Luanda - Elsa Maria N ́gola da Silva Pinto, uma antiga responsável da empresa de Águas e Saneamento do Huambo, é acusada de ter desviado uma avultada quantia em dinheiro dos cofres da instituição. Em dois anos de serviço, a gestora, um filho seu, assim como uma nora, todos eles trabalhadores da mesma empresa, ter-se-ão envolvido numa complexa «engenharia financeira», em conluio com um funcionário bancário

Fonte: SA (Ilídio Manuel)

Buraco financeiro ascende os 47 milhões de Kwanzas

Entre os 195 trabalhadores da Empresa de Águas e Saneamento do Huambo, que inclui os do município satélite da Caála, há um sentimento misto de revolta e esperança. Eles estão descontentes com a anterior gestão, que lhes deixou uma enorme dívida de 9 meses de salários em atraso.

Apesar do passivo que se regista, paira no seio deles uma luz de esperança, já que a dívida para com os funcionários ficou agora reduzida a 5 meses.

Eles acreditam que tal só foi possível graças ao afastamento da antiga responsável do sector, por um lado, e, por outro, em resultado dos esforços empreendidos pelo novo elenco directivo, constituído por Elias Adolfo (PCA), Henrique Mendes Teixeira e Joaquim António, os dois últimos gestores para as áreas de Administração e Finanças e da Produção, respectivamente.

A entrada em funções do novo Conselho da Administração representou uma lufada de ar para a vida dos trabalhadores, que, à boca pequena, pediam há muito a cabeça de Elsa Pinto.

Desde Novembro que a ex-responsável deixou de aparecer na empresa, depois de ter sido criada uma Comissão de Gestão. Os métodos de gestão Elsa Pinto continuam ainda presentes na memória dos trabalhadores e dominar algumas conversas no seio destes.

Na capital do planalto central têm estado a circular, de um tempo a esta parte, várias informações à volta de uma alegada gestão danosa e de riqueza acumulada por parte da antiga gestora das Águas, assim como de alguns familiares que a rodeavam na empresa.

Quase todas as vozes são unânimes em admitir que houve «grandes desvios de dinheiro», mas poucos sabem ao certo quanto terá sido subtraído dos cofres da empresa.

Uma coutada familiar

Quando, em Junho de 2012, Elsa da Silva Pinto foi chamada a dirigir os destinos do Departamento de Águas e Saneamento, um órgão afecto à Direcção Provincial de Energia do Huambo, uma das primeiras medidas que ela tomou foi no sentido de colocar pessoas da sua inteira confiança em áreas chaves da empresa.

Mas, ao invés de privilegiar os critérios de competência, a gestora terá, pelos vistos, apostado em pessoas do seu círculo familiar, não tendo vacilado em colocar um filho seu, assim como a esposa deste para que cuidassem da área financeira da empresa.

Na altura, as nomeações causaram algum desconforto no seio dos trabalhadores, já que desenhava no horizonte uma intenção velada de transformar a empresa pública numa espécie de «coutada familiar».

Ao longo dos dois anos, os três funcionários terão descaminhado dos cofres da empresa qualquer coisa como quarenta e sete (47) milhões de kwanzas, segundo revelou na semana passada ao Semanário Angolense uma fonte familiar ao dossier.

Soube-se também que todos os envolvidos já se encontram sob alçada da justiça.

A mesma fonte diz o «esquema» contou com a cumplicidade de funcionário do Banco de Poupança e Crédito (BPC), que tinha por incumbência proceder à adulteração dos comprovativos dos depósitos.

«Os valores que davam entrada no banco não correspondiam aos que eram declarados nos talões de depósito», sublinha a fonte deste jornal, que pediu o anonimato, por razões óbvias.

Afirma que um dos métodos usados para «esvaziar» os cofres da instituição consistia em supostas vendas de equipamentos à empresa, por adjudicação directa.

 A fonte revela que a ex-gestora desta instituição terá usado, numa das ocasiões, a rent-a-car C. Pinto, Lda, cuja titularidade é atribuída a um dos seus filhos, na importação de contadores, tendo a supracitada empresa recebido antecipadamente a quantia 8 milhões de Kwanzas, mas que «a mercadoria nunca chegou à empresa».

Abordado na quarta-feira da semana passada sobre o assunto, o PCA das Águas, Elias Adolfo, revelou que os resultados da inspecção efectuada à empresa já tinham sido concluídos e que seriam enviadas, em breve, ao Governo Provincial do Huambo.

Considerou no entanto «prematuro»debruçar- se sobre o assunto à imprensa, pelo que pediu «alguma paciência».

Elsa Pinto não confirma, nem desmente

Confrontada, esta semana, com o assunto, Elsa da Silva Pinto não confirmou, nem desmentiu que tenha desviado valores monetários da empresa. Defendeu-se dizendo que está a ser alvo de uma campanha contra a sua pessoa, com o objectivo de denegrirem o «seu bom nome e reputação».

À pergunta sobre os valores alegadamente desviados, respondeu que havia «muita especulação» e que a empresa nem sequer possuía os valores em causa.

À conversa por telefone com o SA, desmentiu que tinha sido impedida de sair da província, conforme se chegou a ventilar em alguns meios locais.

Questionada sobre se tinha usado a empresa de um dos seus filhos para importação de contadores, sem concurso público, confirmou que se fizera a importação do material em causa e que o mesmo se encontrava nos armazéns da instituição.

Alegou que não se encontrava «bem de saúde», tendo afirmado que o seu advogado iria responder às questões levantadas pelo SA.

Domingos João Sassi, causídico da ex- responsável das Águas, em contacto com este jornal, não foi, porém, prestativo, limitando-se a confirmar que estava em curso um processo- crime contra a sua cliente que lhe fora movido pela Polícia Económica. «Ela não cometeu nenhum crime, existem apenas suspeitas», defende.

Revelou, por fim, que havia uma certa disparidade em relação aos valores monetários supostamente em falta e os que tinham sido fornecidos pela Inspecção do Governo do Huambo e os da Polícia Económica. Parco em palavras, revelou que as acusações contra Elsa Pinto eram «infundadas».

IM