Luanda - Você me diz para eu ter paciência porque Roma não foi construída de um dia para outro, mas você não perde tempo em ocupar terrenos em quase todo o lado e lá construir tudo o que lhe vem à mente; Você me diz para eu ter paciência que o poblema da energia irá resolver‐se, mas quando você construía Capanda já me dizia que quando concluida iria resolver o problema de energia de uma vez por todas e não resolveu; agora você me promete Laúca. Como vou ter paciência se você próprio não consegue esperar pela energia do Laúca e por isso montou grupos de geradores potentes para ter sempre luz, e me diz para ter paciência!

Fonte: Club-k.net

Você me diz para eu ter paciência que os problemas das torneiras secas, baldes na cabeça e banhos com canecas têm os dias contados, mas as obras megalómanas de construção de condutas e mais estações de tratatamento de água nem se sentem; continuo a ver condutas passando pelo meu bairro, o bairro do povo, do pobre, para ir abastecer os novos condomínios cujos donos são bem conhecidos; mesmo aí onde você disse ter colocado água domiciliária ela não jorra?

Você me dizia que o país era um dos que mais crescia no mundo em termos económicos e isso devia‐se às políticas estratégicas traçadas, mas agora descobri que afinal estavámos a apanhar a “boleia” dos altos preços do petróleo no mercado internacional. Agora que os preços baixaram, a verdade veio à tona.

Você me diz para eu entender que o país está em crise e a subida dos preços dos combustíveis irá servir para diminuir as despesas públicas e assim haver maiores investimentos no sector social; mas você nem compra combustíveis, o seu salário não sabe o que é o peso mensal das despesas com os combustíveis;

Você me diz que Angola é um país democrático e de direito, mas muitos daqueles que andam consigo têm imunidades como se fossem pessoas à prova da lei. Quando eu me exprimo para apresentar propostas ou criticar as más práticas de governação você me chama de oposição e anti patriótico;

Você diz para eu não tirar exemplos de fora porque o nosso país é um caso único e especial, mas você nem se quer consegue passar férias cá no país ou usar os hospitais do país, pelo contrário você vai lá fora onde há do bom e do melhor. Então porque não aprende com eles lá fora e vem implementar aqui também aquilo que tem ido buscar lá fora?

Você me diz para eu não esquecer que a guerra é culpada de todo o mal que ainda enfrentamos, mas você esqueceu que já lá vão 13 anos que a guerra acabou, mas a impunidade continua na mesma, o “cabritismo” e a corrupção continuam a crescer enquanto que o pobre continua cada vez mais pobre;

Você me diz para eu ver as estradas que foram construídas nestes 13 anos de paz, mas não me diz que quase todas as estradas já apresentam níveis de degradação muito acelerado em tão pouco tempo, porque uma parte do dinheiro destas empreitadas foram para pagar “comichões” (comissões) dos seus homens;

Você me diz para eu ter confiança nos nossos órgãos de comunicação estatal, mas você não me diz que estes órgãos estão aí para promover o culto de personalidades e diabolizar aqueles que pensam de forma contrária, como se de outro país fossem;

Você me diz para eu me orgulhar da reputação que o país tem granjeado na arena internacional, mas você não me diz que vivemos mais de aparências, queremos ser bem vistos por todos lá fora e nos esquecemos que esta reputação não está a criar mais empregos ou a reduzir a pobreza.

Você me diz para eu não construir em locais impróprios, mas não me mostra onde devo construir. Você nem se quer criou um mercado formal de venda de terrenos, tudo é feito na candonga e criámos um sistema que se assemelha ao do tempo do feudalismo, em que os senhores feudais são grandes detentores de terras enquanto os vassalos se prostram diantes destes.

Você não está a criar empregos suficientes e quando me vê a zungar pelas ruas, me diz para não vender aí e manda os fiscais e os polícias correrem comigo, então como vou me alimentar e sustentar os meus filhos?

Você me diz que Angola tem políticas fortes contra a imigração ilegal, mas você nem consegue ver que as restrições que coloca para o acesso facilitado aos vistos de entrada ao país estão a atiçar cada vez mais a corrupção nas embaixadas e no SME. O país tornou‐se “a casa da mãe Joana”, onde qualquer estrangeiro entra e trabalha a vontade com visto de turista e, passados alguns meses, consegue mesmo cá dentro o visto de trabalho ou de residência. O negócio de vistos tornou‐se tão apetecível que grandes ricos estão a nascer através deste esquema da venda da soberania nacional. Funcionários seniores da SME criaram gabinetes e empresas de facilitação de vistos de residência e de trabalho e eu não posso reclamar;

Como posso ter paciência e esperar por melhores vias de acesso aos bairros, quando você nem vai a esses bairros; como vou ter paciência por melhores sistemas de saúde e ensino, quando você nem conseguem motivar o pessoal da saúde e nem consegue pagar bem aos professores? Como vou ter paciência se os preços dos produtos básicos estão a subir a cada dia e o meu salário continua na mesma? Como posso ter paciência se os preços dos alimentos são dos mais caros do mundo e quase dois terços dos meus rendimentos são para comprar comida?

Diga‐me, então, não tenho razões para ficar chateado e revoltado?