Luanda - O nosso confrade Maka Angola esta fora de serviço devido a um ataque de hackers. Por solidariedade, publicamos a sua ultima matéria.

Fonte: Maka Angola

O jovem civil Henrique Guedes, de 28 anos, encontra-se detido desde ontem na Guarnição Militar de Luanda. Segundo o testemunho de familiares de Henrique Guedes, os militares que o detiveram alegaram que ele ofendeu o comandante da guarnição, general Carlitos Wala (na foto), ao publicar no Facebook uma foto deste oficial, junto com comentários pouco abonatórios sobre o mesmo.

A publicação destes comentários na página de Facebook do detido ocorreu na sequência de um processo de despejos violentos protagonizado por militares da referida guarnição, no Zango 2, sem qualquer mandado judicial.

O jovem lamentava no seu Facebook a forma como a sua casa tinha sido arrombada e revistada. Reclamava ainda que a sua rua estava “cheia de militares a mando do senhor Wala, a favor da dona Junit [Ângela Pereira], proprietária da empresa Anjunita [Anjenita]”.

“Será que o general Wala pode mandar a sua tropa arrombar e revistar a minha casa?”, interrogava-se o jovem. E desabafava: “Fui apontado arma na cabeça, na frente da minha filha que ardia de febre. Fui transportado debaixo do banco do carro da região militar. Mais de quatro horas sentado no chão, sem camisa, como um delinquente.”

“Onde está o direito do cidadão?”, interrogava-se. E concluía: “O direito do cidadão ficará no caixão.”

O enredo

A 27 de Abril, por volta das 9h00, Henrique Guedes encontrou a porta da sua residência arrombada por militares da Guarnição Militar de Luanda. Regressava de uma clínica para onde levara a sua filha de seis anos, que tinha febres altas. Constatou que a casa tinha sido toda revistada e revirada. Momentos depois, os militares abordaram-no e, quando Henrique se identificou como proprietário da casa, obrigaram-no a acompanhá-los até a um cajueiro onde tinham montado um posto de comando.

“O meu filho pediu um momento para retirar o computador que tinha deixado no carro. Ao baixar-se, um dos soldados assestou-lhe com o lado de uma catana no lombo. O amigo que o acompanhava também não foi poupado e apanhou mais”, conta o pai do detido, Francisco Guedes.

Forçado a despir a camisa, Henrique Guedes foi mantido sob custódia dos militares durante mais de quatro horas, sentado debaixo do cajueiro. O computador foi-lhe confiscado.

Em Dezembro passado, Henrique Guedes adquiriu uma casa de habitação social inacabada, pelo valor equivalente a US $28,000 dólares, à empresa de construção civil HTS Limitada. Pagou pelas paredes levantadas e uma cobertura de chapa, sem portas nem janelas.

O proprietário da empresa HTS, Henriques da Silva, revelou ao Maka Angola a eventual causa do envolvimento do exército no negócio.

Por falta de fundos, a sua empresa, titular do terreno, estabeleceu parceria com uma outra empresa, a Anjenita Limitada, referida como propriedade de Ângela Pereira, na qualidade de investidora. Cada empresa ficaria com 50 por cento das habitações construídas e daria às mesmas o destino que bem entendesse.

As obras iniciaram-se em 2012 e, em 2013, pararam. “Na impossibilidade de convencermos a Anjenita a terminar as obras, no final do ano passado, decidimos ficar com 50 por cento das casas, conforme previsto. Ficámos com 69 das 138 casas erguidas”, explica Henriques da Silva.

Segundo o proprietário da HTS, “entregámos as casas aos camponeses que nos haviam cedido os terrenos e outras vendemo-las. É tudo legal, temos os documentos comprovativos e confirmamos que não houve invasão das habitações por parte dos seus residentes”. O Maka Angola teve acesso à procuração irrevogável passada por Henriques da Silva a Henrique Guedes sobre os direitos permitidos e relacionados com a residência nº QH1 12, localizada no projecto HTS, no Zango 2, ou seja, a casa adquirida pelo ora detido. A procuração foi emitida pelo Cartório Notarial de Viana, órgão afecto ao Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, a 28 de Novembro de 2014, tendo sido assinada pelo notário Mário Alberto Muachingue na presença das partes.

“A senhora Ângela Pereira, ao invés de recorrer aos órgãos de justiça para apresentar as suas reclamações, preferiu usar a sua influência pessoal e mobilizou a Guarnição Militar de Luanda para receber todas as casas à força”, lamenta Henriques da Silva.

O Maka Angola telefonou várias vezes ao capitão Luís, que dirigiu a operação no terreno, mas não obteve resposta nem retorno das chamadas. Também não foi possível obter o contacto da senhora Ângela Pereira para ouvir a sua versão dos factos. Contamos ouvi-la logo que o obtenhamos.

Quem envolveu o nome do general Wala?

O proprietário da HTS, Henriques da Silva, refere que, semanas atrás, “um coronel, acompanhado de tropas, dirigiu-se ao projecto e anunciou que tinha sido mandatado pelo general Wala para prender os moradores”.

“Como pai e veterano de guerra, no dia 28 desloquei-me à Guarnição Militar de Luanda para falar com o comandante Wala, que se recusou a receber-me. O seu adjunto também negou ouvir-me. Recorri, então, à Polícia Judiciária Militar para apresentar uma queixa”, afirma Francisco Guedes, pai do detido.

Aquando da primeira detenção de Henrique Guedes, a 27 de Abril, “o capitão Luís propôs ao meu filho que desistisse da ideia de apresentar queixa e, em troca, permitir-lhe-ia ficar em sua própria casa por mais 72h00 até encontrarem a senhora [Ângela Pereira], que solicitou a operação”, conta o pai

Pela sua recusa em aceitar a proposta do capitão, Henrique foi novamente agredido em casa, altura em que um dos soldados lhe apontou a arma à cara, diante da filha, e o detiveram novamente, embora por um período breve.

O Posto de Comando Unificado do Zango abriu um auto de queixa contra a operação do capitão Luís, a 29 de Abril, sob orientação do Major Toni. “Irritado, o capitão enviou os seus homens à casa do meu filho, às 22h00, para que este abandonasse imediatamente a sua residência, caso contrário sofreria as consequências logo pela manhã”, afirma o pai.

No dia seguinte, de manhã, “detiveram-no e informaram-no de que estava a ser detido por ter publicado o texto com referência ao general Wala, assim como a sua foto no Facebook. O meu filho publicou ainda fotos dos despejos anárquicos na rua e da sua porta arrombada”. A esposa e a filha doente de Henrique Guedes foram despejadas de casa no acto da sua detenção.