Luanda - Clipping é uma actividade de recolha de informação já publicada, que consiste em recortar os artigos da imprensa referentes a um determinado assunto que pode ter a dimensão geográfica de um país.

Fonte: Rede Angola

Com estes recortes faz-se depois um dossier diário que se envia para a pessoa/entidade que solicitou a “clipagem” a fim de mantê-la informada sobre tudo o que se diz na imprensa a seu respeito.


Dar o melhor tratamento a esta informação já é da competência de quem a recebe que, convenhamos, de uma forma geral, também confere muito pouca importância ao que os jornalistas escrevem, a não ser que seja algo de muito grave para a sua reputação.


Antigamente, quando ainda não havia Internet, quem era solicitado a fazer este trabalho tinha de comprar todos os jornais para fazer os recortes e depois fotocopiá-los para produzir os dossiers e fazer a sua distribuição.


Há uns anos que já lá vão, bastantes por sinal, lembro-me de ter tido acesso a alguns dos clippings que a embaixada angolana fazia em Portugal, o que me poupava muito trabalho e era uma preciosa fonte de informação muito interessante sobre a nossa realidade.

Com uma maior ou menor margem de especulação/imprecisão, a imprensa estrangeira sempre soube muito mais de Angola e dos seus bastidores do que cá dentro a sua congénere que, em abono da verdade, nunca existiu como tal na sua vertente mais diária.


O país ao fim de 40 anos de independência continua a viver de um único diário que é, ostensivamente, um jornal governamental com uma postura editorial ferozmente anti-oposição e de combate a todas as vozes mais independentes/críticas que se movimentam ao nível da sociedade civil.

Tal perfil mediático não é certamente a melhor imagem de Angola, e muito menos do nosso conceito de desenvolvimento integral, que tem na imprensa livre e plural um dos indicadores mais sólidos para se aferir o real estado de uma nação que se diz democrática, ou que pelo menos quer ser.

Com o advento da Internet/Redes Sociais e a consequente migração de todos os médias, quer ao nível da imprensa como do audiovisual para a plataforma digital global, o trabalho de “clipagem” está muito mais facilitado.
Agora pode ser feito a todo o tempo, com o recurso a conhecidos e poderosos motores de busca que, em segundos, rastreiam tudo quanto foi publicado sobre determinado tema que nos interessa pesquisar em termos de recolha de informação.

E o tema que nos interessa permanentemente é Angola, como se pode facilmente adivinhar, por razões que se prendem com o que já é do domínio do óbvio, para quem entende que o jornalismo é muito mais do que partilhar a informação que nos chega das fontes oficiais, mas não só.

Muito se tem falado do rating dos países, com o concurso de empresas especializadas que ganham balúrdios de dinheiro com as suas avaliações técnico-políticas sobre o risco para efeitos de crédito/endividamento, mas pouco ou nada se diz do seu clipping que, sejamos sinceros, ainda não existe como um indicador a ser tido devidamente em conta.


Permito-me pois, nesta incursão, criar este indicador para o meu próprio consumo e de quem achar que ele, eventualmente, terá algum interesse para além da simples curiosidade de ser confrontado com uma abordagem mais ou menos inovadora, se me permitirem esta descarada imodéstia.

Com base numa consulta que tem apenas em conta o conteúdo dos artigos publicados na imprensa estrangeira nos últimos meses deste ano, excluindo a portuguesa, onde Angola já é quase um assunto doméstico, chega-se facilmente à conclusão que o clipping do nosso país anda verdadeiramente pelas ruas da amargura, quase a pedir perdão.

Se utilizássemos a terminologia da “indústria do rating” diríamos que está abaixo do lixo.

Efectivamente, a imagem de Angola no exterior, do ponto de vista do retrato traçado pela imprensa internacional, é de facto muito má, contrariamente ao que muita gente seria levada a supôr na sequência das informações que nos chegam da actividade político-diplomática.

Não há, com efeito, qualquer convergência ou aproximação entre o produto jornalístico publicado e a imagem que o Governo se tem esforçado por “exportar” através de mecanismos concorrentes e que também operam no espaço mediático, com recurso a soluções mais encomendadas.

Chega-se a esta constatação facilmente tendo em conta o conteúdo dos diferentes artigos que os jornalistas estrangeiros escreveram recentemente sobre a nossa realidade, após visitas ao país.

O artigo do The New Yorker, onde Angola começa por surgir logo no título como um “estado falhado”, é apenas o mais recente exemplo do que se afirma.

Querer ignorar isto é fazer como dizem que a avestruz faz, e depois investir na propaganda e na compra de caríssimos suplementos especiais que lá fora são tratados como publicidade, pura e simples. Muito dificilmente são considerados como abordagens credíveis que podem influenciar favoravelmente as opiniões públicas e publicadas desses países.


Não se trata de querer passar alguma mensagem mais negativa ou de tentar desmoralizar quem quer que seja, que é sempre o reparo que algumas pessoas nos fazem, quando citamos a imprensa estrangeira nestes momentos.

Nem é esta a nossa intenção, pois não fazemos fretes a ninguém.

O que temos reparado é que nos últimos tempos, de uma forma geral, todos os artigos que se publicam na imprensa estrangeira sobre Angola são francamente muito maus para a imagem que o governo quer exportar para o exterior e na qual tem investido milhões em propaganda/marketing/lobbies, mesmo em tempos de crise.

Este para nós é um facto relevante, que nos diz bastante sobre a percepção que a comunidade internacional mais especializada tem de Angola.

Trata-se de uma análise de conteúdos e não de uma opinião sobre os mesmos, isto é, se é mais do mesmo, se são bons ou se são maus.

É o clipping de Angola lá fora, concordando-se ou não com o que se diz e se escreve.