Luanda - Em final de mandato, a secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) critica o “jornalismo que se faz sem contraditório”, a “falta de liberdade de imprensa” e a exclusão da oposição. Luísa Rogério queixa-se da falta de dinheiro no sindicato e afirma haver muitos “comissários políticos”,e não poupa critica a muitos colegas.

Fonte: NG
A liberdade de imprensa já é uma conquista?
Quando vemos um tratamento privilegiado do partido governante na imprensa pública e a exclusão da oposição, não podemos falar em liberdade de imprensa. Uma pequena actividade da JMPLA, ou da OMA, tem sempre mais destaque do que a actividade da UNITA, por exemplo. Isaías Samakuva está em digressão em várias províncias, mas não se vê na televisão pública. É mais fácil ver um político da oposição a dar uma entrevista numa televisão estrangeira.

De quem é a culpa?
Há as tais ordens superiores. Há também excesso de zelo e outras exigências dos próprios patrões. Não é problema estar filiado a um partido político, mas na hora de informar, deve-se despir a camisola. Por causa do chamado ‘pão dos filhos’, fazemos muitas coisas. Há situações em que o jornalista faz papel de comissário político, defende mais a ideologia partidária e não o interesse público.

Há razão para a não transmissão dos debates parlamentares?
Claro que não. Transmitem concursos de miss, festivais de música. Fez-se a transmissão das comemorações da independência da Namíbia. Em Cabo Verde, por exemplo, passam os debates do parlamento e outros debates políticos, como nunca se viu em Angola.
Gostaria de ver também na imprensa estatal entrevistas com os líderes da oposição. Desde que o MPLA teve a maioria nas últimas eleições, a situação da imprensa está cada vez pior. O facto de ser a maioria não se pode excluir as minorias que, numa democracia, também têm direitos. Não há debate político livre na imprensa pública.

“Aposta na formação”

Há promiscuidade no jornalismo?
Há muitos jornalistas que exercem funções ou cargos incompatíveis com a profissão, violando a ética e deontologia. Há colegas que são assessores de imprensa e publicitários, que deviam deixar de exercer o jornalismo e dedicar-se a cuidar da imagem da empresa. Temos rostos do telejornal que fazem publicidade. Temos jornalistas que fazem campanhas políticas, durante as eleições. Isto é o cúmulo da falta de ética profissional.

Os prémios para os jornalistas são bem atribuídos?
Há também muita promiscuidade na atribuição dos prémios. Há gente que não é jornalista, mas é premiada. São simples locutores ou apresentadores de rádio ou televisão e recebem prémios. Deviam ser atribuídos prémios de locução, porque um jornalista pode ser apresentador, mas nem sempre o inverso é verdade.

Que a avaliação faz do desempenho da imprensa?
É lamentável. Há muitos jornais que confundem opinião com a notícia. O sindicato tem a função de moralizar e também de promover formação e debates com os colegas. Há erros que são cometidos por má-fé e outros por falta de formação. Não respeitam o contraditório, fazem julgamentos em praça pública, acusando determinadas pessoas de corruptas, assassinas e não só. É necessário que tenhamos consciência do rumo da profissão e capacitar os ‘paraquedistas’ que estão nas redacções.

Para quando o congresso no Sindicato?
Não há dinheiro para realizar o congresso, que deveria ser este mês. Cumpri com a minha missão. Não há solidariedade entre os jornalistas e muitos que estão filiados no sindicato não pagam quotas.