Luanda - Não preciso ser um erudito em questões socio-­políticas para concluir categoricamente que SIM EXITEM VÁRIOS MOTIVOS. Posso divergir no uso da expressão GOLPE DE ESTADO por ser muito forte e involver outras forças, por isso prefiro utilizar REVOLTA POPULAR por esta última enquadrar­-se perfeitamente no momento que vivemos hoje. Para isto acontecer, basta haver as seguintes razões:

 

Fonte: Club-k.net

1­ Perca do poder de compra. Os preços dos principais produtos básicos sobem vertiginosamente sem que haja um reajuste salarial. Por exemplo, o pão que custava 20kz agora passou para 30kz e assim acontece com outros produtos básicos. Além disso, o atraso salarial começou a ser regular. O salário que “caia” nos dias 23­25, agora “cai” entre os dias 30­05 do mês a seguir. Até há casos em que o salário dexou de “cair” há meses!! Pelo menos todo mundo aqui na base está a reclamar.

 

2­ Aumento acentuado do desemprego. Durante alguns anos, a muitos dos jovens estavam empregados de qualquer forma. Uns na função pública, outros em empresas públicas, outros ainda em empresas privadas(com maior destaque na construção cívil), enquanto uma maioria esmagadora encontrava­-se no comércio informal e na agricultura de subsistência. Nesse ponto, três factores infernaram a vida de muitos trabalhadores. Primeiro, com a dita crise que ninguém consegue argumentar convincentemente, o governo cancelou muitas obras públicas em curso, e tem uma dívida elevada das já feitas. O resultado disso é que muitas construtoras não tiveram outra saida senão despedirem muitos trabalhadores. Segundo, aqueles jovens que encontravam o seu “ganha pão” em ocupações como pedicuros e manicuros, fabrico de blocos e lavagem de carros estão gradualmente a perdê­-las a favor dos chineses que tomaram ferozmente o mercado sob o olhar silencioso e/ ou cúmplice de quem é de direito. Terceiro, muitos que dependem das actividades agrícolas nos aredores das grandes urbes perdem permanentemente as suas parcelas por expropriação dos poderosos do país (governantes, amigos e/ou familiares destes e generais).

 

3­ Escassez do dólar. Muitos cidadãos com familiares fora de Angola por questões de saúde e educação, aqueles que precisam de viajar rapidamente para o estrangeiro por diversas razões, bem como aqueles empresários nacionais e estrangeiros que têm de importar produtos do estrangeiro sentem­se mutíssimo aflitos na hora de comprar os US dólares. Todavia, aparece alguém com um bom fato e gravata, e com o português bem refinado a dizer que não havia falta de dólares enquanto você que os precisava não os via. Quem é que estaria a aplaudir isso?

 

4­ Desrespeito dos direitos humanos. Pese embora muitos acreditem que “direitos humanos e democracia não enchem barriga de ninguém", muitas vezes, eles alimentam melhor do que a cerveja e as maratonas todas juntas. Não foi em vão que Jesus Cristo disse “NÃO É SÓ DO PÃO QUE VIVE O HOMEM (...)” [ Mt 4, 4]. Isto porque existe algo mais do que o simples pão! É neste entendimento que o Santo João Paulo II enquanto Papa destacou categoricamente na sua Enciclica “Evangellium Vitae”: O VALOR INCOMPARÁVEL DA PESSOA HUMNA, fazendo saber que a vida de uma pessoa deve estar acima de todos interesses. Infelizmente, mesmo depois da morte dos diabos (um homicida e outro canibal), os santos continuam a negar o direito à vida de muitos irmãos, o direito à informação imparcial e diversificada, o direito à liberdade, o direito dos cidadãos serem tratados com igualdade devido as suas opiniões, crenças religiosas, filiações partidárias, etc. tudo em nome do Sr. Ordem Superior. QUEM É ESSE SENHOR ORDEM SUPERIOR QUE ATROPELA O LIVRO SAGRADO (BÍBLIA), A CONSTITUIÇÃO DO PAÍS, DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS? Será que isto não é revoltoso?

 

5­ Degração das condições sociais. O dia –a­dia do cidadão comum está cada vez mais complicado. Para além dos produtos alimentícios cada vez mais caros, o projecto água para todos, por exemplo, está cada vez uma miragem para muitos luandinos e não só. Como não ter água pura em disposição é mesmo sinónimo de doenças, os hospitais tornam­-se centros de visitas sucessivas. Infelizmente, o cidadão encontra condições piores na maioria dos hospitais. Também estão sem água e corrente electrica, e o mais grave é que estão desprovidos de medicamentos. Por outro lado, o lixo, com os seus males conhecidos por todos, está cada vez mais a engolir Luanda. Isto é desagradável para todos!...

 

6­ Injustiça social. “A PAZ DOS HOMENS CONSEGUIDA SEM JUSTIÇA É ILUSÓRIA E EFMÉRA” –afirma o Papa Emérito Bento XVI na sua Exortação Apostólica Africae Munus. Num pais onde poucos têm muito e muitos têm pouco ou quase nada, é difícil falar de paz efectiva. Num país onde alguns sentem­-se abençoados e tornam­-se empresários de sucesso de dia para noite sem saberem explicar como começaram, só mesmo se a paz for efémera. Num país onde não havia dinheiro para se terminar as obras da cidade universitária pública, enquanto havia dinheiro para em quase 9 meses se construirem quatro estádios de futebol e albergar a CAN 2010, ajudar financeiramente países vizinhos em dificuldades, criar um fundo soberano, ter em seu executivo ministros sem pastas, deixar que funcionários de base desviem milhões de dólares do BNA, cobrir “kilapis” do BESA... enquanto centenas ou mesmo milhares de professores e enfermeiros esperam e até morrem sem reconversão, crianças morrem desamparadas nos hospitais, é muito difícil não haver revoltas!!

 

7­ Descrença nas eleições. Ouve-­se várias vezes que “QUEM QUISER ATINGIR O PODER AGUARDE AS ELEIÇÕES DE 2017”! Mas que eleições? Mas que poder? Em parte teriam muita razão se elas fossem organizadas com lisura e transparência. A maioria dos cidadãos já não acredita nas eleições porque têm sido ciclicamente fraudulentas e nem precisamos aplicar­nos ao fundo para encontrarmos provas. Como se entende, por exemplo, um eleitor que reside em Luanda, actualizou em Luanda, mas no dia do voto o nome dele sai num caderno eleitoral de Malanje? Além disso, só pelo facto de nos ser retirado deliberadamente o direito de uma informação imparcial nos órgãos de comunicação públicos onde todos somos contribuentes, contribui grandemente para a fraude eleitoral porque boa parte de cidadãos mantém­-se mal informada; só pelo facto de nos ser retirado deliberadamente o direito de acompanharmos em directo o que os deputados supostamente eleitos por nós fazem em prol ou contra o Estado, já indicia batota! Quanto ao poder, o povo não aspira poder algum. O que o povo quer é que no poder esteja alguém que respeite os cidadãos respondendo às suas necessidades básicas, tais como: água potável, luz eléctrica, educação e saúde de qualidade, liberdade, informação imparcial. Governantes que pelo menos finjam viver os problemas dos cidadãos. É que os nossos governantes nem se quer fingem que vivem os nossos problemas. Isso é realmente revoltoso!!

 

8­ Aumento da consciência crítica dos cidadãos. Felizmente, o povo despertou ou está em via disso. Até concidadãos que professam religiões que anteriormente achavam que falar de política não fazia parte deles, hoje, talvez devido à dita crise, começam a concordar com Aristóteles: O HOMEM É MESMO POR ESSÊNCIA UM ANIMAL POLÍTICO. Por outro lado, unanimemente começam a perceber que têm mesmo de deixar de ser analfabetos políticos, entendendo “QUE O PRATO DE ARROZ ENCIMA DAS SUAS MESAS É AFINAL UM FACTO POLÍTICO”. Tudo que é feito lá no topo afecta ­os cá na base!

 

9­ Aumento da intolerância política. Acompanha ­se vezes sem contas através da imprensa independemente relatos de espancamentos de cidadãos que muitas vezes terminam em homicídios quando estes pretendem organizar manifestações que não sejam do agrado do Partido Mor. Mesmo com actores identificados, os órgãos de justiça têm mostrado muita apatia na investigação dessas ocorrências. Se todos cidadãos são iguais perante a lei, porque então acontece esse desinteresse quando as vítimas são activistas cívicos ou pertencentes à outras filiações partidárias? Isto é realmente revoltoso!

 

Portanto, essas e outras causas podem levar a uma revolta popular. O que os governantes sábios e visionários deviam fazer é não deixar que esses factores se agudizem em vez de se perseguirem os descontentes porque a quantidade real destes é deveras infinita. Por outras palavras, os nossos governantes deviam antes questionar­ se O QUE LEVA REALMENTE OS CIDADÃOS AO DESCONTENTAMENTO; QUAIS SÃO AS CAUSAS DESTES DESCONTENTMENTOS? EM SEGUIDA RESOLVEREM O QUE ESTÁ NA BASE DISSO. Porque se esses factores continuarem a ser ignorados e acentuarem­-se, em minha opinião, não serão as intimidações, as prisões forçadas muitas vezes com provas forjadas, os assassinatos nem as sentenças encomendadas hão­ de parar uma revolta popular. Os testemunhas e actores da luta pela independência acho que ainda não se esqueceram disso!

 

BEM, SÓ ESQUERO QUE NÃO SEJA TIDO COMO INIMIGO DO ESTADO TAMBÉM POR ESTA MINHA OPINIÃO FRANCA.