Luanda – O bem mais precioso e valioso que uma sociedade possui é a paz. Lembro-me que os anos que antecederam o memorando do Luena (em 2002), foram de angústia e de extrema pobreza. Nesse período, o sonho colectivo era da conquista da paz. Felizmente, Deus ouviu as preces das igrejas que não paravam de rezar, e com a morte do Dr. Savimbi, a paz aconteceu finalmente.

Fonte: Club-k.net
A notícia deste acontecimento despertou as esperanças adormecidas e muitos não cabiam em si de tanta felicidade. O tempo foi passando e a paz foi se evidenciando na construção de escolas, de pontes, na desminagem, na recuperação das vias terrestres.

Um trabalho conjunto surgiu para se recuperar o país que há muito esteve mergulhado na guerra, e que do belo país que A. Neto versejou dizendo: “Havemos de voltar” só restava ruínas. Assim, o trabalho foi ficando sério até quando se deram as primeiras eleições e a nova constituição foi feita.

E nisso, temos de reconhecer o grande trabalho empreendido pelo governo. Porém, verdade se diga, as armas se calaram mas a PAZ é ainda uma miragem, uma utopia, que está difícil ganhar terreno. O que se fazia no período da guerra ainda hoje se faz na calada da noite.

É assim que vamos encontrar jovens brutalmente espancados, oponentes do sistema silenciados a troco de míseros trocados e outros até que caíram no silêncio sepulcral. Manipulou-se a sociedade e não se sabe quem é quem. Confundiu-se a paz com o conformismo dos sofredores.

Por muito tempo vivi na expectativa de novos dias, de oportunidades que se abririam no horizonte e que nos dessem esperança de um futuro risonho e abonatório. Mas fui desapontado quando presenciei uma sociedade impregnada no lucro, sem preocupação pelo outro; uma sociedade que legitimou políticas que ajudam a criminalidade e a delinquência a evoluírem como um cancro ou como uma epidemia virulenta; uma sociedade sem referências e submersa na crise das instituições, na crise de autoridade, na crise existencial, enfim, uma crescente crise de valores que cunhou uma cantiga popular: “Resgate dos valores”. Quê valores?

Não entendo como os ventos da paz favoreceram a “gasosa”, onde muitos não sabem mais nada senão desrespeitar a dignidade de outras pessoas. Ainda me lembro de um jovem que foi a Igreja e, estando no confessionário, queria pagar o Padre para absolver os seus muitos pecados, e o mais caricato foi pretender corromper o Padre para atender sem demora a sua namorada que estava na fila há 30 minutos. Isso acontece porquê?

Acontece porque não nos ensinaram a ter paciência; a mentalidade que nos formou, disse-nos que o dinheiro compra tudo, até o perdão de Deus. Não estranha algumas seitas incitarem os seus adeptos a venderem os seus benesses e a darem 50% dos seus salários a fim de conseguirem mais e para serem merecedores do Reino dos Céus.

Assim, vamos assistindo relações conjugais descartáveis que não subsistem aos primeiros vendavais da vida, tudo porque a nossa existência está simplesmente enraizada no presente e, sem responsabilidade, vive-se sem quaisquer compromissos com o futuro.

Eu vi jovens e velhos fragilizados pela lembrança da guerra; uma guerra que ainda hoje continua em silêncio em cada esquina das nossas cidades e dos nossos bairros.

Como falar de paz num ambiente com este tipo de comportamento? Será que a paz é somente a ausência de conflitos? Não. A paz é muito mais do que as concepções correntes que privilegiam as obras sociais, os objectivos de uma pequena minoria ao homem. A paz passa pela justiça, evidencia-se no desenvolvimento sustentável e verifica-se na educação, na saúde no respeito que o Estado, o governo e os partidos devem prestar ao cidadão e desemboca, consequentemente, numa solidariedade verdadeira.

Como falar de paz num país onde alguns estão a enriquecer demasiadamente e outros vão ficando cada vez mais miseráveis, perdendo, deste modo, a esperança em melhores dias? Além de nos roubarem os nossos sonhos, roubaram-nos também a esperança; não estranha o consumo exagerado do álcool, o índice crescente do uso da droga e a prostituição que vai fazendo caminho na camada juvenil. Que paz!!!
A paz continua a ser um enigma na sociedade angolana.

Depois da guerra fratricida, pensei que Angola seria finalmente o país que os nacionalistas angolanos sempre sonharam. Mas ao invés da FELICIDADE, experimentei as palavras do profeta Jeremias: «esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia!» (Jm 14,19). Se na guerra morria-se de maneira manifesta hoje morre-se silenciosamente.

Muitos inocentes são vítimas de políticas incorrectas, e nisso tudo são os pobres que pagam o preço elevado da hipocrisia dos homens. Pois, temos de tomar consciência que a PAZ só será possível na VERDADE. A VERDADE é o outro nome da PAZ.