Luanda - No passado dia 07, terça-feira, a Universidade Metodista manteve as suas portas encerradas paralisando desta forma as aulas durante um dia, causando tumulto entre os estudantes que se aglomeravam logo a entrada da mesma, por razões alegadamente ligadas a um litígio que a direcção da Universidade tem com representantes da igreja Metodista Unida de Angola e ainda por questões ligadas ao aumento de propinas

Fonte: O País
Para constatar os factos, este jornal foi ao encontro de quem vivenciou a situação a fim de fornecerem pormenores acerca do que estava realmente acontecer.

Segundo apurou-se de alguns estudantes, desde o início do ano lectivo que a supracitada instituição tem vindo a alterar os preços das propinas e emolumentos sem apresentar alguma justificação aceitável aos estudantes, além do incumprimento do despacho vindo do Ministério do Ensino Superior referente ao preço das propinas a ser praticado.

A Universidade lecciona actualmente mais de cinco cursos, cada um sendo pago a um preço diferente estabelecido pela própria instituição.

Os estudantes do curso de Direito, tal como fez saber Lisandro Capatala, estudante do 3º Ano, nos anos anteriores pagavam mensalmente 26 mil e seiscentos e noventa kwanzas agora tendo subido para 32 mil e trezentos kwanzas. Segundou afirmou o estudante, foi a partir da primeira quinzena do mês de Março (início do presente Ano Lectivo) que a Universidade publicou uma circular na qual estabelecia a subida dos preços das propinas e multas que por norma os estudantes costumam pagar.

“Essa subida dos preços não tem qualquer justificação ou pelo menos a fundamentação que até agora nos foi dada não tem nenhuma razão de ser; alegam que a subida do câmbio face o dólar americano levou a que tomassem tal decisão. E isso, ao nosso ver e numa análise cuidada, não justifica tais aumentos registados”, disse Lisandro.

O estudante fez saber ainda que até ao momento actual, a direcção da Universidade nunca reuniu com os estudantes para se pronunciar e apresentar uma justificação aceitável face a decisão tomada, acrescentando que a mesma circular que a instituição emitiu refere também que durante os cinco meses do primeiro semestre os valores a serem pagos são os tais exorbitantes que a Universidade estabelecera e somente no segundo semestre é que a situação mudará baixando um pouco o preço.

“ Foi através de um sistema interno que eles denominam como ‘actualização’ que tivemos a oportunidade de tomar conhecimento dessa subida, referindo que à partir do segundo semestre deixaríamos de pagar os 32 mil para passarmos a pagar 28 mil em relação aos 26 mil que pagávamos nos Anos Lectivos anteriores. E depois de fazermos uma análise profunda, percebemos que tal não faz sentido algum e que continua a ser um roubo na mesma”, acrescentou.

Por outro lado o estudante de engenharia industrial, Avelino Clemente disse que anteriormente pagavam para o seu curso 28 mil e setecentos e cinquenta kwanzas, ora, actualmente estão a pagar 35 mil e setecentos e quinze kwanzas, e no segundo semestre pagarão segundo a circular interna da universidade, 33 mil setecentos e quinze kwanzas.

Multas obrigatórias

O curso de Arquitectura e Análises Clínicas tal como confirmaram os estudantes Kolacama Martins e Santos António, são os mais caros na instituição, tendo os mesmos dito que durante o ano de 2014 pagavam mensalmente 32 mil kwanzas, entretanto, com a nova subida dos preços , passarão a pagar 38 mil.

No que se refere aos critérios de pagamento que a Universidade estabeleceu, todos os estudantes devem efectuar o seu pagamento antes do dia 15 de cada mês, o que significa que, quem o fizer depois dessa data pagará obrigatoriamente uma multa no valor de três mil e oitocentos kwanzas.

“São mais de 40 mil kwanzas que nós como estudantes de Arquitectura, pagamos nessa condição, quando inclui a mensalidade e a multa, que constitui muito dinheiro para quem tira todos os meses do seu bolso”, disse Kolacama Martins.

Para o curso de Comunicação e Língua portuguesa, segundo informações dadas pelas estudantes Mariana Gomes e Isabel da Silva, o valor cobrado nos anos anteriores era de 27 mil kwanzas, tendo subido então para 32 mil no corrente ano.

As estudantes disseram ainda que no momento em que fizeram a matrícula, foi-lhes cobrado já um valor de 32 mil kwanzas, valor que segundo a instituição serviria também como pagamento da propina do mês de Março, porém não foi o que aconteceu pois, as mesmas alegaram que foram obrigadas a pagar mais 32 mil como propina do mês de Março. “Quando fizemos as inscrições, pagamos um valor de 32 mil kwanzas e haviam-nos dito que aquele valor abrangeria o pagamento do mês de Março que é o primeiro mês de aulas que tivemos, mas acontece que logo na primeira quinzena de Março a Universidade começou a cobrar o referido mês alegando que tal valor pago anteriormente já não valia e para piorar tudo, há colegas que não efectuaram o pagamento durante o mês de Março e estão já a pagar com multa anexada”, afirmaram as jovens estudantes.

As estudantes protestaram ainda dizendo “que a Universidade tem vindo a exagerar, mesmo sabendo da situação económica que o país está atravessar, não querem atenuar os preços”. Chamaram também a atenção pelo facto de a referida instituição exigir que os pagamentos sejam feitos somente na primeira quinzena de cada mês, justificando que muitos estudantes trabalhadores dependem dos salários que auferem para pagar os estudos. “A Universidade exige que o pagamento deve ser feito até ao dia 15 de cada mês mas, tem conhecimento de que muitos dos estudantes trabalhadores dependem dos salários para pagar as respectivas propinas, no entanto, a maior parte das empresas só efectuam o pagamento dos salários depois do dia 20, e isso coloca-nos numa situação que nos leva a fazermos o pagamento depois do dia 15 e sempre abrangidos pela multa”, protestaram.

Direcção não fala

A direcção da referida instituição foi contactada pelo O PAÍS mas, fomos mal sucedidos, pois a mesma mostrou- se indisponível para fornecer quaisquer esclarecimentos tendo mesmo recusado a pronunciar-se à imprensa.

Instituição desobedece despacho

Segundo apurou este jornal, no dia 23 de Março do corrente ano, o ministro do ensino superior havia efectuado uma visita àquela Universidade na qual deu a conhecer as nomas contidas no despacho (um documento proveniente do Ministério), que determinava que, para o presente ano académico, todas as instituições de ensino universitário existentes no país, deveriam manter como propinas e emolumentos os mesmos valores praticados no Ano Lectivo de 2014.

No despacho diz também que os valores cobrados no mês de Maio do ano passado, mês em que se realizou o Censo Geral da Populaçao, deveriam obrigatoriamente ser transferidos para o pagamento do mês de Março do corrente ano, e isso implica considerar que todos os estudantes que efectuaram o pagamento do mês de Maio em 2014 não devem pagar as propinas do mês de Março do corrente ano.

“A nossa instituição faz parte do subsistema e está entre as citadas no despacho emanado pelo Ministério do Ensino Superior, publicado no dia 02 de Dezembro de 2014, e esse despacho era de cumprimento obrigatório. As outras Universidades cumpriram essa norma, e a nossa é a única que ainda está a persistir no seu incumprimento”, disseram alguns estudantes, acrescentado que a Universidade não reembolsou para o mês de Março os valores pagos no mês de Maio do ano transacto.