Benguela - Ponto prévio: “A cidadania é um exercício de consciência” C.A.

O 27 de Maio de 1977,foi um momento sangrento e negro no interior do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em particular e em geral do nosso passado colectivo, em que vários militantes desse movimento encabeçado por Nito Alves foram mortos, presos e torturados por alegadamente pretenderem derrubar o presidente Neto e os seus pares.

Fonte: Club-k.net

As versões e contradições desta data são infinitas, dados apontam que os “golpistas” desejavam a acabar o presidencialismo absoluto de Neto de forma pacífica e dentro das estruturas do movimento, trazendo átona “provas evidentes” de corrupção, má gestão dos recursos partidários e públicos dentre outros. Portanto, afirma-se “indiscutivelmente” que a intenção dos “beligerantes” era unicamente discutirem os problemas internos cara-a-cara.

 

Por outro lado, argumenta-se que era imperioso aos “netistas” defenderem-se com todo poderio e sangue dos opositores internos, por isso, usaram a arma da acusação de “golpe interno” a fim de legitimarem inúmeras actitudes rudes. Sejam quais foram os motivos da revolta interna, a história se encarregará um dia de o dizer.

 

O que é comum aceitar-se, é o número incontável de mortos, presos, torturados e de pessoas que nos dias de hoje vivem com os pesadelos do horror, principalmente, os que foram premiados (cargos públicos e político-partidário) pela sua prestimosa prestação no assassino de “inocentes”. E os mais grave ainda o desamparo de que são alvo os sobreviventes, órfãos, viúvos e viúvas desta página indelével da Angola independente.

Somente, um “estudo independente” poderá um dia aclarar o facto do mito, basta haver vontade política. Talvez, não para sacrificar os  autores no âmbito da reconciliação nacional e da paz pública mas sobretudo para que não venhamos a repetir. Por isso, o último discurso do camarada presidente José Eduardo dos Santos na 3ª reunião ordinário do Comité Central do seu partido, relativo ao 27 de Maio, “não se deve permitir que o povo angolano seja submetido a mais uma situação dramática como a que viveu em 27 de Maio de 1977, por causa de um golpe de Estado”.

 

É crucial e simultaneamente preocupante, porquanto é nitidamente uma ameaça interna. Ora, vejamos o 27 de Maio de 1977,foi uma revolta interna ou seja aconteceu dentro das células do MPLA, então o discurso de que não queremos repetir o 27 de Maio tem inevitavelmente um tom ameaçador aos militantes que pretendem assaltar o poder instituído estatutariamente.

 

A pergunta que não se quer calar, há presentemente no seio do seu partido “golpistas”? Se há, foi dado o recado, “CUIDADO”.

A comissão de inquérito criada por Neto tinha dos Santos como presidente e ao que se sabe o relatório foi inconclusivo. O que podemos entender que JES conheceu os meandros da suposta intentona. Logo, é uma pessoa com “autoridade moral” suficiente para abordar deste “fenómeno histórico”. Por isso, fica o recado seria bom que isso transpusesse os discursos, quiçá um exclusivo sobre o 27 de Maio de 1977.

O “arsenal de palavras” proferidas pelo camarada presidente foi para impor ordem na casa, quanto a polémica sobre sua substituição nos termos dos estatutos e não sucessão como amiúde ouvisse dizer, isto não é monarquia. Porquanto, ele estará para comandar a transição ao seu bel-prazer.

Domingos Chipilica Eduardo