Luanda - No mês de Maio decidi remeter-me a confidências. A primeira é a de estar no caminho de materializar um sonho, antes de morrer, que é a de inundar os tribunais internacionais com denúncias dos vários genocídios, que vêm ocorrendo em Angola ao longo dos anos, encobertos pela força do petróleo.

Fonte: Folha8

Acredito até, que tendo sobrevivido ao genocídio do 27 de Maio de 1977 (na minha família fomos estúpida e cobardemente presos quatro: meu pai, eu e dois tios meus) os dois últimos, foram enterrados vivos, pela escória assassina da DISA, polícia política de Agostinho Neto.

Chega de bloquear a minha mente, adiar a defesa da memória dos nossos camaradas, amigos e familiares, barbaramente assassinados no 27 de Maio de 1977, por acreditarmos, ingenuamente, que os assassinos e cúmplices, do genocídio de ontem, se possam converter ao arrependimento e abrir avenidas de diálogo, numa Plataforma Nacional Para a Reconciliação e Verdade.

A insensibilidade é petulante. A arrogância é boçal. Os maus temem a verdade como o diabo da cruz.

Uma das especialidades deste regime, que ajudei (como muitos outros que acreditaram, em rumo diferente), a chegar e manter-se no poder é o de subverter o quadro da história, apagar as evidências dos crimes praticados, eliminar adversários políticos internos e externos, espalhando o terror, para bloquear as mentes dos milhões de autóctones indignados.

Temos andado bloqueados, pelo sistema cruel e sanguinário de espionagem, da polícia de Estado e das baionetas policiais e militares, que calcorreia por entre os becos e esquinas das nossas casas e locais de trabalho, por isso nos calamos a cada genocídio. O medo de reagir não nos pode, involuntariamente, tornar cúmplices de um grupo que assaltou o poder e se sustenta com o sangue de inocentes. Mudar é preciso.

Hoje, o meu comandante Nito Alves saberá que eu, o mais novo integrante do seu gabinete, pois o kota Santinho, já lhe vão faltando as forças da idade e o Dedé, está acometido de uma doença, mas ainda assim, continuam fiéis, tal como o Michel e muitos outros, que não traiem a tua memória.

Por isso, comandante Nito, pese Eduardo dos Santos me ter retirado a carteira profissional de advogado e administrativamente, através de um acto eivado de maldade e boçalismo, orientado o seu cacique do Ensino Superior a não reconhecer o meu diploma, nada me tem afastado da cruzada de levar o crime cometido contra ti e nossos camaradas, num total de 80.000, aos tribunais internacionais.

Haia vai, seguramente, começar por analisar este Genocídio que, felizmente, não prescreve, levando os criminosos e assassinos a pagarem, por todos crimes hediondos cometidos de 1977 à esta parte. Juridicamente estará, a denúncia, melhor formatada e estruturada, para acolhimento processual.

Neste Maio 2015, continua a repousar em Paz, sabendo que o teu legado, jamais será esquecido. Hoje, a maioria te dá razão e, pese alguns excessos, quem não os tem, sabem que eras um verdadeiro patriota, honesto e avesso a gatunagem dos bens do erário público. Hoje é reconhecida a tua pureza e comprometimento com as populações mais carenciadas, enquanto os teus algozes, são vistos como traidores da esquerda e vendilhões do país.

A podridão por onde trilha o país, a corrupção institucional, a discriminação, o racismo, as injustiças, as prisões arbitrárias, os assassinatos selectivos e os genocídios, são as imagens de marca de um MPLA transfigurado.

Nunca imaginei, que nossos ex-camaradas fossem capazes do cometimento de tanta maldade sanguinária, ao ponto de não se coibirem de através de balas assassinas, recorrentemente, assassinarem quem lhes quer, por vezes, apenas, sugerir outro caminho, diferente do da cultura da morte.

Não foi para este quadro dantesco de Angola, que os verdadeiros nacionalistas foram para os húmus libertários. Tinham o sonho de uma verdadeira independência e da concessão e respeito por todos os institutos das liberdades, nunca que para a manutenção do poder, fosse necessário “inaugurar” rios de sangue...

Comandante Nito Alves, acreditas-te no pedestal da tua inocência que Agostinho Neto (cheguei a admirá-lo, numa certa fase), fosse um líder, comprometido com a esquerda revolucionária. Não! Ele estava comprometido com o poder, o culto de personalidade, a discriminação, o racismo, a eliminação física dos adversários e o capitalismo voraz, que rouba ao país, para investir, no exterior...

Numa só palavra, era um médico profundamente assassino. Um falso mito, um bluff! Politicamente, para nossa desgraça colectiva, era uma nulidade, cujo maior feito foi ter, colocado, nas estatísticas, 80.000 (oitenta mil) assassinatos contra adversários políticos, internos e externos.

Por isso o meu sonho, de ver todos aqueles que directa ou indirectamente, participaram nos assassinatos do 27 de Maio de 1977, na Sexta-Feira Sangrenta e nos crimes de Monte Sumi de 16 de Abril de 2015, possam responder pelos crimes de GENOCÍDIO.

Continuar calado é favorecer os algozes e estimular a perpetuação de outro crime maior. PAZ as almas de todos os camaradas do 27 de Maio de 1977. Paz a alma de todos os compatriotas do Monte Sumi, mortos pela barbárie de um regime que nos envergonha e todos deveríamos sair a rua até a sua saída do poder, para que Angola, não mais conheça crimes de genocídio e volte a respirar LIBERDADE.