Joanesburgo - Nenhum outro movimento de libertação em Africa, beneficiou de tanta generosidade e solidariedade, no continente africano do que o ANC.

Fonte: Club-k.net

O MWALIMU

Toda Africa (com excepção de uns poucos), sentiu­se na obrigação de expressar solidariedade, aos irmãos de raça sob o jugo opressor do apartheid, classificada pela ONU, como “vergonha da humanidade”...

O decano no apoio dos movimentos de libertação da Africa austral, fundamentalmente do ANC, foi a Tanzânia de Julius Nyerere “Mwalimu”, que deu substancial apoio material, financeiro e diplomático, albergando inclusive a sede do ANC... vários milhares de sul­africanos, encontraram na Tanzânia uma segunda Pátria, a maioria casaram com mulheres tanzanianas e constituíram famílias...

Apos a independência das colonias Portuguesas, Angola chamou a si a responsabilidade de conceder apoio ao ANC e a SWAPO, aliviando assim a Tanzânia, que já se estava a ressentir financeiramente de tal atitude. Moçambique de Samora Machel deu atenção preferencial ao PAC, Angola de Agostinho Neto (por razoes obvias) concedeu apoio incondicional ao ANC e a SWAPO.

“Na Namíbia e na Africa do sul esta a continuação da nossa luta” era a basilar palavra de ordem, proferida por A. Neto, engajando o País inteiro em tal decisão...

Angola pagou MUITO caro. Africa do sul, castigou horrivelmente Angola e os angolanos, comprometendo o desenvolvimento do país, a refinaria da Petrangol em Luanda, os depósitos de combustível no Lobito, os vários bombardeamentos em várias localidades do País (os Camberras Sul­ africanos eram vistos até no Catengue/Benguela) ... tao pesado foi, que a ONU “decretou” a indeminização de cerca de 20 bilhões de USD do governo Sul­africano a Angola...

A LINHA DA FRENTE

Moçambique claro, não ficou atrás no que se refere a atração da fúria destruidora do apartheid por apoiar um dos movimentos de libertação sul­ africano, a tal ponto que, Samora Machel, pagou com a própria vida... Samora Machel, na altura da sua morte, regressava de uma reunião dos países da linha da frente, que teve lugar na Tanzânia, durante o qual ele próprio, propôs a constituição de um exército conjunto, para invadir Africa do sul e libertar os “nossos irmãos”...

Agostinho Neto foi o principal percursor da criação da “Fraternidade” denominada; “Países da Linha da Frente”, assim denominado, por se posicionarem na primeira linha de defesa da fúria racista sul­africana, a Tanzânia foi incluída por razões óbvias, os países fundadores foram; Angola, Moçambique, Zâmbia e Tanzânia (A. Neto, S. Machel, Kenneth Kaunda e Julius Nyerere).

Toda Africa, gemia junto com os seus irmãos sul­africanos, quando ouvíamos relatos de massacres e indiscriminadas matanças perpetrado pelos algozes sul­africanos, contra os nossos irmãos, só por serem PRETOS.

“Mbanga Mbote sakidila Xoto”

Porem apos a libertação de Mandela e o fim do apartheid, o ANC e Mandela, incompreensivelmente mantiveram e desenvolveram uma cínica fina camada de gelo com relação, ao resto do continente em geral e dos integrantes da ex­linha da frente (já evoluída na SADCC e depois SADC) ...

Angola, cometeu “outro” erro de palmatoria na prossecução de um prejudicial revolucionarismo, anunciou publicamente que abdicava do pagamento de 20 biliões de USD por parte do governo sul­africano, “pois não queremos sobrecarregar os nossos irmãos, com tal pesado encargo...”­ afirmaram os dirigentes do MPLA.

Mwalimu (Julius Nyerere) no seu leito de morte em Londres, arrependeu­ se genuína e amargamente, de ter permitido tão elevado sacrifício por parte do seu governo e povo, para apoiar o ANC (Tanzânia destinava oficialmente parte do seu OGE para os cofres do ANC), tal sentimento, por parte de Mwalimu derivou da constatação da INGRATA e incompreensível

indiferença do ANC, para com os seus irmãos do norte. Mwalimu, morreu durante a presidência de Nelson Mandela na RSA.

Em 1996 quando já me encontrava em Johannesburg, vi um programa realizado pela SABC, denominado; “Special Assignment” dedicado as famílias que os soldados do ANC “deixaram” nos países em que se encontravam alojados no exterior... Tal programa, deixou­me cismático. Constatou­se de que, menos de 10% do seu efectivo “trouxe” ou posteriormente “chamou” a família (esposa e filhos), ao encontro do chefe da família, a esmagadora maioria de esposas e filhos, afirmaram mais ou menos o seguinte; “ele disse, que quando tiver as condições estabelecidas na Africa do Sul nos haveria de chamar...” maioritariamente tal nunca aconteceu.

Os realizadores do programa, localizaram muitos destes indivíduos, que na sua maior parte (afirmaram os repórteres naltura) fugiram a entrevista, os que aceitaram, invocaram patéticas desculpas...

Tal, pode parecer “normal e inofensivo”, mas tem um longo e profundo ‘alcance;’ reside a base da compreensão da atitude do ANC e das bases da Xenofobia na Africa do Sul.

O ANC nunca se deu ao “trabalho” de explicar e enaltecer, o apoio e sacrifício do resto de Africa, intrigantemente, mantiveram­se mudos e quedos... Já ouvi algumas vezes, a seguinte explicação; “Graças a intervenção dos nossos ancestrais (espíritos) derrubamos o apartheid...” certa vez expliquei com tacto a um desses indivíduos, o que e quem realmente esteve na base da queda do apartheid, o individuo ficou estarrecido, duvidando em toda a linha, depois “espetou­me” a seguinte pergunta; “mas a ser verdade, porque o ANC e Mandela nunca disseram nada a respeito?!”...

REI ZULU, GOODWILL ZWELETINI

Durante a vigência do apartheid, houve uma permanente rivalidade entre as tribos sul­africanas, muitas vezes traduzido em combates e chacinas entre eles, Tembisa, Soweto, Alexandra entre outros, foram palco destes combates fratricidas, os Zulus tinham neste um papel preponderante.

Quando da preparação do fim do apartheid, houve uma tentativa de imitação da formação de Lesotho e Swazilândia, (por parte dos Britânicos),

 

desta feita a formação de uma Republica independente Zulu, pelos vistos o Inkata Zulu, representava o braço político de tal intenção. Não nos esquecemos, que apos a libertação de Mandela, houve uma conferência tripartida; Mandela, De Klerk e Mangosutu Buthelezi... Ora porque foi incluído este ultimo?

Na maior parte a xenofobia e a sua componente violenta/assassina, são protagonizados MAIORITARIAMENTE pelos zulus. Por isso, quando o rei, fez referência negativa, aos “kwerekwere” – designação pejorativa atribuído aos pretos não sul­africanos ­ tal foi entendido, como uma ordem, para exterminar impiedosamente os estrangeiros.

O rei, embora tenha dito que foi mal interpretado, nunca apareceu no centro da contenda, para dissuadir os seus súbditos, diz que só vai faze­lo, numa reunião convocada para o efeito, no dia 20 (show politico) ... até lá, os “kwerekwere” vão suar dor e sangue... (Que estranha atitude, quando vidas humanas estão em perigo).

O filho Primogénito de Jacob Zuma, nascido na Swazilândia, durante o exilio, que beneficiou da generosidade do resto de Africa, veio a Ribalta, para anunciar publicamente que apoiava o dito do rei zulu, pois os estrangeiros “must go home”...

“They take our jobs” – Roubam os nossos empregos

Ė a explicação/motive geralmente emitida pelos vândalos xenófobos, mas estranhamente atacam lojas e negócios de estrangeiros pretos, muitos dos quais empregam pretos sul­africanos. Alias 80% dos pretos estrangeiros na Africa do Sul, trabalham por conta própria, contribuindo para maior salubridade da renda sul­africana. Até os somalis, tecnicamente sem País, chegaram a Africa do Sul, maltrapilhos, na sua maioria hoje são proprietários de lucrativas cantinas, algumas estabelecidas em locais onde ninguém arrisca fazer negócio...

Uma dessas localidades, ė o Alaska (assim designada por se encontrar numa área remota) em Mamelodi – Pretoria, a eNCA, ontem apresentou durante todo dia, que enquanto no resto da Província de Gauteng, os estrangeiros encerraram as suas lojas, para evitar a pilhagem (o verdadeiro motivo do vandalismo), no Alaska uma das raras lojas/cantinas 

de um somali, mantinha­se aberta e em pleno funcionamento, protegida por alguns populares locais, o chefe da comunidade entrevistado, disse sem muito custo; “precisamos destes homens aqui, antes tínhamos que andar longas distâncias para adquirir bens alimentares, porque vamos correr com ele?”...

ECONOMIA SUL­AFRICANA

Inserido no contexto da sociedade das nações, obviamente a RSA, não pode deixar de se ressentir da fúria da recessão económica/crise financeira mundial... Centenas de empresas estão a fechar as suas portas, obviamente aumentando ainda mais o número de desempregados e dificuldades do País...

Tal, associado a gestão danosa da coisa pública, não ė difícil imaginar o resultado. Como a corrente quebra sempre no elo mais fraco, paradoxalmente este ė o estrangeiro, paga a factura das causas acima mencionadas.

Cada loja/cantina, fabrica ou qualquer iniciativa económica, que faça circular a moeda e produtos, gera emprego, ė um esforço para a contribuição da estabilidade económica sul­africana. – Destruir estes, ė uma insanidade a toda a prova. Ontem (17 Abril sexta­feira) em Jeppestown, além de varias pequenas lojas destruídas, uma fabrica teve o mesmo destino.

Os apagões, agora fazem­se sentir com regularidade, por vezes duas vezes ou mais durante o dia. A­propósito deste facto, ouvi o Presidente da RSA, Mr. Zuma, salientar que esta em execução um ambicioso projecto, para sanar tal dificuldade, a construção da maior barragem de Africa e uma das maiores do planeta, na RDC na localidade de INGA, que vai assegurar o abastecimento de cerca de 60% das necessidades nacional em energia elétrica...

Ora, como fica a xenofobia?

Na minha opinião, Julius Malema (embora não goste patavina do tipo) esta gravido de razão; “ANC ė SIM, o principal vector da violência xenófoba.”

 

ISOMAR PEDRO GOMES