Luanda - Foi com um olhar de esperança que vi um país da África sub sariana, Botswana, colocado no 31o lugar da lista dos países mais transparentes do mundo relativamente ao ano de 2014. Esta posição mostra o caminho e as escolhas que a sociedade tswanesa tem feito ao longo dos seus mais de 50 anos de vida como nação independente.

Fonte: Club-k.net

Na mesma lista, a Transparency Internacional colocava Angola no 161o lugar numa lista de 175.

Entre nós, vemos e ouvimos casos de corrupção todos os dias, sendo que a elite política, mais concretamente a dos governantes e gestores públicos, ser quem tem chamado mais atenção da imprensa e dos cidadãos. A corrupção tem sido o grande mal que tem emperrado o desenvolvimento de África em geral e de Angola em particular. Mas quem é afinal o corrupto? De onde vem ele/ela?

Ora, os nossos corruptos nasceram entre nós: são nossos pais, nossos tios, nossos irmãos, primos, vizinhos, conterrâneos, cunhados, avós, padrinhos, do nosso grupo etno‐ liguístico, etc. Ou seja, eles são dos nossos, partilham algum laço connosco. Portanto, são pessoas com quem nos relacionamos directa ou inderectamente. A questão de fundo é que nós estamos no meio da teia da corrupção e não somos tão inocentes como pensamos ser. Ora vejamos: facilmente acreditamos que para se tratar um documento de forma célere numa repartição pública precisamos de pagar “gasosa”; alguns não estudam e no final do ano lectivo corrompem os professores para terem notas positivas, outros ainda, como professores, escusam‐se de esclarecer dúvidas de alunos para colocarem estes últimos numa situação de vulnerabilidade na altura das provas; corrompemos o polícia para não sermos multados mesmo quando cometemos infracções; Usamos o slogam “o cabrito come onde está amarrado” para justificar actos indecorosos que praticamos nos nossos locais de trabalho ou nos cargos que ocupamos. Usamos dos cargos que ocupamos para promovermos o clientelismo e estamos a tornar‐nos num estado neopatrimonial. Até mesmo muitas das instituições sociais que deveriam servir como pontos de equilíbrio da sociedade no combate à corrupção e outros males também se corromperam.

Portanto, o nosso olhar impávido faz com que a corrupção se torne numa norma de convivência social entre nós. A corrupção está institucionalizada a partir dos níveis mais baixos da sociedade até aos mais altos. A não ser que mudemos de atitude e comportamente de forma individualizada não seremos capazes de vencer este grande mal. Leis e decretos não irão reduzir ou combater a corrupção, aliás Angola tem bonitas leis de combate à corrupção que não se cumprem. Hoje, as pessoas já nem têm receio de exibir os bens ou a boa vida que usufruem graças às facilitações de esquemas de corrupção.

A questão de fundo que trago aqui é que a reforma que precisamos para a nossa sociedade começa com cada um de nós, de forma individual e depois na educação de nossos filhos, irmãos mais novos e todos aqueles em quem possamos exercer alguma influência. Esta é a única forma que existe para nos podermos ver livres de políticos e governantes corruptos a médio e a longo prazo. Porque cada um nós é um potencial corrupto se chegar a uma posição de poder um dia. Pelas razões que já apresentei acima, os que lá se encontram não são muito diferentes de nós. Isto não se obtém por meio da elevação das nossas competências técnicas (através do aumento das habilitações académicas). Podemos ser bem formados e mesmo assim sermos corruptos. Não se trata somente de querermos ser pessoas com elevado sentido ético. Somos chamados a ser homens e mulheres de carácter. O grande problema que enferma a nossa sociedade é que os homens e mulheres de carácter estão em número reduzido e é exactamente por isso que muitos pensam que roubar o patrão na empresa, comprar favores e tirar comissões em obras públicas se tornou em algo normal. Esta também é a explicação que podemos encontrar para justificar a forma como muitos de nós colocamos os interesses partidários acima dos interesses de todo um país.

Uma coisa deve, porém, estar bem clara nas nossas mentes, a nossa sociedade está a afundar‐se e se pensamos que o “safa‐se quem puder” é o que conta, estamos bem enganados. Nunca teremos um país com uma paz verdadeira se não se inverter o quadro. Devemos continuar a denunciar e a condenar os actos indecorosos que nos apoquetam, mas devemos fazer um pacto com nós próprios para sermos homens e mulheres de carácter.