Lisboa - Do total de empresas portuguesas que vendem produtos para Angola, 56% apenas exportam para este mercado, deixando-as vulneráveis numa altura em que as importações estão a sofrer uma forte quebra.


* Luís Villalobos
Fonte: Publico

 

Outras 660 empresas que dependem a 91% e 99% de Angola

 

Do total de empresas portuguesas que vendem produtos para Angola, 56% apenas exportam para este mercado, deixando-as vulneráveis numa altura em que as importações estão a sofrer uma forte quebra.


Existem 9440 empresas em Portugal que exportam os seus produtos para Angola, e, destas, mais de metade não vende para mais nenhum mercado externo. De acordo com os dados solicitados ao Instituto Nacional de Estatística (INE) pelo PÚBLICO, verifica-se que, no ano passado, 5256 empresas dependiam a 100% de Angola para realizar as suas vendas para fora do país. Em valor, representaram 1234 milhões de euros, o que equivale a 41% do montante arrecadado com as exportações para Angola durante o ano passado.

 

Este número, algo surpreendente, surge numa altura em que as importações angolanas de produtos portugueses estão a sofrer uma forte quebra, enquadrada pela crise económica que Angola está a atravessar devido ao baixo preço do petróleo. Além disso, soma-se ainda a ameaça dos atrasos nos pagamentos, mesmo quando se faz negócios.


A falta de diversificação e forte exposição ao mercado angolano de milhares de micro e pequenas e médias empresas torna-as vulneráveis, com ameaças à sua tesouraria. Para a economista-chefe do gabinete de estudos económicos e financeiros do BPI, estas empresas “provavelmente passarão por dificuldades sérias, por dois motivos; por um lado, as necessidades de importações de Angola tenderão a reduzir-se, por força do encolhimento e dos condicionantes que afectam a procura doméstica; por outro lado, a queda das receitas petrolíferas denominadas em dólares, reflecte-se em escassez da moeda e maior dificuldade em realizar pagamentos internacionais, pelo que haverá uma tendência para acumular atrasados”.


Até 5 de Junho, cerca de duas semanas após o seu lançamento, havia já 312 pedidos de adesão à linha de financiamento para aliviar a tesouraria das empresas que operam em Angola, lançada pelo Governo. O valor total dos pedidos de financiamento era de 121 milhões de euros (cerca de 20% do total disponível).


Os números do INE mostram ainda que há outras 660 empresas que dependem a 91% e 99% de Angola, a que se somam outras 522 com uma exposição de 76% a 90% (ver infografia). Entre Janeiro e Abril, o valor das exportações de bens para Angola caiu 24,4% (para 725 milhões) face a idêntico período de 2014. Ao mesmo tempo, no primeiro trimestre a China e a Coreia do Sul (embora neste último caso possa ter havido um efeito extraordinário) ultrapassaram Portugal como maior fornecedor externo de Angola.


Para Paula Carvalho, o impacto que estas empresas irão sofrer está dependente do seu grau de resiliência. Ou seja, tudo irá depender “da folga acumulada nos bons tempos e capacidade de a utilizar numa conjuntura desfavorável, mas que deverá ser temporária”.


Esta responsável destaca que os preços do petróleo estão a recuperar, “embora possam não voltar tão cedo aos patamares verificados antes do Verão de 2014”, e que “o movimento de diversificação da actividade económica (para actividades não relacionadas com o petróleo) em Angola deverá continuar, significando que o futuro e as perspectivas do país continuam positivos”.


Para algumas empresas, a alternativa às exportações poderá passar pela produção local, mas este é um caminho que demora a ser percorrido, e não está isento de percalços. Os últimos dados disponíveis dão conta de um arrefecimento de novos investimentos em Angola: nos primeiros sete meses do ano passado foram aplicados apenas 55,9 milhões (ver infografia).


Esta segunda-feira, o ministro da Economia, António Pires de Lima, vai assinar em Luanda um memorando de entendimento com o seu homólogo angolano, Abraão Gourgel, para lançar o observatório para o investimento entre os dois países. A ideia, conforme afirmou o ministro ao PÚBLICO, “é dar visibilidade aos vários projectos de investimento que existem” , embora tenha dito não esperar “milagres” com a sua criação. Na terça-feira terá lugar a realização do primeiro fórum empresarial Angola-Portugal.