Luanda - “O balanço é francamente negativo”, diz Nelson Pestana em entrevista à Lusa para assinalar os 40 anos da independência de Angola, porque “o acordo de independência tinha três componentes: uma componente política, uma componente social e uma componente psicológica”.

Fonte: Lusa

Para este investigador licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Angola e com um doutoramento em Ciência Política pela Universidade de Montepellier, Angola apenas fez a libertação política, e mesmo assim, pela metade”, porque “as outras foram abandonadas, e a libertação psicológica terá sido mesmo recuperada a favor do novo poder, criando novas sujeições psicológicas e recuperando instrumentos que a própria potência colonial utilizava”.


No capítulo da libertação política, Angola “teve direito a uma bandeira, a um hino, à soberania, éramos nós que decidíamos a partir dali, que fazíamos as nossas próprias leis, mas não passou disso… E era limitado a um partido político, que reivindicou, para si, a legitimidade única e exclusiva de todo um povo”, argumenta o investigador, que olha para as últimas quatro décadas como uma oportunidade perdida do ponto de vista do desenvolvimento social.

“Se a década de 70 foi perdida em função da própria independência e da guerra civil, a década de 80 perdeu-se pela opção de centralismo económico e a década de 90 perdemo-la pelo facto de um grupo se ter apropriado da riqueza e a ter tornado exclusiva desse grupo. É este o balanço que temos. E, neste momento, não há condições de crescimento económico para fazer outra coisa que não seja manter ou melhorar minimamente os níveis sociais que temos”, considera.

O balanço negativo faz-se também sentir nos indicadores, diz o investigador: “O país viveu 27 anos em guerra civil, até que os angolanos se puseram de acordo sobre os modelos político e económico de desenvolvimento, e entrámos num período de paz, que deveria ser de desenvolvimento, mas os números estão aí para mostrar que, apesar do crescimento económico que se verificou em Angola, não houve o correspondente desenvolvimento social”.