), índios, judeus, ciganos, homossexuais e comunistas, numa primeira leva.

Alegam para o efeito que a liberdade de expressão não pode ser condicionada por limitações de ordem mais ética ou estética ou mesmo higiénica.

Para terem uma ideia de uma pessoa que usa uma linguagem politicamente incorrecta”, normalmente ela não fala homossexuais nem gays, preferindo usar termos como panascas ou paneleiros.

No futuro que já é presente, no “profissionalmente incorrecto” as coisas têm alguma similitude, como se pode comprovar pela forma azeda como João Araújo passou a lidar com os chatos da imprensa.

De facto, temos de reconhecer que neste caso os repórteres estão a ser um tanto ou quanto difíceis de aturar, para quem acha que José Sócrates é o novo Mandela europeu, sem ser o “advogado do Diabo”.

Por tudo quanto tem dito, João Araújo parece sincero quando proclama aos quatro ventos a inocência do seu constituinte.

Quem não acha, como é o caso do escriba aqui presente, também às vezes entende que os confrades podiam ser menos evasivos ou que poderão mesmo estar a ultrapassar alguns limites.

O direito à imagem existe e em principio ninguém devia aparecer na televisão apenas porque foi visitar um parente ou um amigo à cadeia, por mais famoso que seja na sua vida pública.

João Araújo que está aqui a ser por nós eleito como sendo o paradigma deste profissional, não é, certamente, uma novidade neste mundo, onde o que mais temos são efectivamente pessoas com maus modos/bofes e que por razões várias não conseguem disfarçar em público os seus sentimentos mais agressivos, sobretudo quando a vida lhes corre mal.

Com o andamento do caso que tem entre mãos, João Araújo tem razões mais do que suficientes para estar à beira de um ataque de nervos, o que, entretanto, não lhe pode conferir o direito de andar a cheirar o sovaco de senhoras alheias, por mais chatas que elas sejam.

Ferrou-se!

In Secos e Molhados/Revista Vida/O País (10-04-15)