Luanda - Samakuva proporcionou aos “quadros” da UNITA uma formação para se actualizarem no “Guia Prático” e nunca esquecerem que “é preciso bater onde dói mais ao Povo Angolano”.

Fonte: Jornal de Angola

O discurso foi ameaçador e revelou, finalmente, um líder político sem maquilhagem democrática nem a máscara da tolerância.

Aos “quadros” da UNITA foi prometido que iam marchar triunfalmente entre Muangai e Luanda. Depois a rota mudou para a Jamba. Mais tarde, era do Triângulo do Tumpo até à capital, levados ao colo pelos racistas de Pretória.

Na guerra que se seguiu às primeiras eleições multipartidárias, Savimbi prometeu que a rota vitoriosa ia do Bailundo a Luanda. Uns meses depois corrigiu a bússola e a via triunfal ia do Andulo à capital “dominada pelos crioulos”. Mel Gamboa que se cuide, mas já lá volto.  

Sempre que os bandos armados da UNITA tomavam uma capital provincial, a UNITA dizia que a rota triunfal ia dessas cidades a Luanda. Estava Samakuva a tratar dos negócios alimentados pelo roubo dos diamantes e todas as traficâncias da Jamba, quando a rota triunfal, traçada pelo chefe entre o Lucusse e Luanda, ficou deserta. O chefe ficou com o semieixo partido, Sakala estava moribundo, os outros todos também não se sentiam nada bem e ali acabou a aventura do criminoso de guerra Jonas Savimbi.

Entre eles, é justo destacar, pela coerência na ameaça e no ódio à democracia, Samakuva. Ainda há poucos meses, foi ao Huambo, andou pelas montanhas entre a Caála e o Longonjo, e quando falou aos seguidores, anunciou que a rota vitoriosa estava para breve, começava no Huambo e acabava em Luanda. Na altura ninguém deu importância à sua bravata. Mas hoje temos dados que permitem concluir que o líder da UNITA estava a ameaçar seriamente a paz, a estabilidade e, por isso mesmo, o regime democrático.

O que se passou a seguir, apenas vem confirmar que Samakuva é inimigo jurado da paz e da democracia. Ao discursar para os “quadros” da UNITA em formação nas técnicas de “bater onde dói mais”, o chefe do Galo Negro não poupou nas palavras: “Eu penso há uns dois meses ou há um mês que da forma como o país está a andar, da forma como os angolanos estão a ser tratados, da forma como os nossos governantes violam as leis, da forma como nos governam, um dia nós vamos tocar o apito da alvorada”.

Os formandos exultaram, berraram pelo nome de Savimbi e exigiram que a marcha triunfal começasse imediatamente. Samakuva, com sorriso cínico, acalmou a turba: “Não nos empurrem, o apito da alvorada só vai tocar quando nós acharmos que é oportunidade para tocá-lo”. Os “quadros” ficaram inquietos, berraram ainda mais alto pelo nome de Savimbi e exigiram que o sangue corresse nas ruas, de imediato. Samakuva, compreensivo, afirmou: “Nós compreendemos a ânsia das pessoas ouvirem o apito tocar, mas quem toca o apito tem de ler a situação, tem que fazer uma leitura correcta da situação e saber qual é a oportunidade de tocar o apito. Alguns não sabem se tocar o apito leva ar, é preciso arranjar um bom apito, é ou não é verdade? Primeiro você tem que ter o tal apito, é ou não é verdade? Depois tem que ter a tal energia para soprar o tal apito, para se ouvir em toda a parte”. O apito, em vez do silvo, só tem dado ar. Mas pelos vistos, a apresentadora de televisão Mel Gamboa, ao ouvir o sopro, mais identificável pelo olfacto (as flatulências cheiram mal) do que que pelo ouvido, exigiu, de imediato, uma manifestação contra o aumento da gasolina. O Tonet do “Folha 8” veio a terreiro e apoiou. O Reginaldo Silva mandou-me um mail cheio de ciúmes. Os milhões de angolanos sem carro têm que pagar os combustíveis dos jornalistas e apresentadores avençados. Grandes democratas!

Os “quadros” da UNITA acalmaram quando ouviram Samakuva dizer que o “apito”, quando o fizer soar, vai ser ouvido em toda a parte. Aviso à navegação: nunca esqueçam as bases do Cuando Cubango onde Savimbi e os “karkamanos” esconderam o exército que lançou a guerra, quando a UNITA foi esmagada nas primeiras eleições.

Samakuva concluiu o discurso ante os “quadros” que estão a actualizar as formas de “bater onde dói mais”, com esta tirada: “O que é que vamos esperar de um Governo que nem sequer consegue tirar o lixo da nossa porta, o que é que podemos esperar de um Governo que não consegue nos trazer água, o que é que podemos esperar dele, a maioria está nestas condições. Alguns pensam que isso acontece por outras razões. Não. Acontece porque eles são incompetentes. Eles não sabem governar, para eles governar é encher os seus bolsos.”

Neste ponto o chefe da UNITA foi, mais uma vez, ingrato. A maioria democrática que Governa Angola foi muito competente quando salvou a vida a milhares de quadros políticos e militares do Galo Negro nas matas do Lucusse e em todo o país. Famintos, piolhosos, moribundos, todos foram salvos da morte certa. Samakuva devia ser grato aos que lhe dão o estatuto de líder político em vez de o levarem ao Tribunal Penal Internacional por conivência com o regime de apartheid da África do Sul e autor material e moral de gravíssimos crimes de guerra.

Isaías Samakuva tem um apito de guerra. A paz e a estabilidade estão sob ameaça. Mel Gamboa quer gasolina de borla. Assim vai o nosso mundo.