Luanda - No passado dia 31 de Maio, foi ao ar a segunda edição da versão angolana do programa Big Brother, desta vez com o tema: “duplo impacto”. O programa conta com dezoito (18) participantes divididos em pares. Estes participantes ficarão confinados numa casa cenográfica, na cidade de Johannesburgo- África do Sul, onde serão vigiados 24H por dia sem contacto algum com o mundo exterior durante três meses.

Fonte: JovensDaBanda

Antes  de falar do Big Brother, é preciso compreender a sua história. O programa em si, foi criado pela empresa Italiana (com sede na Holanda), Endemol, com intuito de estudar o comportamento humano num jogo onde cada participante além de conquistar o público, precisa ganhar a confiança dos outros concorrentes, responsáveis por votar naqueles que deverāo ser escolhidos pelo público para deixar a casa. O último a deixar a casa ganha uma quantia em dinheiro o que automaticamente atiça até certa forma a inerente ganância humana.

Como reage o ser humano quando obrigado a conviver por três (3) meses com as mesmas pessoas sem contacto exterior e até que ponto conseguimos ser fieis à nossa essência sem comprometer um objectivo pessoal? Eis as questões a serem esclarecidas no dia à dia do programa que existe há mais de 17 anos e já teve versões em quase todos os cantos do mundo, mas só agora chegou à Angola através da empresa sul africana DSTV. A primeira edição foi campeā de audiência e teve como vencedor o concorrente Larama por ter conquistado o público angolano com a sua personalidade irreverente.

No entanto como quase tudo no nosso país, além do inegável sucesso, o programa BBA também é alvo de inúmeras críticas por parte da sociedade civil. Desde artistas à jornalistas renomados, muitos são os que questionam o conteúdo apresentado na versão angolana do Big Brother, embora a mais midiática crítica de todas, surgiu do cantor e produtor musical Heavy C que usou uma rede social para mostrar a sua inquietação com o enredo do programa e os seus participantes:

“[É] um programa sem sustento, individuais longe de fazer qualquer tipo de lógica, um vocabulario de tapar os ouvidos dos meus filhos,uma atrocidade cultural e mental em termos de ideais,uma falta de respeito pelo povo angolano pois talvez o intuito é mesmo de fortalecer o analfabetismo para continuarmos burros e inoperantes!! A palhaçada continua,e aqueles reais fazedores de programas e não só são banalizados e ainda chamados de “loucos”.Ate quando a burrice?Ate quando a descontinuação?! Ate quando a falta de pudor?!” – Escreveu o cantor na sua conta do Instagram.

Por outra, existem também os apoiantes e seguidores do programa que chamam de “hipócritas” aqueles que tecem duras críticas afirmando dentre as mais variadas razões que: “ o programa é para maior de dezoito (18) anos e os angolanos apoiaram assiduamente a mesma versão do programa quando feita no Brasil, o que prova que valorizamos mais o que é do outro em detrimento do que é nosso". Afirmam eles também que o programa é feito por uma empresa privada, com investimento privado, portanto a DSTV não tem o dever nenhum de “pensar país” sobretudo porque o programa não é imposto à ninguém, assiste quem quiser.

Bem, verdade seja dita, o BBA – querendo ou não – apresenta-nos duas faces de uma só moeda.

O programa apresenta-nos, por um lado, dura e cruamente a triste realidade que é a educação académica no nosso país. Se prestarmos atenção, pelo menos no perfil de apresentação, a maior parte dos candidatos dizem ser “estudantes universitários” o que prova terem concluído o ensino médio, todavia cometem erros imperdoáveis de português, como foi o exemplo da concorrente que disse “anabilidade” ao invés de “amabilidade” e“combaná” ao invés de “comandar”. Os concorrentes têm dificuldades em formar orações e sim, há que concordar com quem diga que num todo eles expressam-se mal. São jovens que usam por excesso palavras de baixo calão e como alguns críticos afirmam, têm dificuldades em ter conversas construtivas, “só querem saber do copo e sexo”.

Realmente, péssimos exemplos, contudo, fechar os olhos e dizer que o programa é um 'atentado' a educação dos nossos jovens, parece irónico quando estes mesmos jovens que estão no programa não tiveram a influência do BBA para agir e pensar desta maneira. E neste aspecto, há que prezar a DSTV Angola por finalmente obrigar os angolanos à verem o seu reflexo ao espelho. Pelo número de reclamações parece evidente que não gostamos do que vimos e isso sem sombra de dúvidas é bastante satisfatório.

No entanto, há que falar do outro lado da moeda... Daqueles jovens da banda que vêm aos poucos buscando o seu espaço na sociedade. Jovens que lutam arduamente para serem respeitados, com uma capacidade intelectual invejável e que parecem estar no caminho certo para liderar este país um dia. Estes jovens ao contrário do que muitos tentam fazer parecer, não fazem apenas parte da sociedade elitista, estes jovens podem hoje ser encontrados em todos os estratos da sociedade. Portanto fingir que os jovens angolanos sāo todos representados pelos jovens que estão na casa do BBA é de certa forma deturpar a realidade.

Realidade esta que para ser posta à montra, os produtores deste programa precisariam levar até “à casa mais vigiada de Angola” a verdadeira fotografia dos jovens angolanos actuais, isto é, desde as Lunas, dançarinas do grupo Foguentas, aos Kiesses, meninos da noite mas alunos dedicados. Dizem que o 'problema' é que a produção só pode selecionar quem se for inscrever. Pois, mas segundo o vídeo que está no site da Platina Line feito aquando do casting e publicado no dia 18 de Março do corrente ano, houve uma adesão positiva em termos do número dos candidatos, muitos dos quais foram entrevistados pelo portal e não pareciam ter as dificuldades que encontramos nos concorrentes actuais, pelo menos a olho nú. Por isso a pergunta que igualmente deve ser esclarecida concerne aos requisitos de selecção dos concorrentes da casa. Comparando o vídeo da Platina Line com os candidatos seleccionados, a primeira instância, parece que a produção escolheu estes concorrentes controversos propositadamente, pois ninguém pode negar que o maior objectivo da empresa é a audiência e com tanta crítica, negativa ou positiva, até aqueles que nunca pensaram em assistir o programa, já devem ter dado uma vista de olhos para entender o 'alarido', ou seja, para a DSTV o objectivo tem sido alcançado com bastante sucesso.

Agora, com relação àqueles que dizem que “o angolano não apoia o que é seu” referindo-se ao Big Brother Brasil, eles precisam saber que a sociedade brasileira luta fervorosamente para que o tal programa seja cancelado. Enquanto isso não acontece o povo brasileiro combate o canal responsável pela produção e emissão do programa utilizando a sua maior arma: “o discernimento”. Há cinco anos que o BBB tem sofrido com o baixo número de audiência e inevitavelmente a rede de televisão já cogita a sua continuidade. Ainda assim, fazendo a ligação entre os programas brasileiros com a realidade angolana, quem apoia o BBA comparando ao BBB não se pode esquecer que Angola hoje parece uma cópia “glob(o)alizada” da sociedade brasileira, onde queremos falar, vestir e agir como os brasileiros das novelas. Perdemos a identidade, a cultura e arrisco-me a dizer até o amor próprio. Já foi pior, é verdade, o que prova que temos aos poucos dado passos pequenos mas sólidos rumo à auto-determinação. Esse trabalho nāo pode ter sido em vāo.

Entretanto sobre o Big Brother Angola, não podemos nos esquecer que o programa está num canal fechado e embora possa parecer, Angola é muito maior do que as redes sociais aparentam e nesta Angola fora das redes sociais e das metrópoles, ter uma antena parabólica ainda é sinónimo de luxúria. Neste caso dizer que o programa vai desvirtuar os jovens angolanos é sim em parte um exagero. Feliz ou infelizmente o verdadeiro angolano que acaba por ser aculturado pela televisāo, ainda é educado pela TPA, então nem tudo está perdido, certo?