Luanda - A Africa, na sua extensão geográfica, foi alvo da colonização das potências europeias, as quais procederam a sua partilha na Conferência de Berlim, que teve lugar entre 19 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885. Na definição dos novos territórios africanos, por colonizar, as potências reunidas em Berlim (Alemanha, Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Portugal, Holanda, Dinamarca, Suécia, Áustria-Hungria, Império Otomano e os Estados Unidos da América) não respeitaram as fronteiras existentes, do então, das Nações Africanas.


Fonte: Club-k.net

Naquela época, da partilha da Africa, os interesses das potências envolvidas colidiram-se em larga escala e registavam tensões constantes, ameaças de guerra e conflitos abertos. Ignorando absolutamente os povos africanos, que ficaram submetidos às guerras de conquista, ao tráfico de escravos, à colonização e à pilhagem das suas riquezas.


A doutrina das potências colonizadoras baseava-se na convicção de que, ao conquistar as colonias africanas tinham o direito absoluto sobre todos e sobre tudo. A conquista das colonias era interpretada como sendo uma evolução natural em que, as espécies superiores sobrepõem-se às espécies inferiores. Era um conceito deduzido da doutrina do Charles Darwin, um Biólogo Inglês (1809-1882), que defendia o evolucionismo ou o transformismo das espécies, através de um processo gradual da selecção natural, que resulta da luta incessante pela vida. Na base deste pensamento, os povos subjugados eram tratados de inferiores, sub-humanos e desprovidos de raciocínio, de razão e de direito.


Seria importante reconhecer o facto de que, o colonialismo, por natureza, não significa apenas o domínio económico, político e social, exercido por um país sobre o outro, separados geograficamente; mas sim, é uma condição de sujeição de um território, de um povo e de uma nação por um poder politico externo ou interno.


Pois, o conceito do colonialismo assenta-se na lógica acima referida, segundo a qual, o colonizador tem o direito absoluto sobre todos e sobre tudo. Sendo este o dono natural desta Posse. O colonizador submete o colonizado à condição de inferioridade absoluta, com poderes de subjugação, sujeição e exploração.


Numa digressão diplomática, um político de uma das potências que estiveram na Conferência de Berlim, durante a partilha da Africa, dissera-me o seguinte:
“Por ter conquistado a independência da Africa do Sul, de Mozambique, da Namíbia e de Angola, os quatro Movimentos de Libertação Nacional da Africa Austral (ANC, FRELIMO, SWAPO e MPLA), pensam que custe o que custar cabem-lhes o direito absoluto de estar no poder definitivamente.” 


Esta observação está em consonância com a realidade dura e inequívoca que se verifica na maior parte dos países africanos, nos quais os dirigentes políticos transformaram-se em novos colonizadores, reprimindo, roubando e explorando o seu próprio povo. Comportando-se cruelmente do que os colonos europeus; de tal forma que, sentem-se o orgulho de oprimir o seu próprio povo e de vê-lo arrastar os ventres famintos no chão, com mãos estendidas de esmola.


O economista sul-africano, Moeletsi Mbeki, irmão do antigo Presidente da Africa do Sul, Tambo Mbeki, no seu livro intitulado, “Architects of Poverty,” afirma que, “os regimes africanos não combatem a pobreza, mas sim, combate os pobres.”


Nesta referência, em toda extensão do continente africano regista-se o mesmo fenómeno da miséria e da pobreza extrema no seio das populações locais, que vivem em condições degradantes, sub-humanas e humilhantes. Por outro lado, constata-se igualmente uma pequena camada de aves predadoras que sungam o sangue do seu povo, transformando-se em ricaços sôfregos e em monarcas frios, insensíveis, insensatos e absolutos.


Ao alcançar o poder político este poder se transforma num instrumento de repressão e de enriquecimento desenfreado e ilícito. Envolvendo-se no culto de personalidade, num ambiente absoluto de endeusamento, incutindo medo e terror na consciência do povo, como instrumento psicológico de dominação e de exploração. O poder torna-se assim um monstro que se traduz num pesadelo ou num inferno aos súbditos.


Logo, a sociedade entra no estado de pânico, de choque, de trauma, de desespero, de hipnose e de sonambulismo, manipulada pelo um monarca. A corrupção, o aliciamento, o tráfico de influência, a dependência, o condicionalismo, a exclusão e o terror são mecanismos potentes que o poder utiliza na alienação e na dominação da sociedade.


Neste respeito, o regime angolano é a figura mais ilustrativa da hipnomania e do hipnotismo das elites politicas, religiosas e intelectuais do país, que vendem sua consciência e deixam-se cair na submissão, na humilhação e na instrumentalização. Os mecanismos mais potentes e eficazes para este efeito são os comités de especialidades do MPLA, instituídos a todos os níveis e em todos sectores da sociedade angolana. O sistema político ficou assim fechado, asfixiante, tormentoso e repressivo.


Acima disso, este sistema viabiliza e realça o monopólio económico desta casta, que acumula e concentra enormes riquezas em sua posse e transforma toda a sociedade numa quinta privada. Enfim, a cultura do favoritismo e de submissão voluntária dominam a consciência social, que actuam como instrumentos dissuasivos de qualquer manifestação de resistência ou de consciencialização. Nesses moldes, o país fica à mercê da escravatura, obedecendo justamente à estratégica da eternização do poder politico.


Esta condição imposta aos povos africanos resultar-se-á infalivelmente na resistência popular contra a nova colonização do continente. Nesta referência, a criação de colonatos chineses nas províncias estratégicas de Angola, a luz dos Acordos que o Presidente Angolano acaba de celebrar em Beijing enquadra-se nesta politica de eternização do poder politico pelo MPLA.
Só que, o regime angolano engana-se na sua avaliação da conjuntura internacional e da estratégia global do Beijing. A China busca o poder global que passa necessariamente pelo acesso as zonas geoeconómicas, geoestratégicas e geopolíticas do Mundo. Acima de tudo, a sobrepopulação é o grande desafio da China neste século, cuja solução passa pela emigração massiva e pela criação de povoamentos externos nas terras vastas e virgens do Continente Africano.


Angola, neste respeito, é uma Terra bem cobiçada pelas potências mundiais. Por exemplo, no fim da 2ª Guerra-mundial, havendo a urgência de povoar os Judeus, os Estados Unidos da América, França e Grã-Bretanha aproximaram Dr. António de Oliveira Salazar para que cedesse a região extensiva e económica do sudoeste de Benguela para este efeito. Porém, Salazar foi duro e renitente, rejeitando categoricamente a pretensão das potências acima referidas. Se Portugal vergasse à aspiração das potências ocidentais, o povo indígena de Angola teria sido exterminado ou concentrado em «reservas restritas», algures no extremo sul do Kuando Kubango, cercados pelas unidades militares israelitas, como acontece hoje com os Palestinos no Gaza.


Portanto, a cedência de territórios vastos à China, em conformidade com os Acordos de Beijing, ora celebrados, confirma a estratégia da China de transformar Angola num trampolim para a conquista do Continente Africano. O Povo Angolano não terá capacidade suficiente de resistir a ocupação do gigante asiático, de se tratar de um império emergente, mais populoso do mundo, com mais de 1.3 bilhões de habitantes, com uma estrutura militar mais numerosa, equipada com armamentos sofisticados de tecnologia avançada e com uma economia robusta, diversificada, modernizada e em pleno crescimento. A China é a 2ª maior economia do mundo, com maior fundo de reserva a nível mundial, onde a corrupção é combatida vigorosamente e os governantes são competentes, imbuídos do espirito patriótico e com uma visão nítida e realista do poder global.

 
Na verdade, a estratégia de utilizar Angola como «Base Militar» para o domínio do Continente Africano não é nova. Durante a Guerra-fria a União Soviética, com tropas Cubanas em Angola, visava igualmente a tomada do Zaire, da Zâmbia, da Namíbia, da Botswana e da Africa do Sul, para viabilizar o avanço ao Norte da Africa. Faz-nos lembrar, neste contexto, do lema segundo qual: «Angola é o Bastião Firme da Revolução em Africa». Só que, esta estratégia expansionista tivera sido rechaçada totalmente pela resistência inabalável da UNITA, com apoios logísticos das potências ocidentais.

 
Logo, a China aproveita o vácuo que existe na Africa Austral, da ausência das potências ocidentais, cuja atenção está virada para o Médio Oriente, Europa do Leste e Países Escandinavos, enfrentando o Estado Islâmico e a intervenção da Rússia na Ucrânia.


Em suma, Africa está no limiar de uma confrontação alargada entre as potências asiáticas, ocidentais e as forças islamitas. Ao abrigo dos Acordos do Beijing, Angola já está convertida numa «Base Militar» da China para viabilizar a expansão politica, económica e militar deste gigante asiático. Isso terá reflexos negativos sobre a estabilidade social e política de Angola e da Região.


Pois, registará o movimento massivo do despovoamento das comunidades rurais, no contexto do programa da reforma agrária e da criação de colonatos chineses nas zonas geoestratégicas e geoeconómicas do País. O mercado angolano irá conhecer cada vez mais o domínio chinês, com níveis elevados da exploração da mão-de-obra barata angolana. Agravando, assim, as desigualdades sociais existentes e a pobreza extrema. As repressões sociais e políticas serão sentidas com maior intensidade e brutalidade. O descontentamento popular atingirá o grau antagónico.

 
Nessas circunstâncias, a classe média será forçada a definir o seu posicionamento social. O espirito patriótico exercerá o peso insustentável sobre a consciência das angolanas e dos angolanos. O regime do partido-estado será reforçado e endurecido. Nestes termos, a democracia sofrerá recuos significativos em Angola.


Por outro lado, acentuará as diferenças e rivalidades entre Africa do Norte, dominada pela Cultura Árabe e Africa a Sul de Sahara, sob influência da Cultura Ocidental. Neste respeito, a China terá grandes desafios de impor a cultura chinesa e o sistema político de partido único, que está combatido vigorosamente em todos países africanos, em busca da democracia. As potências ocidentais virão atrás do prejuízo, como acontece agora no Médio Oriente.


O nível da pobreza vai-se agravar na maior parte dos países africanos, intensificando cada vez mais a emigração massiva da população activa para Europa e Asia. Isso resultar-se-á, sem dúvida, na instabilidade social e na resistência popular contra a nova forma da colonização e da exploração dos povos africanos.