Lisboa – No passado dia 20 de Junho, Manuel Nito Alves foi apanhado a ler o livro “da ditadura a democracia”. Logo a seguir, foi detido e acusado de pretender derrubar o Presidente José Eduardo dos Santos por via de um “golpe de Estado”. Porém, na cadeia onde se encontra, os agentes prisionais passaram a trata-lo por “O preso do Presidente”.

Fonte: Club-k.net

Nito Alves é agora o mais novo preso politico da história da “terceira república” em Angola. Já foi inúmeras vezes presos e torturado pelas autoridades angolanas. Ou seja, esta é a décima vez que é detido pela sua oposição ao regime.  

Em 2013, ficou internacionalmente conhecido por ter sido encarcerado e sem acesso a advogado por imprimir camisolas com os dizeres “32 é muito”. A Procuradoria do general João Maria de Sousa mandou prende-lo acusando-o de crime de ultraje ao Presidente da Republica. Nito Alves contava, 17 anos de idade.

Paralelamente, as autoridades teriam desistido de um plano que previa incrimina-lo, por crime de “falsa identidade”, porque suspeitavam que ele estaria a usar um nome que se julgava não ser seu. É que Nito Alves é também o nome de um lendário do MPLA, executado pelo partido no poder, na sequência da saga do 27 de Maio de 1977.

O regime chegou de despachar um grupo de elementos supostamente do aparelho de segurança, ao colégio Marusca, onde o menor estudava, a fim de solicitar o seu processo para confirmar os seus dados pessoais. A “segurança” confirmou que para além de ser um bom aluno, com medias de 16 valores, o seu nome de registo era mesmo Manuel Baptista Chivonde Nito Alves, o que não foi possível, dissimular uma condenação pela suposta “falsa identidade”.

Manuel Nito Alves, o “preso do presidente” nasceu no município do Kachiungo, província do Huambo. É filho de Adália Chivonde e de um ex-militar, Fernando Baptista que era admirador de Nito Alves do “27 de Maio” . Quando nasceu, aos 15 de Abril de 1996, o seu pai, Fernando Baptista registou-lhe como Manuel Baptista Chivonde Nito Alves, em homenagem ao lendário Alves Baptista “Nito Alves”, do partido no poder.

Quando a família mudou-se para Luanda, o pequeno Nito Alves evidenciou-se como ostentador de um pensamento próprio sobre os valores democráticos e liberdades de expressão. Criou no seu bairro, em Viana, um improvisado, jornal/mural de parede, que publicava recordes das principais manchetes de capa dos semanários angolanos com realce ao Folha-8. O mural de parede tornou-se muito concorrido no bairro, o que terá causado incomodo.

O seu activismo começou aos 15 anos de idade, quando no seguimento da primavera árabe, movimento que levou a queda de vários ditadores no norte de África, ele aderiu, ao grupo de jovens que contestavam o Presidente José Eduardo dos Santos pelas restrições as liberdades cívicas e outras argumentações por eles invocadas.  

Esteve em todas manifestações e desde então tem sido alvo de perseguição politica por parte do regime. Em Setembro de 2013, preparava-se para aderir a uma convocada manifestação dos jovens “revus”, mas não foi a tempo de participar, porque dias antes a PGR mandou prender-lhe, por ter encomendando impressões em camisolas com dizeres desfavoráveis ao Presidente José Eduardo dos Santos que seriam usadas na manifestação. O dono da loja denunciou-lhe e a PGR acusou-lhe de difamação ao Chefe de Estado.

Foi-lhe devolvida a liberdade, no seguimento de uma onda de contestação por parte da comunidade internacional e por populares que ameaçaram realizar manifestações pela sua soltura. Em, Portugal, um grupo de músicos realizou um espectáculo  exibindo um cartaz com o seu rosto voltado para plateia. 

Nito Alves continuou a sua luta pelo respeito as liberdades cívicas em Angola e ao mesmo tempo priorizando ao seus estudos. É aluno do primeiro ano de direito do Instituto São Francisco de Assis, em Luanda.

Em meados de Maio do corrente ano, esteve no Brasil para representar Angola no 14º. Colóquio Internacional de Direitos Humanos, organizado pela Conectas Direitos Humanos.

O activista angolano de 19 anos de idade debateu com mais de 50 jovens de 40 países a situação dos direitos humanos no mundo. A partir do Brasil havia declarado o seguinte sobre o seu tema:

"No meu relatório tenho os nomes de vários comandantes policiais como comandante São de Viana, Lito Chuva, da Investigação Criminal, o senhor Ngola Kilo da DPIC, comandante Noticia e Frank do Rangel que serão apresentados à Amnistia Internacional quando debatermos a situação dos direitos humanos”, explicou o activista, para quem aqueles comandantes cumprem ordens do Presidente José Eduardo dos Santos para impedirem manifestações anti-Governo, e de alguns generais como Kopelipa e Zé Maria, sem esquecer o general Filó que segundo ele “mandou matar Cassule e Kamulingue”