Benguela - Ao ser convidado para este espaço de debate, no propósito de animar com algumas considerações, sobre o Impacto da Crise Económica na Juventude Angolana, achei oportuna o tema, uma vez coincidir com a realização da 5º Edição da Feira Internacional de Benguela, que sem dúvidas afirma-se como um dos eventos mais importantes realizado na região sul do nosso país.

 

Fonte: Club-k.net

Entendo a meu ver ser uma feliz coincidência, porque tudo a volta da feira vai girar em torno da nossa economia. Tal como a diversificação da economia, criação de emprego, fortalecimento do empresariado nacional, oportunidades de negócios e entre outros.

 

Aproveito ainda esta oportunidade para manifestar o meu calor vivo de abraço a todos os benguelenses, sem distinção nenhuma, por mais um ano de existência desta belíssima província e com um povo generoso. Com vocês estou presente, e por isso estou ca para celebrarmos com festa no dia x, os x anos da cidade.

 

Acedi ao convite, porque entendi necessário desencadearmos um debate, em que cada um de nós jovens, poder exprimir-se livremente acerca de um assunto que toca a todos e a todos diz respeito. Por isso procurei não fazer um texto longo, para permitir que todos aqui nesta sala falem, por sermos todos que estamos a pagar a factura cara que o governo andou a gastar.


O GOVERNO COLOCA MAIS O DINHEIRO DO QUE AS PESSOAS NA ECONOMIA

Os problemas a que nós os jovens passamos hoje, agravado em consequência da crise económica, é porque o governo percebeu tarde colocar os jovens na economia nacional. Tanto é que a maioria dos programas do executivo para a juventude caiu em saco roto. Ou melhor, falharam. Assim como foi o caso do Angola Jovem, Crédito Bué, Programa de Habitação para Juventude e tantos outros.

 

Com a nova realidade económica do país, em que agora tudo é cortar, cortar, cortar, me parece que também o Plano Nacional de Desenvolvimento da Juventude vai falhar. Não que seja tão pessimista. É preciso ter consciência das coisas. A teimosia de não se levar a Lei da Politica Juvenil do Estado e os seus Instrumentos que o acompanham, é sinal de falta de vontade política, para se manter a juventude sem direito e nem futuro. Este sim é que seria o demonstrar de um compromisso sério entre o governo e os jovens. Sendo que nesta Lei e seus Instrumentos, estão garantidos os Direitos, liberdades, Deveres e Oportunidades da Juventude. Isto não é algo de novo. É assim no Kenya, Ghana, África do Sul, Cabo verde.

 

Ao sair de Luanda para aqui, quando passava numa das localidades do K. Sul, encontrei um jovem de 33 anos, que me apresentou um ar de ressentimento. Ao lhe abordar o porque daquele comportamento, disse-me ele que estava assim porque não tinha pão para comer. Ao ouvir-lhe atentamente percebi que a pobreza gera violência e agressividade. A extrema desigualdade que afecta o país pode levar os jovens a ver na violência uma solução.

 

Infelizmente, vê-se que o executivo ainda vê despreocupadamente os problemas que afectam a juventude. Se antes estávamos mal, hoje estamos pior. As constatações sobre a nossa desgraça são tão evidentes aos olhos de todos. Hoje com a crise, o número dos jovens nas ruas aumentaram. A maioria dos nossos jovens estudantes, não tem condições de estudo e de alimentação. O governo reduziu o apoio as bolsas de estudo, e até a SONANGOL, já anunciou que para este ano não vai financiar bolsas de estudo interna ou externa. Algumas universidades subiram com os preços das propinas. Com os cortes no sector da educação, vamos ter uma educação mais pobre e fraca.

 

A crise obrigou a que muitas empresas fechassem, e mandassem para rua os seus funcionários. O Estado já anunciou que para este ano não vai realizar concurso público para o ingresso na função pública, e não haverá reconversão de carreira e nem muito menos aumento de salários. Só para frasear, que até uma boa parte dos jovens que terão ingressado na polícia, acabaram por ficar despedidos sem justificação nenhuma. Aumentando assim o exército de desempregados.

 

Com o custo de vida que subiu a 100%, e o salário continuando na mesma, fica mais difícil pagar os bens básicos, desde a água, alimentação, transporte, luz ou mesmo a renda de casa. As dívidas que o Estado vai contraindo, são para hipotecar o nosso futuro. Sendo que quem as vai pagar amanha, seremos nós.

 

Com a crise, o governo tomou medidas que sacrificaram mais as populações. Aumentou os impostos e subiu com os preços de alguns bens, mesmo quando sabe-se que o nosso mercado não é competitivo, com produção interna quase que nula e com preços muito alto. No fim perdemos todos, desde trabalhadores, empresários, consumidores, todos perdemos.

 

A maneira como se conduz a nossa economia, é próprio de governos irresponsáveis e gastador. Porque se por um lado a crise económica é resultado da variação negativa do preço dos combustíveis a nível internacional, por outro lado, quem não fez esforço nenhum para manter a nossa economia prevenida contra essa situação, ajudou a afundar o país. Ou seja, o governo afundou o país. Agora, só não sei se ainda tem condições para continuar a liderar o país.

 

Não podemos continuar a deixar o governo querer resolver o problema da crise, continuando a roubar na população. Senão vejamos; o governo sobe com os impostos, as pessoas pagam e o governo recebe o dinheiro e gasta. Com agravante de não prestar contas ao país.

 

O país precisa hoje com urgência de resolver um conjunto de seus problemas. A isso sim estaríamos a evitar para um futuro breve, um conjunto de situações que pode desembocar em instabilidade pública. A pobreza cada vez mais gritante a que passa a nossa juventude, associada a exclusão e violência, pode justificar com ira, rancor, ameaça a se manifestar publicamente.

 

O que está a se passar com o nosso país, remete-nos a uma batalha política e cidadã muito importante para o futuro.

 

Ao contrário do que nós os jovens temos sido até aos dias de hoje, entendo que neste momento de crise, devíamos ser uma geração mais exigente. Devíamos estar bem mais acordado do que continuar a dormir. Se antes muitos de nós não sabíamos o que fazer, com este descontentamento todo já sabemos o que fazer. Não será crime nenhum se sob varias maneiras, manifestarmos o nosso descontentamento sobre o alto nível de corrupção, a impraticabilidade das políticas públicas, bem como a incoerência do discurso do poder. Vê-se que o poder não respeita o cidadão. As grandes decisões do país são mais para beneficiar a uma classe do que a maioria da população.
Precisamos para o país, de uma geração que percebe a necessidade de arriscar e inovar. De mudar o país.

 

Benguela, 14 de Maio de 2015

Atentamente

Mfuca Fuacaca Muzemba
Deputado à Assembleia Nacional