Luanda - No domingo, assinala-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A cobertura dos confrontos entre a polícia e a seita "A Luz do Mundo" é bom exemplo das dificuldades dos jornalistas angolanos, acha Luísa Rogério.

Fonte: DW

O dia 3 de maio é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Nas vésperas, a ONG norte-americana Freedom House publicou um relatório que não é animador. A organização diz que 2014 foi o pior ano para a liberdade de imprensa da última década - globalmente, segundo a Freedom House, os jornalistas enfrentam pressões de várias frentes - dos governos, de grupos radicais, que usam radicais usam tácticas cada vez mais agressivas para intimidar os jornalistas, e dos próprios donos dos meios de comunicação.

Entre os países africanos de língua oficial portuguesa, Cabo Verde e São Tome e Príncipe foram os únicos países que a Freedom House classificou como livres. Moçambique e Guiné-Bissau são países considerados como "parcialmente livres" e Angola como "não livre".


A DW África conversou com a secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas de Angola, Luísa Rogério, sobre o estado da liberdade de imprensa no país e sobre a cobertura mediática dos confrontos na província angolana do Huambo entre membros da seita "A Luz do Mundo" e a polícia.

DW África: Está preocupada com a questão da liberdade de imprensa em Angola?

Luísa Rogério (LR): Estou profundamente preocupada, porque a liberdade de imprensa em tempos idos era uma questão diretamente relacionada aos poderes públicos - ou políticos, se preferirmos. Agora, o poder económico e outros fatores fazem com que a liberdade de imprensa seja cada vez mais reduzida.

Pode haver [diferentes] níveis de liberdade de imprensa. Podemos falar de graus de liberdade de imprensa em Luanda. Mas na maioria das províncias essa tal liberdade gradual não se reflete, até porque falta um elemento fundamental, que é o pluralismo. Continua a haver uma concentração na maioria das províncias: os meios de comunicação social estão todos nas mãos do Estado. Então há um certo "acompanhamento" que faz com que estejamos muito preocupados a nível provincial com essa liberdade com muitas limitações. Ao fim e ao cabo, não sei se podemos falar sem constrangimentos de liberdade de imprensa em Angola.

DW África: Disse numa crónica no site Redeangola relativamente ao caso de Kalupeteka, que a falta de informação e a inacessibilidade do lugar dos confrontos para os jornalistas têm contribuído para aumentar a especulação. Há perspetiva para que esta situação mude brevemente?

LR: Até agora pelo menos não vejo nenhum sinal para que a situação mude a favor dos jornalistas e da transparência. Neste momento, estou no Huambo e ainda não fiz muitos contatos e não andei muito, mas pelas indicações que tenho a situação não mudou significativamente. Portanto, o silêncio e a cortina de penumbra em torno do caso contribuem para a especulação.
Houve muitos jornalistas que vieram ao Huambo. Mas pelo que sei, nenhum deles conseguiu obter qualquer informação de uma fonte oficial que permitisse destapar este véu que cobre o caso Kalupeteka. É um caso, que por si só é sinónimo de toda cobertura mediática e de como andamos.

DW África: Como avalia a forma de como este caso até agora tem sido tratado pela imprensa?

LR: Mau, mas não por causa da imprensa, mas precisamente por causa das péssimas informações. A imprensa não tem dados.
É necessário que estas fontes, que tem domínio da situação no terreno, nomeadamente o Governo provincial, as autoridades policiais e eventualmente os militares (não sabemos exatamente até que ponto o exército teve intervenção no caso), se abram e que digam o que realmente se está a passar. E além de falarem é fundamental que os jornalistas tenham acesso ao local, às vítimas e aos familiares. Porque a sensação que tenho aqui no Huambo é que existe um grande receio de comentar sobre o caso.